Faz um bolo de fubá
Pinga o suor na enxada
A terra é abençoada
Preciso investir, conhecer
Progredir, partilhar, proteger…
“O Brasil celeiro do mundo – água no feijão que chegou mais um”, do Grêmio Recreativo de Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, conquistou o 1º lugar do desfile do grupo especial das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Escrito por Martinho da Vila, Arlindo Cruz, André Diniz, Tunico da Vila e Leone, o samba enredo faz uma homenagem à vida do pequeno agricultor, ou melhor, à vida do “homem simples do campo”.
No entanto, o patrocínio exclusivo que a escola recebeu da Basf, uma das maiores empresas químicas no mundo, tornou-se alvo de críticas por parte de um grupo de ativistas, cientistas e pesquisadores ligados à Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida. Em carta entregue à direção da escola, os signatários denunciam que o a Escola foi usada pelo lobby ligado ao modelo do agronegócio para fortalecer, erroneamente, a ideia de compatibilidade entre uso de agrotóxicos e práticas sustentáveis no campo. O documento alerta para o risco de, deslumbrados com a festa, cairmos na ilusão que agricultores familiares, grandes latifundiários e empresas multinacionais prestam o mesmo papel de servir o País na luta para acabar com a fome e preservar o ambiente. Para os signatários da carta, a natureza da atividade da Basf não representa os valores da agricultura familiar, mais saudável e igualitário.”O agronegócio, que não pinga uma “gota de suor na enxada”, nem “partilha, nem protege e muito menos abençoa a terra”, quer se apropriar da imagem dos camponeses e da agricultura familiar, retratada no samba enredo de 2013, para continuar lucrando às custas do envenenamento do povo brasileiro”.
A correlação entre a perda da saúde e da biodiversidade também é fortemente levantada no documento. Os signatários lançam luz às informações contidas nos três dossiês publicados em 2012 pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), que revelam que o uso do agrotóxico afeta sensivelmente à saúde humana. “Os danos à saúde vão desde dores de cabeça e enjoos até depressão, podendo levar ao suicídio, e diversos tipos de câncer, incluindo de cérebro, pulmão, próstata e linfoma. Esta enorme quantidade de veneno jogada em nossas lavouras tem causado contaminações nos rios, na chuva, no solo e até no leite materno”. De fato, graças ao agronegócio brasileiro, dito moderno, desde 2008 nos tornamos os maiores consumidores mundiais de agrotóxico. Ironicamente, a Basf está entre as maiores fornecedoras de agrotóxicos no Brasil, lucrando US$916 milhões com vendas de veneno.
Mas quem paga a festa?
A vice-presidenta da Vila Isabel, Elizabeth Aquino, esclareceu que a agremiação aceitou recursos da Basf para se tornar mais competitiva na disputa do carnaval 2013. “A Vila Isabel realmente pegou recursos oferecidos pela Basf para que fizéssemos um carnaval mais grandioso, mas nós não estamos fazendo apologia nenhuma ao agronegócio. Somente com o repasse da Prefeitura, nenhuma agremiação faz um carnaval competitivo”.
Elizabeth concorda, contudo, que a visibilidade que a empresa (e o setor) ganhou após o prêmio é intangível. ” Nenhum outdoor que ela [Basf] espalhe pelo mundo dará tanta visibilidade. O desfile do Rio vai para o mundo inteiro.”