Qual seria a pegada ecológica dos novíssimos alimentos sintéticos, como o recentemente noticiado bife de laboratório e os pratos produzidos via impressoras 3D?
A sustentabilidade da carne sintética – produzida a partir de células bovinas musculares e adiposas, multiplicadas em laboratório – já foi amplamente discutida e é bastante evidente. O sistema dispensa o uso de pastagens e grandes volumes de água e resolve o problema ético da crueldade contra animais. Também reduz o volume de metano emitido pela pecuária de corte.
E quanto à impressão de comida em 3D, que almeja tornar a indústria de alimentos obsoleta? Será que ela reduziria o desperdício, o uso de embalagens, o transporte de cargas?
Primeiro, entenda essa tecnologia que parece saída de quadrinhos do Flash Gordon: diversos designers e empresas estão desenvolvendo impressoras capazes de combinar porções líquidas ou pastosas de alimentos e temperos diversos. O equipamento, que pode ter uso doméstico ou comercial, promove uma manufatura aditiva. Ou seja, ao contrário do maquinário tradicional, que subtrai materiais, cortando e derretendo ingredientes (pense no microondas e no liquidificador), a impressora empilha e cola partículas para formar o produto final, seguindo as determinações do programador. Este pode pedir que a máquina mescle determinadas combinações para obter um sabor e um formato específicos. O Creative Machines Lab, da Universidade de Cornell, por exemplo, já produziu macarrão na forma de nave espacial e hambúrger com a borda recheada de catchup usando esse tipo de tecnologia. Alguns modelos em desenvolvimento também são capazes de resfriar ou cozinhar a refeição. É o caso da Cornucópia, desenvovida pelo MIT. Enfim, é uma máquina capaz de transformar qualquer um em Ferran Adriá, o chef catalão que reina no mundo da chamada Cozinha Molecular.
Para compreender melhor o princípio, veja este vídeo, que explica o funcionamento de um modelo doméstico de impressora 3D de alimentos que está sendo desenvolvido pela Phillips.
A impressão de comida parece oferecer possibilidades gastronômicas ilimitadas e é possível que ela tenha um impacto revolucionário sobre nossa dieta e sua pegada ecológica. Essa é, pelo menos, a aposta do chef Homaru Cantu, de Chicago, que testou o equipamento na confecção de sushis. “Imagine ser capaz de produzir, cozinhar e preparar alimentos sem os impactos industriais negativos, de fertilizantes a embalagens. A produção em cadeia de comida seria praticamente eliminada”, declarou a Andrew Purvis, que escreveu esta semana a respeito no site do diário britânico The Guardian. Além disso, Cantu acredita que americanos que nunca abririam mão da fast food topariam encarar um hambúrger impresso com vegetais e que imitasse a versão convencional de forma convincente. O entusiasmo do chef quanto às vantagens ambientais e nutricionais da impressão 3D parece não ter limites, mas o fato é que a sustentabilidade da comida sintetizada dependerá de muitas variáveis, como a procedência dos líquidos empregados e a forma como eles serão produzidos.
Os promotores da nova tecnologia parecem crer que ela estará disseminada em meia década. Se isso é verdade, qual será a cara da nova cozinha? Será que ela dispensará forno, microondas, batedeira e liquidificador, tigelas, formas e panelas? E a dispensa, terá ela 30 ou 40 grandes potes com pastas diversas a serem misturadas segundo o gosto do freguês? Será que o lixo será reduzido ao mínimo – embalagens tamanho-família dos ingredientes pastosos, mas nenhum resto de preparo, como cascas de cebola ou batata? Como isso tudo se imbrica na tendência de valorização da culinária local e das hortas comunitárias e domésticas? O tomate de fundo de quintal se perderá no caminho que leva à mesa?
Tudo isso é fascinante (e um tanto assustador).[:en]
Qual seria a pegada ecológica dos novíssimos alimentos sintéticos, como o recentemente noticiado bife de laboratório e os pratos produzidos via impressoras 3D?
A sustentabilidade da carne sintética – produzida a partir de células bovinas musculares e adiposas, multiplicadas em laboratório – já foi amplamente discutida e é bastante evidente. O sistema dispensa o uso de pastagens e grandes volumes de água e resolve o problema ético da crueldade contra animais. Também reduz o volume de metano emitido pela pecuária de corte.
E quanto à impressão de comida em 3D, que almeja tornar a indústria de alimentos obsoleta? Será que ela reduziria o desperdício, o uso de embalagens, o transporte de cargas?
Primeiro, entenda essa tecnologia que parece saída de quadrinhos do Flash Gordon: diversos designers e empresas estão desenvolvendo impressoras capazes de combinar porções líquidas ou pastosas de alimentos e temperos diversos. O equipamento, que pode ter uso doméstico ou comercial, promove uma manufatura aditiva. Ou seja, ao contrário do maquinário tradicional, que subtrai materiais, cortando e derretendo ingredientes (pense no microondas e no liquidificador), a impressora empilha e cola partículas para formar o produto final, seguindo as determinações do programador. Este pode pedir que a máquina mescle determinadas combinações para obter um sabor e um formato específicos. O Creative Machines Lab, da Universidade de Cornell, por exemplo, já produziu macarrão na forma de nave espacial e hambúrger com a borda recheada de catchup usando esse tipo de tecnologia. Alguns modelos em desenvolvimento também são capazes de resfriar ou cozinhar a refeição. É o caso da Cornucópia, desenvovida pelo MIT. Enfim, é uma máquina capaz de transformar qualquer um em Ferran Adriá, o chef catalão que reina no mundo da chamada Cozinha Molecular.
Para compreender melhor o princípio, veja este vídeo, que explica o funcionamento de um modelo doméstico de impressora 3D de alimentos que está sendo desenvolvido pela Phillips.
A impressão de comida parece oferecer possibilidades gastronômicas ilimitadas e é possível que ela tenha um impacto revolucionário sobre nossa dieta e sua pegada ecológica. Essa é, pelo menos, a aposta do chef Homaru Cantu, de Chicago, que testou o equipamento na confecção de sushis. “Imagine ser capaz de produzir, cozinhar e preparar alimentos sem os impactos industriais negativos, de fertilizantes a embalagens. A produção em cadeia de comida seria praticamente eliminada”, declarou a Andrew Purvis, que escreveu esta semana a respeito no site do diário britânico The Guardian. Além disso, Cantu acredita que americanos que nunca abririam mão da fast food topariam encarar um hambúrger impresso com vegetais e que imitasse a versão convencional de forma convincente. O entusiasmo do chef quanto às vantagens ambientais e nutricionais da impressão 3D parece não ter limites, mas o fato é que a sustentabilidade da comida sintetizada dependerá de muitas variáveis, como a procedência dos líquidos empregados e a forma como eles serão produzidos.
Os promotores da nova tecnologia parecem crer que ela estará disseminada em meia década. Se isso é verdade, qual será a cara da nova cozinha? Será que ela dispensará forno, microondas, batedeira e liquidificador, tigelas, formas e panelas? E a dispensa, terá ela 30 ou 40 grandes potes com pastas diversas a serem misturadas segundo o gosto do freguês? Será que o lixo será reduzido ao mínimo – embalagens tamanho-família dos ingredientes pastosos, mas nenhum resto de preparo, como cascas de cebola ou batata? Como isso tudo se imbrica na tendência de valorização da culinária local e das hortas comunitárias e domésticas? O tomate de fundo de quintal se perderá no caminho que leva à mesa?
Tudo isso é fascinante (e um tanto assustador).