Cientistas indianos revelaram esta semana que o Ganges, rio mais sagrado do mundo, venerado na forma da deusa Ganga e cenário de toda sorte de rituais de purificação do Hinduismo, é responsável por um aumento significativo no número de casos de câncer registrados ao longo de seus 2.500 quilômetros, do Himalaia ao Golfo de Bengala, em Bangladesh.
Às margens do Ganges vivem 400 milhões de pessoas, mais que o dobro da população do Brasil. Esta multidão usa as águas do rio para matar a sede, irrigar campos, dispersar as cinzas de seus mortos, diluir esgotos. Não é novidade de que a bacia apresenta grande concentração de coliformes fecais, que levam a altos índices de desinteria e outras doenças do trato intestinal, cólera, hepatite A e febre tifóide. Agora, revela-se, a população da região tem os maiores índices de câncer de bexiga, vesícula biliar, rins, sistema digestivo, próstata, fígado e pele do país. A incidência de câncer de vesícula, particularmente, estão entre as mais altos do mundo.
Segundo o diário The Times of India, o National Cancer Registry Programme, programa que monitora ocorrências oncológicas, divulgou que, de cada 10 mil pessoas pesquisadas na região, 450 homens e 1.000 mulheres têm câncer de vesícula biliar, um tipo de tumor relativamente raro em outras partes do mundo (mas eu suspeito que estes números foram superdimensionados pelo maior jornal em língua inglesa do mundo; a reportagem parece ter problemas de apuração) . As estatísticas seriam ainda mais sombrias em algumas cidades, como Varanasi e Vaishali. “Isto é uma consequência de anos de abuso. Ao longo do tempo, as indústrias às margens do rio têm despejado efluentes danosos de uma forma arbitrária e pouco científica”, avaliou Jaideep Biswas, diretor do Chittaranjan National Cancer Institute, após a divulgação.
As mazelas do Ganges são muitas. Ele recebe diariamente mais de 2,9 bilhões de litros de esgotos, a maior parte in natura, já que as estações de tratamento só dão conta de 1.1 bilhão de litros por dia. Além disso, às suas margens há milhares de curtumes, indústrias químicas, abatedores e outros projetos que despejam grandes volumes de efluentes no rio, conferindo-lhe uma alta concentração de matéria orgânica e metais pesados. O Ganges também é palco de importantes festivais religiosos anuais, em que dezenas de milhões de pessoas se banham no rio, deixando para trás todo tipo de resíduo.
A concentração de poluentes do Ganges poderá aumentar ainda mais se, como previsto, o aquecimento global reduzir as dimensões da geleira dos Himalaias que dá origem ao rio e que é responsável por 70% de suas águas durante o verão, a estação seca. Outro problema: a elevação do nível do Golfo de Bengala, no Oceano Índico está empurrando água salgada para dentro da bacia, o que poderá causar transtornos sérios para os agricultores e as estações de tratamento de água.
A morte do Ganges representaria não apenas o fim do sustento de uma comunidade gigantesca, mas também do Hinduísmo como hoje o conhecemos.
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Cientistas indianos revelaram esta semana que o Ganges, rio mais sagrado do mundo, venerado na forma da deusa Ganga e cenário de toda sorte de rituais de purificação do Hinduismo, é responsável por um aumento significativo no número de casos de câncer registrados ao longo de seus 2.500 quilômetros, do Himalaia ao Golfo de Bengala, em Bangladesh.
Às margens do Ganges vivem 400 milhões de pessoas, mais que o dobro da população do Brasil. Esta multidão usa as águas do rio para matar a sede, irrigar campos, dispersar as cinzas de seus mortos, diluir esgotos. Não é novidade de que a bacia apresenta grande concentração de coliformes fecais, que levam a altos índices de desinteria e outras doenças do trato intestinal, cólera, hepatite A e febre tifóide. Agora, revela-se, a população da região tem os maiores índices de câncer de bexiga, vesícula biliar, rins, sistema digestivo, próstata, fígado e pele do país. A incidência de câncer de vesícula, particularmente, estão entre as mais altos do mundo.
Segundo o diário The Times of India, o National Cancer Registry Programme, programa que monitora ocorrências oncológicas, divulgou que, de cada 10 mil pessoas pesquisadas na região, 450 homens e 1.000 mulheres têm câncer de vesícula biliar, um tipo de tumor relativamente raro em outras partes do mundo (mas eu suspeito que estes números foram superdimensionados pelo maior jornal em língua inglesa do mundo; a reportagem parece ter problemas de apuração) . As estatísticas seriam ainda mais sombrias em algumas cidades, como Varanasi e Vaishali. “Isto é uma consequência de anos de abuso. Ao longo do tempo, as indústrias às margens do rio têm despejado efluentes danosos de uma forma arbitrária e pouco científica”, avaliou Jaideep Biswas, diretor do Chittaranjan National Cancer Institute, após a divulgação.
As mazelas do Ganges são muitas. Ele recebe diariamente mais de 2,9 bilhões de litros de esgotos, a maior parte in natura, já que as estações de tratamento só dão conta de 1.1 bilhão de litros por dia. Além disso, às suas margens há milhares de curtumes, indústrias químicas, abatedores e outros projetos que despejam grandes volumes de efluentes no rio, conferindo-lhe uma alta concentração de matéria orgânica e metais pesados. O Ganges também é palco de importantes festivais religiosos anuais, em que dezenas de milhões de pessoas se banham no rio, deixando para trás todo tipo de resíduo.
A concentração de poluentes do Ganges poderá aumentar ainda mais se, como previsto, o aquecimento global reduzir as dimensões da geleira dos Himalaias que dá origem ao rio e que é responsável por 70% de suas águas durante o verão, a estação seca. Outro problema: a elevação do nível do Golfo de Bengala, no Oceano Índico está empurrando água salgada para dentro da bacia, o que poderá causar transtornos sérios para os agricultores e as estações de tratamento de água.
A morte do Ganges representaria não apenas o fim do sustento de uma comunidade gigantesca, mas também do Hinduísmo como hoje o conhecemos.