Gorjetas são uma instituição praticamente obrigatória nos Estados Unidos. Nos cafés, por exemplo, existe sempre um jarro de vidro junto à caixa registradora para receber contribuições para o fundo dos funcionários. Frequentemente o jarro vem acompanhado de alguma gracinha, uma imagem ou mensagem simpática para estimular as doações. Pois bem: se essa imagem incluir um rosto, qualquer rosto, as gorjetas dobrarão de valor. A observação é do psicólogo Daniel Kahneman, que recebeu um Nobel por seus estudos sobre a forma como o inconsciente, a intuição e a memória influenciam nossas decisões. Numa entrevista recente à revista Der Spiegel, ele explica que “se um par de olhos estiver observando [os clientes], eles vão contribuir duas vezes mais do que se a imagem fosse de flores. As pessoas que se sentem observadas têm um comportamento moral mais elevado”.
Por extensã0, dá para depreender que a presença de um par de olhos atentos é essencial para manter governos e empresas na linha. A boa notícia é que nunca tantos olhos se voltaram para o monitoramento de possíveis impactos ambientais. Veja uns poucos exemplos registrados nos últimos dias:
- Peru – Violentos protestos na província de Espinar, na região de Cusco, contra os impactos ambientais, sobretudo a contaminação das águas, e desrespeito aos direitos humanos por parte da mineradora de cobre Xstrata. O governo federal decidiu suspender as liberdades civis na região por 30 dias após a morte de dois manifestantes, há uma semana.
- Índia – A polícia reprimiu violentamente protestos contra a operação da usina nuclear de Kudankulam, na fase final de contrução numa região com mais de 1 milhão de habitantes e dificuldades de evacuação.
- Irã – Protestos contra a instalação de barragens que estão reduzindo dramaticamente o volume das águas salgadas do Lago Urmia, Houve repressão intensa e as manifestações foram censuradas na imprensa.
- Bolívia – A construção de uma estrada de 360 quilômetros que atravessará um parque nacional e uma reserva indígena está sendo combatida há meses pela militância indígena e parte da população local. Eles também exigem a participação popular na tomada de decisões em projetos de infraestrutura de porte, como é o caso desta obra de integração nacional, que está a cargo da empreiteira brasileira OAS.
- Quirguistão – A estrada que leva a uma área de mineração de ouro explorada pela canadense Kumtor nesta república da Ásia Central está sendo bloqueada pela população local, que também ameaça cortar o suprimento de eletricidade caso a empresa não aceite discutir formas de reduzir seus impactos ambientais.
É difícil quantificar a evolução da militância ambiental global, mas o observador atento notará que histórias como esta estão cada vez mais presentes na mídia e na blogosfera. Já se foi o tempo em que essa turma mal lotava uma Kombi. Ótimo. Quanto mais olhos abertos tivermos, melhor.[:en]
Gorjetas são uma instituição praticamente obrigatória nos Estados Unidos. Nos cafés, por exemplo, existe sempre um jarro de vidro junto à caixa registradora para receber contribuições para o fundo dos funcionários. Frequentemente o jarro vem acompanhado de alguma gracinha, uma imagem ou mensagem simpática para estimular as doações. Pois bem: se essa imagem incluir um rosto, qualquer rosto, as gorjetas dobrarão de valor. A observação é do psicólogo Daniel Kahneman, que recebeu um Nobel por seus estudos sobre a forma como o inconsciente, a intuição e a memória influenciam nossas decisões. Numa entrevista recente à revista Der Spiegel, ele explica que “se um par de olhos estiver observando [os clientes], eles vão contribuir duas vezes mais do que se a imagem fosse de flores. As pessoas que se sentem observadas têm um comportamento moral mais elevado”.
Por extensã0, dá para depreender que a presença de um par de olhos atentos é essencial para manter governos e empresas na linha. A boa notícia é que nunca tantos olhos se voltaram para o monitoramento de possíveis impactos ambientais. Veja uns poucos exemplos registrados nos últimos dias:
- Peru – Violentos protestos na província de Espinar, na região de Cusco, contra os impactos ambientais, sobretudo a contaminação das águas, e desrespeito aos direitos humanos por parte da mineradora de cobre Xstrata. O governo federal decidiu suspender as liberdades civis na região por 30 dias após a morte de dois manifestantes, há uma semana.
- Índia – A polícia reprimiu violentamente protestos contra a operação da usina nuclear de Kudankulam, na fase final de contrução numa região com mais de 1 milhão de habitantes e dificuldades de evacuação.
- Irã – Protestos contra a instalação de barragens que estão reduzindo dramaticamente o volume das águas salgadas do Lago Urmia, Houve repressão intensa e as manifestações foram censuradas na imprensa.
- Bolívia – A construção de uma estrada de 360 quilômetros que atravessará um parque nacional e uma reserva indígena está sendo combatida há meses pela militância indígena e parte da população local. Eles também exigem a participação popular na tomada de decisões em projetos de infraestrutura de porte, como é o caso desta obra de integração nacional, que está a cargo da empreiteira brasileira OAS.
- Quirguistão – A estrada que leva a uma área de mineração de ouro explorada pela canadense Kumtor nesta república da Ásia Central está sendo bloqueada pela população local, que também ameaça cortar o suprimento de eletricidade caso a empresa não aceite discutir formas de reduzir seus impactos ambientais.
É difícil quantificar a evolução da militância ambiental global, mas o observador atento notará que histórias como esta estão cada vez mais presentes na mídia e na blogosfera. Já se foi o tempo em que essa turma mal lotava uma Kombi. Ótimo. Quanto mais olhos abertos tivermos, melhor.