Chimpanzés, nossos primos mais próximos, com quem compartilhamos 99% de nossa carga genética, são usados em experiências científicas em apenas dois países, os Estados Unidos e em uma de suas nações de origem, o Gabão. A União Européia baniu a prática em 2010 e o Senado americano está nas etapas finais de negociação para que estes primatas deixem de ser usados nos laboratórios dos EUA.
A decisão parece fácil – a reclusão e os repetidos procedimentos testados, inclusive a injeção de novos compostos e cirurgias, são absolutamente penosos. Mas a interrupção desses experimentos, uma decisão ética e humana, pode atrasar algumas pesquisas médicas importantes que ainda não encontram uma cobaia alternativa à altura dos chimpanzés em termos de proximidade genética com os humanos.
Historicamente, os chipanzés foram empregados em toda sorte de experimento, da exploração espacial à busca de vacina e tratamento para a Aids, a poliomielite e o mal de Parkinson. Em 2000, 1.600 chimpanzés estavam participando de testes clínicos e outras pesquisas médicas nos Estados Unidos. Na época o governo americano lançou um programa para oferecer aposentadoria aos animais com longa folha de serviços prestados à Ciência. Chimpanzés idosos começaram a ser enviados para três santuários onde podem viver em liberdade. E, desde então, Washington secou os repasses federais, mas 40 laboratórios ainda utilizam algumas centenas de chimpanzés em testes.
Em 2008, o National Institutes of Health, agência federal que coordena as pesquisas médicas no país, anunciou um plano de cinco anos para acelerar o desenvolvimento de métodos capazes de substituir os testes químicos e toxicológicos em animais por culturas celulares em tubos de ensaio. Mas a estrada até lá é longa e tortuosa.
Uma reportagem da rede pública de televisão PBS (que pode ser vista aqui, em inglês) ouviu Robert Lanford, pesquisador do Texas Biomedical Research Institute que coordena o desenvolvimento de uma vacina contra a hepatite C e utiliza chimpanzés, únicos animais de laboratório que podem ser infectados com o vírus (embora não desenvolvam a doença). O instituto mantém 3 mil primatas, inclusive 150 chimpanzés. Lanford disse que tem convicção de que a utilização de um primata tão próximo dos humanos é válida, dada a importância da pesquisa em questão e a falta de alternativas, mas não permitiu que o repórter filmasse seus laboratórios, por entender que isto aumentaria a pressão da opinião pública. Entretanto, o repórter Miles O’Brien obteve listagens de todos os procedimentos a que alguns dos chimpanzés do instituto foram submetidos. Dentre eles Rosie, de 30 anos, que passou por 15 biópsias do fígado, inúmeras coletas de sangue, 99 anestesias gerais e várias convulsões.
A provação de Rosie e outros chimpanzés parece estar com os dias contados, seja pelas regras cada vez mais restritivas, seja pelo desenvolvimento de alternativas. Dentro de 5 anos, dois laboratórios americanos esperam concluir o desenvolvimento de camundongos “humanizados”, que podem contrair a hepatite C e, portanto, substituir os chipanzés. Mas bom mesmo será o dia em que todas as cobaias de laboratório, da espécie que for, serão substituídas por um punhado de células em meio de cultura.[:en]
Chimpanzés, nossos primos mais próximos, com quem compartilhamos 99% de nossa carga genética, são usados em experiências científicas em apenas dois países, os Estados Unidos e em uma de suas nações de origem, o Gabão. A União Européia baniu a prática em 2010 e o Senado americano está nas etapas finais de negociação para que estes primatas deixem de ser usados nos laboratórios dos EUA.
A decisão parece fácil – a reclusão e os repetidos procedimentos testados, inclusive a injeção de novos compostos e cirurgias, são absolutamente penosos. Mas a interrupção desses experimentos, uma decisão ética e humana, pode atrasar algumas pesquisas médicas importantes que ainda não encontram uma cobaia alternativa à altura dos chimpanzés em termos de proximidade genética com os humanos.
Historicamente, os chipanzés foram empregados em toda sorte de experimento, da exploração espacial à busca de vacina e tratamento para a Aids, a poliomielite e o mal de Parkinson. Em 2000, 1.600 chimpanzés estavam participando de testes clínicos e outras pesquisas médicas nos Estados Unidos. Na época o governo americano lançou um programa para oferecer aposentadoria aos animais com longa folha de serviços prestados à Ciência. Chimpanzés idosos começaram a ser enviados para três santuários onde podem viver em liberdade. E, desde então, Washington secou os repasses federais, mas 40 laboratórios ainda utilizam algumas centenas de chimpanzés em testes.
Em 2008, o National Institutes of Health, agência federal que coordena as pesquisas médicas no país, anunciou um plano de cinco anos para acelerar o desenvolvimento de métodos capazes de substituir os testes químicos e toxicológicos em animais por culturas celulares em tubos de ensaio. Mas a estrada até lá é longa e tortuosa.
Uma reportagem da rede pública de televisão PBS (que pode ser vista aqui, em inglês) ouviu Robert Lanford, pesquisador do Texas Biomedical Research Institute que coordena o desenvolvimento de uma vacina contra a hepatite C e utiliza chimpanzés, únicos animais de laboratório que podem ser infectados com o vírus (embora não desenvolvam a doença). O instituto mantém 3 mil primatas, inclusive 150 chimpanzés. Lanford disse que tem convicção de que a utilização de um primata tão próximo dos humanos é válida, dada a importância da pesquisa em questão e a falta de alternativas, mas não permitiu que o repórter filmasse seus laboratórios, por entender que isto aumentaria a pressão da opinião pública. Entretanto, o repórter Miles O’Brien obteve listagens de todos os procedimentos a que alguns dos chimpanzés do instituto foram submetidos. Dentre eles Rosie, de 30 anos, que passou por 15 biópsias do fígado, inúmeras coletas de sangue, 99 anestesias gerais e várias convulsões.
A provação de Rosie e outros chimpanzés parece estar com os dias contados, seja pelas regras cada vez mais restritivas, seja pelo desenvolvimento de alternativas. Dentro de 5 anos, dois laboratórios americanos esperam concluir o desenvolvimento de camundongos “humanizados”, que podem contrair a hepatite C e, portanto, substituir os chipanzés. Mas bom mesmo será o dia em que todas as cobaias de laboratório, da espécie que for, serão substituídas por um punhado de células em meio de cultura.