Rosana Pantoja de Moraes é ribeirinha. Mora com a família de oito irmãos na várzea do Rio Pará, perto de Curralinho, na Ilha de Marajó. Tem 30 anos e ainda não teve filhos. Na época da chuva, sua atividade é coletar açaí. Parte consome com a família; parte vende na cidade.
Quando estia, trabalha como pescadora artesanal. Em casa, vê televisão enquanto trança cestarias ou confecciona biojoias. E não é só isso: quando tem eventos públicos na cidade, Rosana sempre consegue um bico de cozinheira. Satisfeita com seu ritmo de vida, não quer outro trabalho. Tampouco vai se mudar para Belém. Está mais interessada em fazer cursos de aperfeiçoamento.
Rosana foi uma das entrevistadas pela Secretaria da Mulher do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), em uma pesquisa ainda inédita sobre o perfil da mulher extrativista na Amazônia. A entidade ouviu 46 associações em nove estados da Amazônia Legal, para descobrir quais são suas principais aspirações e dificuldades.
Segundo Cristina da Silva, organizadora da pesquisa, as associações de mulheres na Amazônia ainda estão dando os primeiros passos para se organizar como produtoras, pois faltam a elas informações e capacitação. “Sem contar as questões culturais que as impedem de uma maior autodeterminação”, afirma.
Linhas de financiamentos nunca chegam. Segundo os primeiros resultados da pesquisa, apenas 26% dos grupos entrevistados tiveram algum membro beneficiado. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) não atingiu nem 5% deles, enquanto o Pronaf Mulher não saiu de 0%. Os dados são preliminares: a CNS ainda pretende ter algumas conversas com lideranças para consolidar a pesquisa. O resultado definitivo deve sair até o fim do ano.