A eleição presidencial norte-americana, encerrada ontem, talvez seja lembrada como o primeiro pleito influenciado pelas mudanças climáticas. O furacão que espalhou o caos em parte da Costa Leste dos Estados Unidos e que inviabilizou o ceticismo quanto à mudanças climáticas (veja Os legados de Sandy, post recente da Flávia) também ajudou a consolidar a reeleição de Barack Obama.
O índice de intenção de voto no democrata, que tinha sofrido uma queda depois do primeiro debate entre os candidatos, em que Obama teve desempenho desanimado, cresceu expressivamente nos dias posteriores à passagem do furacão. Coincidência? Não. O apoio das comunidades afetadas e seus líderes foi decisivo para garantir a vitória apertada do presidente americano, numa disputa em que cada voto contou. O governador republicano do estado de New Jersey, Chris Christie, fez elogios efusivos a Obama por sua rapidez em responder à crise (em contraste com a morosidade e o desinteresse do seu antecessor, George W. Bush, durante a passagem do furacão Katrina, que destruiu New Orleans em 2005). O influente prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, que já foi democrata e republicano e agora é independente, não tinha candidato favorito até a chegada do furacão, mas declarou seu apoio a Obama, impressionado pela prontidão em ajudar do presidente.
Vale lembrar também que Obama declarou sua disposição de lutar contra o aquecimento global e pelo desenvolvimento de energias alternativas desde os seus primeiros dias à frente do governo dos Estados Unidos (vide meu artigo de 2008 Obama, o quase-ambientalista). Em contraste, o candidato do Partido Republicano costuma fazer chacota do tema. O vídeo ao lado, gravado durante a campanha de Mitt Romney, diz tudo. Nele, ele faz piada, dizendo que “o presidente Obama prometeu começar a desacelerar a elevação dos oceanos e cuidar do planeta” [muitos risos da platéia]. “A minha promessa é ajudar você e a sua família” [chuva de aplausos]. É a velha visão de mundo dos rincões do Texas ou de Massachusetts, estado que Romney governou. Esse vídeo circulou adoidado na web nos dias pós-Sandy. Não deve ter agradado aqueles que enfrentaram apagões, inundações, incêndios, desabamentos e filas quilométricas para comprar gasolina.
Se não bastasse, Romney deu outro presente de bandeja para seus opositores: durante o começo da campanha presidencial, fez declarações de que pretendia reduzir muito os fundos destinados à FEMA, o órgão federal responsável por ações emergenciais, como enchentes e furacões. As operações de socorro ficariam, então, a cargo dos governos estaduais, com recursos bem mais minguados. Difícil não lembrar de Bush e o vexame do furacão Katrina e antever desastres semelhantes.
Nate Silver, principal analista de tendências eleitorais do jornal The New York Times, fez uma avaliação dias antes do pleito em que admite que a campanha de Obama pode ter ganhado fôlego graças ao furacão, embora este não pudesse, nem de longe, carregar sozinho a responsabilidade por esta tendência. Quando os números desta eleição forem consolidados e os analistas mapearem vitórias democráticas em rincões da Costa Leste que sempre votaram nos republicanos, a dúvida poderá ser desfeita – e eu aposto minhas fichas na confirmação do impacto de Sandy e de uma atmosfera excessivamente carregada de carbono no destino político dos Estados Unidos.[:en]
A eleição presidencial norte-americana, encerrada ontem, talvez seja lembrada como o primeiro pleito influenciado pelas mudanças climáticas. O furacão que espalhou o caos em parte da Costa Leste dos Estados Unidos e que inviabilizou o ceticismo quanto à mudanças climáticas (veja Os legados de Sandy, post recente da Flávia) também ajudou a consolidar a reeleição de Barack Obama.
O índice de intenção de voto no democrata, que tinha sofrido uma queda depois do primeiro debate entre os candidatos, em que Obama teve desempenho desanimado, cresceu expressivamente nos dias posteriores à passagem do furacão. Coincidência? Não. O apoio das comunidades afetadas e seus líderes foi decisivo para garantir a vitória apertada do presidente americano, numa disputa em que cada voto contou. O governador republicano do estado de New Jersey, Chris Christie, fez elogios efusivos a Obama por sua rapidez em responder à crise (em contraste com a morosidade e o desinteresse do seu antecessor, George W. Bush, durante a passagem do furacão Katrina, que destruiu New Orleans em 2005). O influente prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, que já foi democrata e republicano e agora é independente, não tinha candidato favorito até a chegada do furacão, mas declarou seu apoio a Obama, impressionado pela prontidão em ajudar do presidente.
Vale lembrar também que Obama declarou sua disposição de lutar contra o aquecimento global e pelo desenvolvimento de energias alternativas desde os seus primeiros dias à frente do governo dos Estados Unidos (vide meu artigo de 2008 Obama, o quase-ambientalista). Em contraste, o candidato do Partido Republicano costuma fazer chacota do tema. O vídeo ao lado, gravado durante a campanha de Mitt Romney, diz tudo. Nele, ele faz piada, dizendo que “o presidente Obama prometeu começar a desacelerar a elevação dos oceanos e cuidar do planeta” [muitos risos da platéia]. “A minha promessa é ajudar você e a sua família” [chuva de aplausos]. É a velha visão de mundo dos rincões do Texas ou de Massachusetts, estado que Romney governou. Esse vídeo circulou adoidado na web nos dias pós-Sandy. Não deve ter agradado aqueles que enfrentaram apagões, inundações, incêndios, desabamentos e filas quilométricas para comprar gasolina.
Se não bastasse, Romney deu outro presente de bandeja para seus opositores: durante o começo da campanha presidencial, fez declarações de que pretendia reduzir muito os fundos destinados à FEMA, o órgão federal responsável por ações emergenciais, como enchentes e furacões. As operações de socorro ficariam, então, a cargo dos governos estaduais, com recursos bem mais minguados. Difícil não lembrar de Bush e o vexame do furacão Katrina e antever desastres semelhantes.
Nate Silver, principal analista de tendências eleitorais do jornal The New York Times, fez uma avaliação dias antes do pleito em que admite que a campanha de Obama pode ter ganhado fôlego graças ao furacão, embora este não pudesse, nem de longe, carregar sozinho a responsabilidade por esta tendência. Quando os números desta eleição forem consolidados e os analistas mapearem vitórias democráticas em rincões da Costa Leste que sempre votaram nos republicanos, a dúvida poderá ser desfeita – e eu aposto minhas fichas na confirmação do impacto de Sandy e de uma atmosfera excessivamente carregada de carbono no destino político dos Estados Unidos.