Em vez de focar apenas nos limites biofísicos do planeta – testados cada vez mais intensamente –, a comunidade científica deveria explorar as sinergias e trocas entre a humanidade e os sistemas que determinam nosso sucesso sobre o planeta. É o que defende um grupo de pesquisadores em um artigo no prelo sobre as “oportunidades planetárias” e a necessidade de um novo contrato social para que a ciência contribua para um futuro sustentável.
Os pesquisadores, liderados por Ruth DeFries, da Universidade de Columbia em Nova York, lembram que a lista de problemas que a humanidade enfrenta devido aos esforços para alimentar e abrigar uma população crescente é longa: mudanças climáticas globais, perda de biodiversidade, excesso de nutrientes em alguns locais e falta em outros, acidificação dos oceanos, depleção de água doce, entre outros.
Enquanto a maioria dos cientistas parece concordar com a avaliação de que a humanidade já teria ultrapassado alguns dos limites planetários e estaria próxima de outros, há quem argumente que a capacidade de inovação humana dará conta não só de continuar usando recursos. O grupo encabeçado por Ruth DeFries se coloca no meio caminho entre os dois extremos e defende que os cientistas podem contribuir para achar formas de suprir todas as necessidades humanas e, ao mesmo tempo, minimizar as consequências negativas para os sistemas biofísicos.
Para isso, dizem, é preciso que a ciência se disponha a ajudar os tomadores de decisão a enfrentar problemas globais que envolvem a interface entre sistemas humanos e biofísicos. Uma das formas de fazer isso é reconhecer que a análise científica é apenas parte de um conjunto maior de elementos – econômicos e políticos – que levam à tomada de decisão.
Nesse contexto, “a ciência é relevante se a escala da análise vai de encontro com a escala do processo de decisão’, escrevem. “Modelos globais e análises de tendências globais são pontos de partida necessários, mas insuficientes a não ser que venham acompanhados de pesquisa em escala mais refinada sobre necessidades locais e potenciais soluções”.
Os pesquisadores citam alguns espaços abertos para a pesquisa orientada pelas “oportunidades planetárias” e focada em soluções. Entre eles, o crescimento das cidades, uma vez que decisões de longo prazo sobre a infra-estrutura urbana estão sendo tomadas atualmente e o momento é propenso para contribuições da comunidade científica, por exemplo, sobre fluxos de água, energia, nutrientes e dejetos em ambientes urbanos.
Outra oportunidade é a formação de instituições para manejar paisagens de forma a sustentar, por exemplo, produtividade agrícola e biodiversidade – nesse caso, os pesquisadores citam como exemplo os resultados da moratória da soja na Amazônia. Os autores apontam ainda oportunidades para aumentar a produtividade e minimizar os impactos ambientais de uma incipiente Revolução Verde Africana, e a volta a tradicionais formas de reciclagem em sistemas agrícolas para lidar com o excesso de fósforo decorrente do uso de fertilizantes.
“A ênfase nos limites biofísicos globais às custas de um foco em soluções realistas é insuficiente, da mesma forma que o são as premissas de que as tecnologias podem sempre resolver problemas ambientais”, reforçam os autores. Para renovar seu contrato com a sociedade, eles defendem, a ciência sobre as mudanças globais precisa centrar-se menos na análise sobre os impactos negativos da humanidade nos sistemas planetários – orientada por fatores biofísicos e escala global – e considerar as necessidades de quem toma decisões, seja nas residências, seja em instituições internacionais.