Desculpe se, ao dizer isso, melindrei os corações mais sensíveis, mas trata-se da mais pura verdade
Não é necessário ir muito longe para perceber que o planeta não está nem aí pra você. Coloque os pés fora de casa rumo àquele compromisso importantíssimo e verá que uma chuva repentina é capaz de pôr a perder qualquer pretensão de você chegar no horário marcado, com direito a congestionamento, roupa molhada e resfriado.
O mundo é insensível aos seus objetivos, ainda que pareçam nobres. Uma reunião de trabalho, o aniversário da mãe, um voo de volta para casa, uma noite de amor, nada passa impune ao mau tempo – nem a outros mandos e desmandos da natureza. Tudo pode ser cancelado e adiado ao bel-prazer das nuvens, do vento ou das placas tectônicas. Assim mesmo, nada democrático. Eles tampouco vão avisar para você remarcar a agenda com antecedência.
Quer saber outra? A Terra não é sua amiga. Esqueça essa história talvez contada por uma professora no Jardim de Infância – aquele saudoso paraíso de onde após os primeiros 12 anos ser expulso é inevitável, na maioria dos casos. A cobra não vai te oferecer uma maçã, pois faz tempo que maçãs não tiram a castidade de ninguém. Pode ser, porém, que a TV e a internet lhe apresentem um bom automóvel. E a Terra não costuma cultivar amizade com um sujeito que se junta a milhões de outros sujeitos para jogar gás carbônico em excesso na atmosfera. Ou você envia flores para o vizinho que lança lixo no seu quintal?
A Terra, nesse ponto, dá uma lição de humildade e paciência. É diferente. Apesar de modelos já esgotados de organização, consumo e produção, ela continua enviando flores, água potável, alimentos, céus estrelados em alguns cantos, um belo pôr do sol em outros, dias agradáveis e vida. Possivelmente, quer apontar o benefício de um mundo saudável, seduzindo-nos com praias maravilhosas, florestas ricas em biodiversidade e ar puro. Sabe-se lá por que razão.
O planeta, de outra maneira, poderia estar quieto, como se nada estivesse ocorrendo. Mas não. Embora não esteja nem aí pra você nem seja sua amiga, a Terra se manifesta descongelando uma geleira aqui, subindo a temperatura das cidades ali ou o nível dos oceanos acolá. Também incentiva desastres climáticos em várias regiões, sem se importar se atingiu ricos ou pobres.
É como quem diz. Experimente, então, não reciclar. Experimente não fazer uso mais racional dos recursos naturais. Continue entupindo as ruas de carros, sem dar preferência para o transporte coletivo e, quando possível, às bicicletas. Experimente não parar para pensar. Não planejar o crescimento. Desmate a Amazônia, depene a Mata Atlântica. Lance esgoto nos rios e mares. Consuma em excesso, produzindo seus bens sem qualquer preocupação com o equilíbrio ecológico. Você vai ver o que acontece. Quem avisa planeta é.
Se nada mudar, a Terra continuará o seu tradicional percurso que já faz há bilhões de anos, adaptando-se mais cedo ou mais tarde às consequências de tudo isso, até se recompor. A humanidade, por sua vez, depois de passar horas no engarrafamento, não conseguirá ver a luz no fim do túnel. A exemplo do que disse o economista Sérgio Besserman, chefe da comissão carioca na Rio+20: “Quando falamos em destruição do planeta, usamos o termo errado. O planeta encontrará meios de se recuperar, a longo prazo, como sempre fez. O problema está no futuro que nós, humanos, teremos se não agirmos logo”.
* Jornalista[:en]Desculpe se, ao dizer isso, melindrei os corações mais sensíveis, mas trata-se da mais pura verdade
Não é necessário ir muito longe para perceber que o planeta não está nem aí pra você. Coloque os pés fora de casa rumo àquele compromisso importantíssimo e verá que uma chuva repentina é capaz de pôr a perder qualquer pretensão de você chegar no horário marcado, com direito a congestionamento, roupa molhada e resfriado.
O mundo é insensível aos seus objetivos, ainda que pareçam nobres. Uma reunião de trabalho, o aniversário da mãe, um voo de volta para casa, uma noite de amor, nada passa impune ao mau tempo – nem a outros mandos e desmandos da natureza. Tudo pode ser cancelado e adiado ao bel-prazer das nuvens, do vento ou das placas tectônicas. Assim mesmo, nada democrático. Eles tampouco vão avisar para você remarcar a agenda com antecedência.
Quer saber outra? A Terra não é sua amiga. Esqueça essa história talvez contada por uma professora no Jardim de Infância – aquele saudoso paraíso de onde após os primeiros 12 anos ser expulso é inevitável, na maioria dos casos. A cobra não vai te oferecer uma maçã, pois faz tempo que maçãs não tiram a castidade de ninguém. Pode ser, porém, que a TV e a internet lhe apresentem um bom automóvel. E a Terra não costuma cultivar amizade com um sujeito que se junta a milhões de outros sujeitos para jogar gás carbônico em excesso na atmosfera. Ou você envia flores para o vizinho que lança lixo no seu quintal?
A Terra, nesse ponto, dá uma lição de humildade e paciência. É diferente. Apesar de modelos já esgotados de organização, consumo e produção, ela continua enviando flores, água potável, alimentos, céus estrelados em alguns cantos, um belo pôr do sol em outros, dias agradáveis e vida. Possivelmente, quer apontar o benefício de um mundo saudável, seduzindo-nos com praias maravilhosas, florestas ricas em biodiversidade e ar puro. Sabe-se lá por que razão.
O planeta, de outra maneira, poderia estar quieto, como se nada estivesse ocorrendo. Mas não. Embora não esteja nem aí pra você nem seja sua amiga, a Terra se manifesta descongelando uma geleira aqui, subindo a temperatura das cidades ali ou o nível dos oceanos acolá. Também incentiva desastres climáticos em várias regiões, sem se importar se atingiu ricos ou pobres.
É como quem diz. Experimente, então, não reciclar. Experimente não fazer uso mais racional dos recursos naturais. Continue entupindo as ruas de carros, sem dar preferência para o transporte coletivo e, quando possível, às bicicletas. Experimente não parar para pensar. Não planejar o crescimento. Desmate a Amazônia, depene a Mata Atlântica. Lance esgoto nos rios e mares. Consuma em excesso, produzindo seus bens sem qualquer preocupação com o equilíbrio ecológico. Você vai ver o que acontece. Quem avisa planeta é.
Se nada mudar, a Terra continuará o seu tradicional percurso que já faz há bilhões de anos, adaptando-se mais cedo ou mais tarde às consequências de tudo isso, até se recompor. A humanidade, por sua vez, depois de passar horas no engarrafamento, não conseguirá ver a luz no fim do túnel. A exemplo do que disse o economista Sérgio Besserman, chefe da comissão carioca na Rio+20: “Quando falamos em destruição do planeta, usamos o termo errado. O planeta encontrará meios de se recuperar, a longo prazo, como sempre fez. O problema está no futuro que nós, humanos, teremos se não agirmos logo”.
* Jornalista