Em meio a uma feroz batalha marítima no Oceano Antártico, um juiz americano acatou pedido de liminar de baleeiros japoneses e foi além, rotulando os integrantes do Sea Shepherd de piratas.
“Você não precisa de perna de pau ou tapa-olho. Quando você colide com navios; arremessa ácido; arrasta cordas reforçadas com metal na água para danificar hélices e lemes; lança bombas de fumaça e sinalizadores; e direciona lasers de alta potência a outros navios, você é, sem dúvida, um pirata, não importa quão elevados você acredita que seus objetivos sejam”, escreveu o juiz.
O Sea Shepherd reagiu dizendo se tratar de uma “má decisão” da corte. E especialistas apontam que, embora violentas e até fora da lei, as ações do grupo provavelmente não podem ser classificadas de pirataria, uma vez que não são cometidas para “fins privados”.
O processo foi aberto pelo Instituto de Pesquisa de Cetáceos (IPC), uma fundação japonesa que pesca baleias com o objetivo declarado de executar pesquisa. O Sea Shepherd contesta os motivos dos japoneses e insiste que a carne de centenas de baleias acaba todos os anos nos mercados japoneses.
Ambas as partes travam uma guerra acirrada durante a estação de pesca, no verão do Hemisfério Sul. Embora um acordo internacional tenha banido a pesca comercial de baleias, Japão, Noruega e Islândia foram autorizados a continuar a pesca para fins científicos. Os Guardiães do Mar argumentam que a pesquisa não demanda a matança de tantas baleias.
A decisão do juiz decorreu de um recurso dos japoneses contra um veredito anterior contra a liminar, que pede que o Sea Shepherd cesse suas atividades contra os navios do IPC.
Mas os Guardiões do Mar não parecem ter intenção de se afastar. Há notícias de que, para continuar atuando, a ONG separou suas operações na Austrália da sede da organização, nos Estados Unidos, onde corre o processo.
Além do perigo para ambas as tripulações e dos impactos ambientais da destruição de navios e outros equipamentos marítimos, há quem alerte que a disputa também tem efeitos diplomáticos na disputa entre Japão e China pelas Ilhas Senkaku/Daioyu.
“Se o Japão for visto como fraco perante o Sea Shepherd, a China pode interpretar isso como um sinal para continuar sua linha dura [em relação às ilhas]”, escreveu o almirante australiano James Goldrick .
Segundo Goldrick, afiliado ao think tank australiano Lowy Institute, o Greenpeace percebeu anos atrás que a ação direta contra a pesca só reforça a posição dos baleeiros, que acabam vistos pelos japoneses comuns como alvo de perseguição pelo Ocidente.
“A única forma de cessar a pesca de baleias é criar opinião pública contra dentro do próprio Japão”, opinou Goldrick, adicionando que há causas ambientais mais importantes a serem defendidas.
O Sea Shepherd e seus milhares de apoiadores, claro, discordam. Pelo jeito, não será o rótulo de piratas que os fará parar tão cedo.