À longa lista de eventos climáticos extremos recentes – as condições que levaram à menor extensão de gelo no verão do Ártico, furacões e tufões na América Central e Ásia, o famoso furacão Sandy, enchentes na China, seca no Brasil – juntou-se nas últimas semanas uma onda de calor sem precedentes na Áustralia.
Tão sem precedentes que o bureau de meteorologia australiano incluiu duas novas cores em seu mapa de temperaturas – rosa e roxo – para acomodar a subida dos termômetros até 54 graus Celsius. Se alguém tem dúvida de como seria viver com alguns graus a mais na temperatura média, basta perguntar aos australianos.
Na segunda, dia 7 de janeiro, a temperatura máxima média no continente foi de 40,33 graus, a mais alta jamais registrada. A máxima média nacional ultrapassou 39 graus por sete dias consecutivos, quase que dobrando o recorde anterior, de quatro dias, registrado em 1973. Na quarta, a pequena cidade de Leonora, em Western Australia, registrou 49 graus.
Depois de um respiro nos últimos dias, a previsão é de mais calor para os próximos. A cúpula de calor que cobre o continente e mantém as temperaturas elevadas continua estacionada e há previsões de que as novas cores do mapa serão usadas em breve.
Os detalhes meteorológicos da onda de calor foram exaustivamente discutidos e a a mídia australiana e internacional fazem menção de que o fenômeno é consistente com a tendência de aumento na ocorrência de eventos extremos associada à mudanca climática. O que parece faltar é um certo senso de urgência, como se não houvesse causa para alarme e a única coisa a fazer fosse esperar a onda passar.
Falando a uma platéia de cientistas e estudantes na reunião da American Geophysical Union em dezembro, Sir Robert Watson, ex-assessor do governo britânico e ex-presidente do IPCC, disse que, sem políticas de mitigação urgentes, o mundo verá um aumento de 2 a 7 graus Celsius antes do fim desse século.
Não se trata apenas de ondas de calor que tornam o verão incômodo. Há implicações dramáticas do aumento das temperaturas para a biodiversidade, as florestas, a água, a qualidade do ar, o avanço da desertificação, a destruição da camada de ozônio, sem falar no aumento do nivel do mar. E, decorrente de tudo isso, consequencias graves para a economia e a segurança.
Apesar dos alertas cada vez mais alarmantes da ciencia, a conexão entre o clima e a economia ainda não parece clara para o cidadao comum, o que permite que os políticos continuem agindo de acordo apenas com interesses eleitorais de curtíssimo prazo. Não custa, em ambos os casos, colocar a questão de forma clara: a onda de calor veio para ficar e não haverá ar condicionado que dê conta.