Ricken Patel, diretor-executivo da Avaaz fala sobre o trabalho da maior organização de web ativismo no mundo . E comenta as críticas que a organização recebe
Acesse a página principal do site da Avaaz e você encontrará pelo menos 13 petições públicas às quais pode apoiar e assinar. A organização é hoje a mais influente plataforma de web ativismo no mundo. São 16 milhões de membros e 94 mil ações desde sua criação em janeiro de 2007. Atualmente, cada campanha passa de 1 milhão de assinaturas facilmente. Cada vitória da organização prova de que o chamado “ativismo de sofá” ou “ativismo de um clique” é capaz de obter grandes ganhos.
No Brasil, uma das campanhas de maior impacto foi a da Lei Ficha Limpa, conduzida em 2010 pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) . Originada em um projeto de iniciativa popular, tornou inelegível por 8 anos o candidato que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado em segunda instância. Só a ofensiva da Avaaz recolheu 800 mil assinaturas do total de 1,6 milhão de signatários a favor de aprovação da lei no Congresso Nacional.
A ações ciberativistas da organização, contudo, não é imune a críticas. Há quem diga que o ativismo na internet não é eficaz. Há, também quem acuse a ONG de enriquecimento ilícito e de monopólio de poder. O canadense Ricken Patel, diretor-executivo da Avaaz explica que a internet não é a principal forma de ação da instituição e que críticas são tratadas de forma. Leia abaixo a entrevista que Patel concedeu a Página22 via e-mail.
Com cinco anos de trabalho, quais as diferenças entre as ações do Avaaz do início com as de hoje? Os apoiadores têm o mesmo perfil?
Nossos números estão bem maiores. No começo, cada campanha era assinada por algo entre 20 e 30 mil pessoas. Agora nós alcançamos mais de 1 milhão regularmente! Isso torna o impacto de nossas ações muito mais efetivo.
Nossa comunidade faz mais doações, o que permite que as táticas de campanha, de mídia e tecnologias sejam cada vez mais sofisticadas. Hoje, temos advogados de alto nível e uma equipe bem estruturada.
O caráter e a demografia dos membros não mudaram desde o início da Avaaz. A comunidade continua a ser extremamente diversa – de todas as idades e países do mundo. São pessoas que compartilham um conjunto de valores e o desejo de acabar com a distância entre o mundo que temos e o que queremos. Isso vale para tudo: desde a corrupção e a pobreza até conflitos armados e temas ambientais.
Como você avalia o ativismo na internet hoje?
A internet é importante, mas é apenas uma ferramenta que nos ajuda a fazer de forma mais eficiente o que já fazemos há anos. O ativismo online é mais rápido e ágil, acelera o processo de construção de uma comunidade e atinge muitas pessoas e organizações. É um ativismo mais responsável porque se dissemina facilmente e permite que um amplo número de pessoas conheça as propostas e se engaje.
A Avaaz faz petições, campanhas publicitárias, os voluntários enviam e–mails e telefonam para os governantes, também fazem eventos e protestos nas ruas. Alguma dessas atividades é mais eficaz? Como escolher o que será a estratégia de uma causa?
Não existe um modelo de mesmice aqui. Somos vitoriosos por meio de estratégias inteligentes e táticas poderosas e isso varia muito de acordo com o objetivo da campanha. Em geral, petições são valiosas para mudar o rumo de algo em nível político. As ligações telefônicas são boas para chamar a atenção dos governantes e tomadores de decisões. Já os protestos e campanhas publicitárias são bons para chamar atenção da mídia.
O que é feito com as doações recebidas pela Avaaz? Por que não há informações sobre isso no site?
A Avaaz é mantida 100% por meio de doações de seus membros. Não aceitamos dinheiro de governos, empresas, fundações ou grandes doadores – o que é muito raro no mundo das ONGs. 85% da verba vai para os trabalhos de causas e 15% para infraestruturas vitais, como a nossa plataforma de tecnologia. Nós também doamos milhões a outras organizações de esforços humanitários. Nosso site tem mesmo uma falha em informação financeira.
Como vocês acompanham as causas depois que as campanhas se encerram?
Sempre nos certificamos de que as petições são de fato enviadas para o alvo certo. Em quase toda campanha trabalhamos com parceiros que podem ser indivíduos, ONGs, governos ou experts, como advogados, que acompanham a questão. Eles nos aconselham e explicam como podemos agir. Muitas vezes, ficamos segurando uma campanha por meses ou até anos para agir no momento certo e vencermos.
Existe um plano de metas? Como vocês monitoram o sucesso do trabalho?
Desenvolvemos estratégias e objetivos de longo prazo para campanhas e medimos o sucesso pelo impacto de cada uma. Todo mês temos vitórias para as quais demos contribuições valiosas, se não ou essenciais, mas não há um planejamento rígido porque para obter sucesso, é preciso ser flexível com o que a causa requer e escolher a melhor forma de ação.
No Brasil, a Avaaz foi criticada por ser uma ONG de “um dono só” que estaria enriquecendo com as doações. Segundo o blog O Defensor da Natureza, isso pode até ser conferido no site do departamento do Tesouro dos Estados Unidos (Department of the Treasure – Internal Revenue Service). Por que não há esse tipo de informação no site oficial?
Isso é uma informação completamente falsa. A Avaaz é uma organização sem fins lucrativos e tem um conselho de administração para gerenciar e supervisionar.
Em 2010, vocês fizeram no Brasil parte da campanha pela aprovação da Lei Ficha Limpa. O mesmo blog critica a posição da Avaaz, que teria se autointitulado a única responsável pela aprovação da lei no Congresso Nacional brasileiro, enquanto a mídia brasileira deu amplo destaque ao trabalho do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE).
No site da Avaaz há a seguinte informação: “No Brasil (com 730 mil membros) fizemos um movimento online com a sociedade civil e conseguimos a aprovação de uma lei anticorrupção no Congresso que irá impedir um grande número de políticos corruptos de trabalhar”. O autor do blog O Defensor da Natureza também critica a Avaaz por ter feito a petição apenas alguns dias antes da aprovação da lei. O que vocês têm a dizer?
Não há dúvida de que o movimento liderado pelo MCCE foi fundamental na aprovação pelo Congresso da Lei Ficha Limpa. Mas Avaaz desempenhou um papel fundamental na condução da mobilização online. Isso começou muitos meses antes da lei ser aprovada e reuniu o impulso político de 800.000 pessoas que se juntaram à causa, que fizeram dezenas de milhares de chamadas telefônicas para o Congresso – inclusive, houve muitas mobilizações rápidas todas as vezes que a Lei foi ameaçada de não ser aprovada ou de ser adiada. Atores centrais em nossa campanha, como Marlon Reis e Jovita Rosa – afirmam que a Avaaz desempenhou um papel fundamental. Até estudos acadêmicos sobre a vitória Limpa Ficha confirmam nossa contribuição.
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Entrevista de com a brasileira Graziela Tanaka, que coordena campanhas da Avaaz pelo mundo inteiro