Cerca de 22 mil cientistas congregaram em São Francisco nos últimos cinco dias para a reunião da American Geophysical Union, associação que representa os pesquisadores das ciências da Terra e do espaço. Uma enorme quantidade de resultados científicos foi comunicada nesse curto período de tempo e as chances são que você vai ouvir falar sobre poucos ou nenhum deles. Mas um conjunto de imagens que consolida o consenso da comunidade científica em torno das mudanças climáticas em breve estará disponível em um cinema perto de você. E, esperam os cientistas, vai fazer toda a diferença.
Chasing Ice, exibido no inicio da conferência em São Francisco, acaba de entrar em circuito comercial e de receber uma indicação ao Oscar de melhor documentário. Trata-se de um registro dos esforços de James Balog, que abandonou uma incipiente carreira científica para se tornar fotógrafo, e, nos últimos anos, dedicou-se exclusivamente à missão de registrar o recuo das geleiras no Alaska, Groenlândia e Islândia.
Ele criou o projeto Extreme Ice Survey e, graças a diversas fontes financiadoras, instalou 34 câmeras fotográficas em 16 locais estratégicos para registrar, todos os dias, várias vezes ao dia, o estado das geleiras. Ao fim de cinco anos, Balog tinha um time-lapse impressionante – a memória do processo de recuo das geleiras. Agora que as imagens foram produzidas – e elas são chocantes –, não se pode mais negar. O clima do planeta está mudando com uma rapidez insuspeitada.
Estamos em meio a mudança de época geológica, causada pelos seres humanos, lembrou Balog em uma sessão de perguntas e respostas em São Francisco, em que estava acompanhado de Jason Box, da Ohio State University, e Tad Pfeiffer, da University of Colorado em Boulder, ambos participantes da Extreme Ice Survey.
Vale a pena ver Chasing Ice, especialmente se você se dedica a comunicar a urgente questão do clima. Nesse quesito, o filme é excelente. Não só porque prova, irrevocavelmente, que as mudanças climáticas são fato e não uma opinião ou crença, como querem os chamados “céticos”. Mas também porque o faz por meio de uma história humana, mostrando a jornada de James para produzir as fotos que registram o dramático recuo do gelo: ele abre mão de tempo com a família, enfrenta as terríveis condições de tempo para instalar as câmeras, que a princípio não funcionam bem, e se submete a uma cirurgia no joelho para continuar indo a campo em alguns dos lugares mais inóspitos do mundo.
Talvez mais importante, Balog informa no início do filme que, apesar de sua formação científica, costumava duvidar da ideia de que o clima do planeta pudesse ser influenciado por nós, humanos. Depois de ver em campo o que está acontecendo, não só se convenceu de que a mudança é real – e extremamente ràpida – mas que precisa ser comunicada urgentemente ao grande público.
Balog e os milhares de cientistas que estudam o clima e outros aspectos de nosso planeta esperam que o filme cumpra a missão de, com imagens, dizer tudo. Depois de décadas de relutância em engajar-se na disputa politica pela ação para mitigar e iniciar a adaptação às mudanças do clima, os cientistas parecem prontos para a briga. A reunião da American Geophysical Union em São Francisco foi pontuada por sessões sobre como comunicar melhor a ciência que a comunidade produz, como aproveitar ao máximo o recursos tecnológicos e as novas midias, como não se deixar abater pelos “trolls” que querem confundir o debate.
“Temos que competir com base no fato de que temos a verdade do nosso lado, nãvo com base no fato de que usamos o chapeu de autoridade”, aconselhou Michael Tobis, pesquisador da Universidade do Texas, e curador do site Planet 3.0.
Munidos de imagens, ou de mil palavras, que venham os cientistas.