Especialmente em ano de eleições municipais, os políticos eleitos podem – e devem – se inspirar na natureza na proposição de soluções simples e eficazes para os problemas urbanos. Foi o caso da prefeitura de Ubatuba (SP), que comprovou, em maio deste ano, por relatório de eficiência da Sabesp Litoral Norte, a melhoria de qualidade da água da ETE Bairro de Emaús.
As visitas técnicas do órgão que monitora o cumprimento da legislação para saneamento básico comprovam o ótimo funcionamento do sistema após 17 anos de manutenção, feita pelos próprios usuários – a eficiência de 90% no tratamento geral dos efluentes, chegou a 99,99% para retirada de coliformes fecais. A comunidade, implantada em 1990, penava com o esgoto à porta das primeiras casas.
Mas, com duas wetland construídas pela prefeitura desde 1994 para tratar esgoto e devolver água limpa ao rio, os cerca de 200 moradores usufruem da criação de peixes, e do adubo da composteira integrada para fertilizar árvores frutíferas e hortas. Ainda pouco disseminados no Brasil, as wetlands – termo usado para designar ecossistemas úmidos, que ficam parcial ou totalmente inundados durante o ano, como manguezais, várzeas, pântanos e igapós – inspiraram o cientista, que observou como a água é purificada pelos processos naturais.
Eneas Salati, engenheiro agrônomo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) especializado em Física e Meteorologia pela USP, foi o responsável pela implantação da engenharia natural a pedido da prefeitura de Ubatuba, e até hoje acompanha os resultados da iniciativa. A primeira tentativa de usar essa capacidade de modificar a qualidade hídrica foi feita em 1982 no município de Piracicaba (SP), com a construção de um lago artificial próximo ao Rio Piracicamirim. Ali, no intuito de aumentar a eficiência da limpeza de esgotos e diminuir os custos do sistema, o especialista desenvolveu tecnologias e patenteou o método, inspirado na natureza, que transforma águas poluídas em potáveis.
De lá para cá, outras prefeituras adotaram a técnica de tratamento de efluentes domésticos e de água para uso público e industrial, como Analândia, Cotia, Curitiba e São Paulo – este por meio da estação experimental do Parque Ecológico do Tietê.
O Ministério das Cidades estima em R$ 267,5 bilhões os custos para universalizar o saneamento básico no Brasil, sendo R$ 108,2 bilhões para tratar água e 159,3 bilhões para limpar esgoto. A coleta do esgoto atende apenas 53,5% da população urbana, do qual são tratados apenas 37,9%. Para a ONG Instituto Ambiental, de Petrópolis (RJ), imitar a natureza não precisa custar tanto: seus projetos nessa cidade comprovaram que tratar esgoto, limpar a água e gerar biogás, ao final do processo, custa 5 vezes menos do que construir estações convencionais.