No dia 14 de junho, o grupo espanhol Movimiento 15M apresentou um processo na Justiça contra o Bankia, o banco pivô da crise que levou a Espanha a pedir bilhões em ajuda à União Europeia. O grupo, também conhecido como “indignados”, não se deteve por não possuir a verba necessária para custear o processo contra o Bankia. Optou pelo crowdfunding e em menos de 24 horas levantou o dinheiro necessário por meio do site Goteo.org.
“O Goteo é uma rede social para financiamento coletivo e colaboração distribuída que encoraja o desenvolvimento independente de iniciativas criativas e inovadoras que contribuem para o bem comum, o conhecimento livre e o código aberto”, descreve o site. Enquanto no Kickstarter, a mais famosa das plataformas de crowdfunding, a maioria dos projetos financiados tem fins lucrativos , no Goteo a ideia é apoiar projetos “com objetivos sociais, culturais, científicos, educacionais, tecnológicos ou ecológicos que gerem novas oportunidades para melhorar a sociedade e enriquecer bens e recursos da comunidade”.
“O Kickstarter e outras várias plataformas similares desenham o processo de crowdfunding de forma que facilmente as faz parecer com práticas de ‘crowd capitalism’ que consideramos problemáticas”, disseram Enric Senabre e Olivier Schulbaum, dois dos criadores do Goteo, em uma entrevista.
Eles citam um dos projetos mais proeminentes do Kickstarter, o TikTok, um relógio baseado no iPod Nano, como uma iniciativa que “simplesmente expande o modelo comercial”, levantando recursos para iniciar processos de produção global que chegam até a explorar a mão-de-obra. “Não queremos apoiar isso”, dizem.
O Goteo quer não explorar apenas o potencial financiador da multidão, mas também a capacidade dessa mesma multidão de gerar resultados sociais e outros benefícios para as comunidades. “Nossos projetos têm de ter uma conexão forte com o commons”, dizem Enric e Olivier.
No Goteo, os apoiadores de um projeto podem não só doar dinheiro, como colaborar para torná-lo realidade com tempo, energia e habilidades. “Todos que contribuem para um projeto deveriam se tornar parte do processo econômico/produtivo/criativo que ajudaram a melhorar, em vez de gerar conhecimento e recursos para interesses privados”, dizem Enric e Olivier. Eles citam o open software e o open hardware como “território fértil” para o modelo do Goteo, que junta o crowdfunding ao crowdsourcing.
O Goteo já completou 25 projetos, levantando 100 mil euros e 400 ofertas de colaboração, e outras duas dezenas estão em andamento. O processo contra o Bankia, na figura de seu ex-CEO e ex-presidente do FMI, Rodrigo Rato, levantou quase 20 mil euros em apenas 24 horas e chegou a causar problemas técnicos ao Goteo devido ao grande interesse em colaborar. Há poucos dias, a Suprema Corte espanhola aceitou o caso contra Rato e 32 outros gerentes do Bankia.