Pela primeira vez, a hidrelétrica vai descartar o lixo eletrônico acumulado por três décadas em suas dependências
Em novembro de 1982, inaugurava-se no Brasil a usina hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu, Paraná. O País passava a contar com uma nova fonte de energia elétrica. Durante esses 30 anos, enquanto a usina e seus escritórios funcionavam a todo vapor, máquinas e aparelhos eletrônicos ficaram velhos ou quebraram e foram substituídos – como em qualquer empresa normal. Mas, acredite, nenhum deles foi jogado fora.
Aquela época era o início da popularização e barateamento dos computadores e telefones, entre outros objetos. Era fácil usá-los, mas difícil descartá-los da forma correta. Não havia informação do que fazer com o lixo eletrônico. Nem havia empresas que fizessem a coleta e destinação final. Assim, 63 toneladas de materiais ficaram armazenadas em um almoxarifado de Itaipu.
Atualmente, já existe um mercado com interesse em comprar lixo eletrônico para usar parte das peças em novos aparelhos e empresas que o coletam e selecionam. Uma delas é a Krefta Tecnologia em Serviços, que ganhou a licitação de Itaipu para transportar toda a sucata até uma destinação adequada e separar o que contém componentes contaminantes como chumbo e silício.
A empresa receberá R$ 9.450 pelo trabalho. É menos do que se estimava. Um estudo feito pela usina de Itaipu apontou que o preço de mercado do lixo eletrônico é de 0,80 centavos de real o quilo. Mas com a disputa no pregão, o valor saiu por 0,15 centavos.
“Agora, pudemos optar pelo descarte porque já existem empresas no mercado que garantem o uso ecológico desses insumos, mas isso é um fato recente”, afirmou José Diniz Goulart Borges, gerente da Divisão de Almoxarifado de Itaipu.
Nestas toneladas de objetos estão 1.177 teclados de computador, 1.004 monitores, 597 impressoras, telefones, máquinas de escrever, radiocomunicadores e televisores antigos. Tudo agora voltará ao ciclo produtivo como matéria-prima. Entre tanta sucata, há até objetos que marcaram uma época o início da era informática, como um IBM Personal Computer XT, de 1983. Esse foi um dos primeiros computadores pessoais a ser popularizados. Um “xistêssauro” nas palavras de Borges.
LIXO NACIONAL
A licitação de Itaipu segue os princípios da logística reversa e prepara a empresa para se adequar às normas estabelecidas pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). “Num futuro muito próximo, os fornecedores serão responsáveis pela coleta desses materiais”, disse Fabrício Rocha, da Divisão de Almoxarifado da Itaipu, sobre o descarte adequado e a responsabilização das indústrias pelos seus produtos no pós-consumo.
O setor de fabricantes de eletroeletrônicos, no entanto, parece longe do consenso sobre como se adequar ao PNRS, como mostra a reportagem “Destino Incerto”.
Também não está muito claro para onde todo o lixo eletrônico produzido no Brasil vai parar. Na Região Sudeste, maior mercado consumidor de eletroeletrônicos, existem apenas 32 recicladores legalizados. A Região Norte, embora com apenas 5% do mercado, possui sete capitais espalhadas em uma extensão territorial que é quase meio Brasil e nenhuma indústria recicladora de eletroeletrônicos.
Ações como a de Itaipu são um bom sinal de que o setor empresarial está mais preocupado com o (muito) lixo que produz. O interesse e a existência de companhias como a Krefta apontam o potencial de um mercado pouco explorado. Mas ainda há muito que se fazer para que todas as empresas e cidadãos brasileiros possam fazer uma faxina geral que não resulte em lixo que não tem para onde ir.