O setor têxtil luta para reduzir a pegada e usar a diferenciação socioambiental na competição com os chineses
As primeiras tecelagens do Brasil surgiram há mais de 150 anos. De lá para cá, o setor cresceu, diversificou-se e tornou-se uma das indústrias intensivas em mão de obra – são 8 milhões de empregos diretos e indiretos. Ao longo de sua cadeia extensa e pulverizada, não faltam problemas: elevado consumo de água, dependência do petróleo para a produção de fibras sintéticas e geração de resíduos tóxicos, entre outros.
E, nos últimos cinco anos, também não têm faltado concorrentes externos, sobretudo roupas chinesas. Em 2011, o País importou US$ 6 bilhões em artigos têxteis, um terço oriundo da China. Foi um valor muito superior ao US$ 1,42 bilhão exportado pela indústria têxtil brasileira.
“Estamos tornando o nosso produto mais sustentável não só por consciência, mas também para diferenciá-lo do asiático, por meio da responsabilidade social e boas práticas ambientais”, diz Alfredo Bonduki, presidente do sindicado do setor no estado de São Paulo (Sinditêxtil-SP). Boa parte dos US$ 2 bilhões que o setor investe anualmente em suas indústrias é voltada a melhorias para reduzir a pegada ambiental da produção, como projetos de reúso de efluentes e compra de equipamentos mais eficientes no uso de água, gás e energia. Mas ninguém ainda fez a conta do desempenho do setor com essas medidas. Não há dados setoriais sobre o volume de emissões de gases de efeito estufa, tampouco sobre o tamanho da pegada hídrica, entre outras lacunas. “Existe consciência, mas pouca avaliação e premiação das boas práticas”, reconhece Bonduki.
Ciente dessa fragilidade, o setor tem dado alguns passos – ainda tímidos. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) lançou um selo de qualidade para atestar o nível de sustentabilidade e boas práticas das empresas. Organizado em três categorias, bronze, prata e ouro, o selo Qual avalia itens como a existência de planos de gestão ambiental, o controle e o monitoramento de impactos ambientais e a responsabilidade social. O roteiro de avaliação, com 46 questões, exige documentação comprovando as respostas, mas as questões não vão muito além das exigências legais.
O próprio Sinditêxtil-SP criou um prêmio de gestão ambiental, que este ano premiou a Tavex (resultante da fusão da Santista com a espanhola Tavex) por seu projeto de neutralização de resíduos industriais aproveitando o dióxido de carbono proveniente de suas caldeiras. Para implantar o sistema em três fábricas, a empresa investiu R$ 1 milhão em equipamentos e consultoria técnica, entre 2007 e 2008. O resultado é uma economia acumulada de R$ 2,5 milhões, desde 2007, com a eliminação do uso de ácido sulfúrico no tratamento dos efluentes e uma redução anual de 4,5% de emissões de CO2 das caldeiras.
Nas três plantas da Vicunha – que figura entre os principais fabricantes mundiais de índigo e brim –, a inovação está na substituição do diesel por casca de castanha de caju e bagaço de cana nas caldeiras, o que reduz em 10 mil toneladas de CO2 as emissões mensais do gás. Além disso, a Vicunha trata a água dos processos de tingimento para utilizar nos jardins e banheiros. O aproveitamento é de 70% da água, equivalente a 50 milhões de litros por mês. Para melhorar a performance no mercado exterior, além das certificações ISO 9001 e 14001, a empresa conseguiu em 2004 o selo Oeko-Tex, certificação europeia que atesta que o produto final é livre de substâncias químicas potencialmente prejudiciais à saúde humana.
“A certificação foi essencial para atender ao mercado internacional, cada vez mais exigente, e também para abrir novas oportunidades de negócios”, explica Milton Sakahara, gerente de qualidade da Vicunha. Apenas outras 13 empresas brasileiras possuem o selo, pouco conhecido por aqui, mas valorizado pelo mercado europeu.[:en]O setor têxtil luta para reduzir a pegada e usar a diferenciação socioambiental na competição com os chineses
As primeiras tecelagens do Brasil surgiram há mais de 150 anos. De lá para cá,
o setor cresceu, diversificou-se
e tornou-se uma das indústrias intensivas em mão de obra – são 8 milhões de empregos diretos
e indiretos. Ao longo de sua cadeia extensa e pulverizada, não faltam problemas: elevado consumo de água, dependência do petróleo para a produção de fibras sintéticas e geração de resíduos tóxicos, entre outros.
E, nos últimos cinco anos, também não têm faltado concorrentes externos, sobretudo roupas chinesas. Em 2011, o País importou US$ 6 bilhões em artigos têxteis, um terço oriundo da China. Foi um valor muito superior ao US$ 1,42 bilhão exportado pela indústria têxtil brasileira.
“Estamos tornando o nosso produto mais sustentável não só por consciência, mas também para diferenciá-lo do asiático, por meio da responsabilidade social e boas práticas ambientais”, diz Alfredo Bonduki, presidente do sindicado do setor no estado de São Paulo (Sinditêxtil-SP). Boa parte dos US$ 2 bilhões que o setor investe anualmente em suas indústrias é voltada a melhorias para reduzir a pegada ambiental da produção, como projetos de reúso de efluentes e compra de equipamentos mais eficientes no uso de água, gás e energia. Mas ninguém ainda fez a conta do desempenho do setor com essas medidas. Não há dados setoriais sobre o volume de emissões de gases de efeito estufa, tampouco sobre o tamanho da pegada hídrica, entre outras lacunas. “Existe consciência, mas pouca avaliação e premiação das boas práticas”, reconhece Bonduki.
Ciente dessa fragilidade, o setor tem dado alguns passos – ainda tímidos. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) lançou um selo de qualidade para atestar o nível de sustentabilidade e boas práticas das empresas. Organizado em três categorias, bronze, prata e ouro, o selo Qual avalia itens como a existência de planos de gestão ambiental, o controle e o monitoramento de impactos ambientais e a responsabilidade social. O roteiro de avaliação, com 46 questões, exige documentação comprovando as respostas, mas as questões não vão muito além das exigências legais.
O próprio Sinditêxtil-SP criou um prêmio de gestão ambiental, que este ano premiou a Tavex (resultante da fusão da Santista com a espanhola Tavex) por seu projeto de neutralização de resíduos industriais aproveitando o dióxido de carbono proveniente de suas caldeiras. Para implantar o sistema em três fábricas, a empresa investiu R$ 1 milhão em equipamentos e consultoria técnica, entre 2007 e 2008. O resultado é uma economia acumulada de R$ 2,5 milhões, desde 2007, com a eliminação do uso de ácido sulfúrico no tratamento dos efluentes e uma redução anual de 4,5% de emissões de CO2 das caldeiras.
Nas três plantas da Vicunha – que figura entre os principais fabricantes mundiais de índigo e brim –, a inovação está na substituição do diesel por casca de castanha de caju e bagaço de cana nas caldeiras, o que reduz em 10 mil toneladas de CO2 as emissões mensais do gás. Além disso, a Vicunha trata a água dos processos de tingimento para utilizar nos jardins e banheiros. O aproveitamento é de 70% da água, equivalente a 50 milhões de litros por mês. Para melhorar a performance no mercado exterior, além das certificações ISO 9001 e 14001, a empresa conseguiu em 2004 o selo Oeko-Tex, certificação europeia que atesta que o produto final é livre de substâncias químicas potencialmente prejudiciais à saúde humana.
“A certificação foi essencial para atender ao mercado internacional, cada vez mais exigente, e também para abrir novas oportunidades de negócios”, explica Milton Sakahara, gerente de qualidade da Vicunha. Apenas outras 13 empresas brasileiras possuem o selo, pouco conhecido por aqui, mas valorizado pelo mercado europeu.