Nas últimas semanas, caiu uma bomba no colo dos vegetarianos e defensores de uma dieta de baixo impacto socioambiental. O consumo de quinoa – um grão originário dos países andinos – aumentou muito nos Estados Unidos e na Europa e isso estaria elevando dramaticamente seu preço nos mercados peruanos e bolivianos, comprometendo a segurança alimentar das populações locais.
A quinoa não é um cereal, mas uma planta herbácea parente de beterrabas e espinafre. Com uma consistência semelhante à da semolina, ela pode substituir o arroz ou a soja, por exemplo. Ela é conhecida por suas qualidades nutricionais, inclusive a presença de vitaminas, ômega-3 e vários minerais (ferro, magnésio, zinco e potássio), além da ausência de glúten. Mas é o conteúdo proteico – acima de 14% da massa total – que lhe garantiu a reputação de ser uma excelente alternativa para a proteína animal. Até agora, seu único inconveniente era a presença de saponina, uma substância que forma espuma como o sabão e pode ser tóxica, irritando as células do pulmão e dos rins. Entretato, uma boa lavagem pode retirar toda a saponina dos grãos.
Cultivada pelos incas há mais de 5 mil anos, a quinoa foi ignorada pelos conquistadores espanhóis e seu consumo permaneceu restrito à América do Sul até os anos 70, quando foi descoberta por vegetarianos do Hemisfério Norte. Segundo um artigo do diário Le Monde, as áreas plantadas com quinoa pelo menos dobraram desde 2005 na Bolívia, seu maior exportador. A demanda internacional impôs uma intensificação dos plantios no altiplano, ampliando a pressão sobre a biodiversidade local e substituindo um mosaico de culturas pela monocultura de exportação. O grão estaria seguindo a trajetória de outro vegetal sofisticado exportado pelo Peru e disputado no Hemisfério Norte: o aspargo. Ele demanda grandes quantidades de água e estaria comprometendo os recursos hídricos da região de Ica.
Além do impacto ambiental, as exportações da quinoa estariam causando problemas de ordem social. As populações mais pobres do Peru e da Bolívia estariam sendo obrigadas a riscá-la do cardápio, devido à inflação dos preços, e substituí-la por junk food, os sanduíches de quinta categoria. Num artigo que deu muito o que falar, a repórter Joanna Blythman, do The Guardian, perguntou: Os vegans vão aguentar a verdade indigesta sobre a quinoa? Compartilhado 145 mil vezes no Facebook, o texto mostra como o preço do alimento apregoado como “grão milagroso dos Andes” triplicou desde 2006. “Em Lima, a quinoa custa mais do que frango”, escreve Blythman. O artigo despertou ira por uma certa demonização do vegetarianismo e por apontar que uma dieta sem proteína vegetal acaba impondo uma pegada de carbono pesada (lembrando que o texto saiu num jornal inglês e parte do ano a Grã-Bretanha tem mesmo de importar vegetais, dado seu clima).
Qual a sua opinião sobre essa briga? Vegetarianos de bom caráter deveriam dispensar a quinoa? Tentar plantá-la em seus próprios países? Buscar alternativas?[:en]
Nas últimas semanas, caiu uma bomba no colo dos vegetarianos e defensores de uma dieta de baixo impacto socioambiental. O consumo de quinoa – um grão originário dos países andinos – aumentou muito nos Estados Unidos e na Europa e isso estaria elevando dramaticamente seu preço nos mercados peruanos e bolivianos, comprometendo a segurança alimentar das populações locais.
A quinoa não é um cereal, mas uma planta herbácea parente de beterrabas e espinafre. Com uma consistência semelhante à da semolina, ela pode substituir o arroz ou a soja, por exemplo. Ela é conhecida por suas qualidades nutricionais, inclusive a presença de vitaminas, ômega-3 e vários minerais (ferro, magnésio, zinco e potássio), além da ausência de glúten. Mas é o conteúdo proteico – acima de 14% da massa total – que lhe garantiu a reputação de ser uma excelente alternativa para a proteína animal. Até agora, seu único inconveniente era a presença de saponina, uma substância que forma espuma como o sabão e pode ser tóxica, irritando as células do pulmão e dos rins. Entretato, uma boa lavagem pode retirar toda a saponina dos grãos.
Cultivada pelos incas há mais de 5 mil anos, a quinoa foi ignorada pelos conquistadores espanhóis e seu consumo permaneceu restrito à América do Sul até os anos 70, quando foi descoberta por vegetarianos do Hemisfério Norte. Segundo um artigo do diário Le Monde, as áreas plantadas com quinoa pelo menos dobraram desde 2005 na Bolívia, seu maior exportador. A demanda internacional impôs uma intensificação dos plantios no altiplano, ampliando a pressão sobre a biodiversidade local e substituindo um mosaico de culturas pela monocultura de exportação. O grão estaria seguindo a trajetória de outro vegetal sofisticado exportado pelo Peru e disputado no Hemisfério Norte: o aspargo. Ele demanda grandes quantidades de água e estaria comprometendo os recursos hídricos da região de Ica.
Além do impacto ambiental, as exportações da quinoa estariam causando problemas de ordem social. As populações mais pobres do Peru e da Bolívia estariam sendo obrigadas a riscá-la do cardápio, devido à inflação dos preços, e substituí-la por junk food, os sanduíches de quinta categoria. Num artigo que deu muito o que falar, a repórter Joanna Blythman, do The Guardian, perguntou: Os vegans vão aguentar a verdade indigesta sobre a quinoa? Compartilhado 145 mil vezes no Facebook, o texto mostra como o preço do alimento apregoado como “grão milagroso dos Andes” triplicou desde 2006. “Em Lima, a quinoa custa mais do que frango”, escreve Blythman. O artigo despertou ira por uma certa demonização do vegetarianismo e por apontar que uma dieta sem proteína vegetal acaba impondo uma pegada de carbono pesada (lembrando que o texto saiu num jornal inglês e parte do ano a Grã-Bretanha tem mesmo de importar vegetais, dado seu clima).
Qual a sua opinião sobre essa briga? Vegetarianos de bom caráter deveriam dispensar a quinoa? Tentar plantá-la em seus próprios países? Buscar alternativas?