O papado de Bento XVI, que chega ao fim em abril com sua renúncia aos 85 anos, foi alvo de intensas críticas. Além de não agir firmemente para punir padres acusados de assédio sexual e de continuar rejeitando o uso de preservativos mesmo diante de sua importância para a saúde pública, o papa ofendeu mulçumanos, judeus, anglicanos, sem falar na comunidade gay. Mas um quesito em particular rendeu elogios a Bento XVI: o meio ambiente.
Chamado por muitos de “papa verde”, Bento XVI pregou que o meio ambiente é um presente de Deus e que sua conservação para futuras gerações é obrigação moral. Para alguns, o fato de o papa abordar questões ambientais o torna “progressista”, mas uma análise mais demorada indica que Bento XVI apenas reforçou a tradição religiosa ocidental que separa o homem da natureza.
“Deus deu aos homens o controle, como guardiães e administradores responsáveis, sobre a criação”, disse. “Uma posição que os homens certamente não devem abusar, mas a que também não podem abdicar”.
A defesa do meio ambiente, segundo George Weigel do Ethics and Public Policy Center, integrou os esforços de Bento XVI para abordar, do ponto de vista da tradição católica, os desafios contemporâneos que a civilização ocidental enfrenta. Weigel lembra que na encíclica de 2009 Caritas in Veritate, o papa defende um ambientalismo que não se limita às preocupações com o ar, a água e o solo, mas que presta a mesma atenção, ou até mais, para a “ecologia humana” – o ambiente moral e cultural em que vivem os homens e que, como os rios e a atmosfera, podem ser poluídos.
“Entre os rejeitos tóxicos que ameaçam o ambiente humano do Ocidente, aponta o papa persistentemente, estão as práticas do aborto e da eutanásia”, escreve Weigel, acrescentando o declínio da família e o decrescimento populacional na Europa como facetas da crise ecológica que segundo Bento XVI acomete o século XXI.
Os pensamentos de Bento XVI sobre o meio ambiente e como o homem deve agir em questões ambientais foram reunidos no livro “O Meio Ambiente”, publicado no ano passado. Ao longo de seu papado, ele abordou o assunto frequentemente e, por mais de uma vez, conclamou a comunidade internacional a agir para conter as mudanças do clima.
A julgar pelo número de católicos no mundo, a mensagem ambiental de Bento XVI deveria ter reverberado. Segundo o Pew Research Center dos Estados Unidos, os católicos eram 1,1 bilhão de pessoas em 2010, cerca de 50% de todos os cristãos e 16% da população mundial. Naquele ano, o Brasil era país com o maior número absoluto de católicos entre a população: 126,75 milhões de pessoas.
Mas ao contrário do papa, a maioria dos católicos – pelo menos nos EUA – não parece relacionar questões religiosas e ambientais. A pesquisa feita pelo Pew Research Center indicou que a religião tem pouca influência sobre a opinião dos americanos quanto a políticas ambientais. As maiores influências, indicou o levantamento, vêm da educação e da mídia.
Leia mais sobre religião e meio ambiente aqui.