De um ponto de vista estratégico, o que é melhor para aqueles que promovem a sustentabilidade: ser otimista ou pessimista?
Em 2002, entrevistei um dos decanos da causa ambiental no país, o naturalista Paulo Nogueira-Neto, sobre suas expectativas às vésperas da Rio+10, conferência que a ONU organizou na África do Sul nos 10 anos da Cúpula da Terra. Ele se mostrou otimista e confiante na sobrevivência da biodiversidade, a despeito das manchetes sombrias que coalham o noticiário. “Se formos para Johannesburgo com uma expectativa excessivamente otimista, seremos ingênuos. Mas se não tivermos um mínimo de otimismo, não sairá nada de lá’, diz. Lembrei-me do doutor Paulo semanas atrás, quando entrevistei Robert Costanza, pioneiro da Economia Ecológica (entrevista que poderá ser lida na próxima edição da Página 22). Costanza, que é professor emérito de sustentabilidade da Portland State University, também se mostra otimista com a progressiva incorporação do capital natural na contabilidade de países e empresas e com o cenário geral do planeta. Quando perguntei se isso não era mero “wishful thinking” – a confiança em algo que se deseja que aconteça -, ele falou, em termos parecidos aos de Nogueira-Neto, que sem otimismo não se vai a parte alguma. Não por acaso, ele dirige uma (excelente) revista com foco no que pode dar certo, Solutions Journal, um veículo sem espaço para lamúrias.
A importância do otimismo é um dos temas de um livro recém-lançado nos Estados Unidos, “Abundance – The Future is Better than you Think” (Abundância, o futuro é melhor do que você pensa), de Peter Diamandis, médico, microbiologista e engenheiro espacial, com um pé em vários projetos hi-tech, e o jornalista Steven Kotler. Verdadeiro maná para quem precisa de um pouco de esperança, o livro afirma que a expansão tecnológica exponencial, associada aos massivos investimentos em inovação com foco social por parte dos novos donos do dinheiro (Google, Bill Gates), criará, nas próximas décadas, um mundo em que: “9 bilhões de pessoas terão acesso a água limpa, alimentação nutritiva, habitação a preços acessíveis, educação personalizada, atendimento médico de alto nível e energia não-poluente e onipresente”. Embora o entusiasmo dos autores seja às vezes excessivo, há que admitir que o livro é recheado de informação sólida e convincente.
Além da futurologia, sua discussão mais interessante é sobre as barreiras psicológicas que nos impediriam de visualizar um futuro promissor. O nosso foco excessivo em desgraças derivaria de um institinto de sobrevivência pré-histórico e hipertrofiado e de uma predisposição a esperar pelo pior. E esse estado de espírito seria uma das principais barreiras à inovação que conduziria à tal abundância ilimitada.
Qual a sua visão a respeito? O otimismo é mesmo um instrumento poderoso de transformação – ou é apenas o estado de espírito da gente pouco informada?[:en]
De um ponto de vista estratégico, o que é melhor para aqueles que promovem a sustentabilidade: ser otimista ou pessimista?
Em 2002, entrevistei um dos decanos da causa ambiental no país, o naturalista Paulo Nogueira-Neto, sobre suas expectativas às vésperas da Rio+10, conferência que a ONU organizou na África do Sul nos 10 anos da Cúpula da Terra. Ele se mostrou otimista e confiante na sobrevivência da biodiversidade, a despeito das manchetes sombrias que coalham o noticiário. “Se formos para Johannesburgo com uma expectativa excessivamente otimista, seremos ingênuos. Mas se não tivermos um mínimo de otimismo, não sairá nada de lá’, diz. Lembrei-me do doutor Paulo semanas atrás, quando entrevistei Robert Costanza, pioneiro da Economia Ecológica (entrevista que poderá ser lida na próxima edição da Página 22). Costanza, que é professor emérito de sustentabilidade da Portland State University, também se mostra otimista com a progressiva incorporação do capital natural na contabilidade de países e empresas e com o cenário geral do planeta. Quando perguntei se isso não era mero “wishful thinking” – a confiança em algo que se deseja que aconteça -, ele falou, em termos parecidos aos de Nogueira-Neto, que sem otimismo não se vai a parte alguma. Não por acaso, ele dirige uma (excelente) revista com foco no que pode dar certo, Solutions Journal, um veículo sem espaço para lamúrias.
A importância do otimismo é um dos temas de um livro recém-lançado nos Estados Unidos, “Abundance – The Future is Better than you Think” (Abundância, o futuro é melhor do que você pensa), de Peter Diamandis, médico, microbiologista e engenheiro espacial, com um pé em vários projetos hi-tech, e o jornalista Steven Kotler. Verdadeiro maná para quem precisa de um pouco de esperança, o livro afirma que a expansão tecnológica exponencial, associada aos massivos investimentos em inovação com foco social por parte dos novos donos do dinheiro (Google, Bill Gates), criará, nas próximas décadas, um mundo em que: “9 bilhões de pessoas terão acesso a água limpa, alimentação nutritiva, habitação a preços acessíveis, educação personalizada, atendimento médico de alto nível e energia não-poluente e onipresente”. Embora o entusiasmo dos autores seja às vezes excessivo, há que admitir que o livro é recheado de informação sólida e convincente.
Além da futurologia, sua discussão mais interessante é sobre as barreiras psicológicas que nos impediriam de visualizar um futuro promissor. O nosso foco excessivo em desgraças derivaria de um institinto de sobrevivência pré-histórico e hipertrofiado e de uma predisposição a esperar pelo pior. E esse estado de espírito seria uma das principais barreiras à inovação que conduziria à tal abundância ilimitada.
Qual a sua visão a respeito? O otimismo é mesmo um instrumento poderoso de transformação – ou é apenas o estado de espírito da gente pouco informada?