A economia verde é tema central na Rio+20, mas será que os economistas estão maduros para essa discussão? Para Guilherme Leal, fundador da Natura e do Instituto Arapyaú, não: “A grande maioria dos economistas não está preparada e poucos se dispõem a esse debate”.
Buscando corrigir essa “falha de mercado”, Arapyaú, Funbio e Vitae Civilis organizaram nos últimos meses uma rodada de debates – os Diálogos Sustentáveis. O terceiro encontro está agendado em plena Rio+20, em 15 de junho, com a presença de Ricardo Abramovay, professor da FEA-USP, Tim Jackson, professor de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Surrey, autor do relatório Prosperity Without Growth e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, sócio fundador da Gávea Investimentos.
No encontro realizado em maio, vozes ligadas tanto à economia ecológica como à “clássica” debateram os instrumentos para a transição ao novo modelo: José Eli da Veiga, professor de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, Paulo Bastos Tigre, professor titular do Instituto de Economia da UFRJ, e Samuel Pessoa, chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV.
Um dos pontos altos foi a discussão sobre o papel do mercado, do Estado e dos indivíduos nessa transição. Ao entender a crise ambiental e social como uma falha de mercado, e não apostar muitas fichas na evolução ética individual, Pessoa defendeu que o Estado exerça o seu papel regulador. “Não acredito no indivíduo e o mercado em si não dá a solução”, disse.
Veiga rebateu que a busca da certificação socioambiental de produtos, em busca de competitividade no acesso a mercados, é uma mostra de que instrumentos de mercado que respondem a uma pressão da sociedade podem, sim, funcionar. E, para argumentar que há uma evolução ética em curso no campo ambiental, traçou um paralelo com o fim da escravidão. “Nunca vão conseguir provar que a escravidão foi combatida porque ficou mais barato não ter escravos – os tais princípios éticos tiveram dificuldade de chegar nos parlamentos, mas chegaram e foram decisivos.” Ao final, Leal concluiu: “Falhas de mercado não se resolvem só com bom mocismo, mas ainda assim as lideranças éticas são necessárias”.
Razões para o otimismo
Rio+20 não deve ser comparada com a Rio 92 nem com a Conferência do Clima em Copenhague, a COP 15. Mas sim com a Rio+10, realizada em 2002 em Johannesburgo, defende José Eli da Veiga, professor do IRI-USP. “Esta, sim, um tremendo retrocesso.” Segundo ele, foi quando “embutiram de contrabando” o triple bottom line (TBL) – o que serviu como brecha para não discutir meio ambiente como se deveria. Isso porque este passou a visto apenas como um dos três pilares, e não como o sistema maior em que o econômico se insere.
Com essa base de comparação, Veiga qualifica-se hoje como um “otimista cauteloso”. E enumera pelo menos quatro razões. A primeira, por conta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que podem ser definidos para 2015.
“Não porque serão implementados, mas porque vão provocar um debate mais focado que não havia desde 1992. “Nessa discussão, certamente aparecerá a questão econômica”, prevê.
A segunda, pela possibilidade de chamar a atenção de instituições como o Banco Mundial e o FMI para acelerar a suplantação do uso do PIB como principal métrica. A terceira, pela proposta de os países dobrarem a participação das fontes renováveis no mix energético. E a quarta, pela ênfase em uma pauta até então ignorada, mas importantíssima, que é a questão dos oceanos.