Iniciativas em prol da redução do consumo de água são sempre bem-vindas. Mas há campanhas que podem ser um verdadeiro tiro no pé quando as nuances do consumo são ignoradas.
Em março, a Ambev lançou no Rio de Janeiro o projeto Banco Cyan, em parceria com a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). As pessoas cadastram-se em um site e, conforme batem metas de redução de consumo de água, ganham pontos que podem ser usados como desconto em alguns sites de compras. A estimativa é que 10 milhões de pessoas em 65 municípios fluminenses possam participar da campanha.
A redução do consumo de água é uma ótima medida. O problema é que, para incentivar a redução de um lado, incentiva-se o consumo de outro. Ainda que muitos não saibam, tudo que compramos precisa de água para ser produzido ou transportado. Nesse caso, a chamada “água virtual”, como o termo é conhecido, nem sempre é contabilizada no cálculo da pegada ecológica de um bem. Assim, se compramos produtos que demandam muita água em seu ciclo de vida útil, a economia que fizemos em um banho mais curto vai, literalmente, ralo abaixo. Isso pode ser chamado “efeito ricochete” e já foi tema de nossa reportagem “Efeito Cilada”, na edição 55.
Questionado se a campanha não teria essa dubiedade, Ricardo Rolim, diretor de relações socioambientais da Ambev, afirma que o Banco Cyan não estimula o consumo . “O correntista ganha apenas um desconto, ou seja, ele já iria adquirir algo. O objetivo é conscientizar e engajar as pessoas em prol do uso racional da água, estimulando uma mudança de atitude e recompensando aqueles que conseguem diminuir o consumo desse recurso natural – finito e em risco. É uma espécie de programa de milhagens, mas que premia o não consumo”, diz. Rolim completa que, desde a criação, o banco já resultou na economia de mais de 82 milhões de litros de água em São Paulo e Minas Gerais, o suficiente para abastecer mais de 15 mil pessoas por um mês ou encher mais de 5.500 caminhões-pipa.