Entrevista com Luis Fernando Laranja da Fonseca
Há dez anos no mercado, a Ouro Verde Amazônia desfruta de um bom momento no mercado. Desde que se uniu ao Grupo Orsa em 2009, seu faturamento cresceu cinco vezes. Nascida em Mato Grosso, a empresa desenvolveu dois produtos inéditos no mundo à base de castanha-do-pará: um creme usado em massas e recheios e o azeite extra virgem, direcionado ao mercado gastronômico. Luis Fernando Laranja da Fonseca, diretor executivo e um dos fundadores da Ouro Verde, falou a Página22 sobre o desempenho da empresa.
A crise europeia afetou o mercado de produtos do extrativismo sustentável do Brasil?
Não. A demanda interna cresceu e compensou qualquer potencial redução de demanda do mercado europeu. Estamos vendendo toda a produção e haveria espaço para vender mais, caso tivéssemos produto disponível. Acreditamos que a classe C começou a comprar castanha, visto que a demanda nos supermercados aumentou bastante nos dois últimos anos. As estatísticas são precárias, porque é uma cadeia pequena, não há monitoramento sistemático, como há com o feijão. Mas, se não fosse esse cenário interno, a crise teria afetado nosso negócio.
Não fosse a recessão na Europa, o mercado externo seria mais atraente?
Hoje, a oportunidade de preço melhor está no Brasil. Por conta do câmbio, está difícil exportar. Além disso, o preço aqui está alto. O valor dos produtos no Brasil é o mesmo que o mercado europeu está disposto a pagar. Chegamos a vender à França, mas hoje comercializamos 100% internamente. O mesmo se dá com a cadeia do açaí. O mercado regional, no Norte, absorve 90% da produção e com preços mais elevados que no exterior, que compra cerca de 5% da produção.
Negócios sustentáveis como os da Ouro Verde sofrem menos impactos em tempos de crise?
Somos tão afetados quanto uma empresa tradicional, às vezes até mais. Em alguns casos, o efeito é até pior, porque o nosso custo de produção é superior e a consciência do consumidor é limitada pelo bolso. A disposição do consumidor em pagar um prêmio pelo produto orgânico ou sustentável diminui em tempos de crise. O mesmo se dá com o varejo.
A certificação é uma condição para competir atualmente?
Para nós é um pequeno diferencial, mas não é condição para competir. A certificação nos permite entrar em alguns nichos pequenos, mas, no geral, o mercado não paga prêmio por isso. O varejo não quer saber muito de certificação e alguns têm até preconceito, não querem negociar orgânicos, porque são mais caros. Tínhamos 100% da produção orgânica certificada, mas desde o ano passado começamos a oferecer também o produto convencional, justamente porque alguns clientes não queriam o orgânico, queriam preço. E isso só é possível oferecer se não tivermos o custo da certificação.
Qual é o caminho para os negócios sustentáveis sofrerem menos com as crises?
Não temos tomada de consciência suficiente para que o sujeito faça uma opção de consumo seletiva, o discurso e a prática ainda estão distantes. Então, acredito que a força de transformação está muito nos consumidores. Outro ponto é o efetivo envolvimento das grandes empresas na questão da sustentabilidade. O varejo precisa vender os produtos da Amazônia em condições mais razoáveis. Atualmente, o preço médio da castanha na gôndola é R$ 60 o quilo, mas o coletor recebe apenas R$ 20. Não é justo com uma atividade fundamental para manter a floresta em pé.