Para que as propostas do movimento ambientalista tenham real incidência no debate eleitoral que se inicia, é indispensável aprimorar o repertório de temas técnicos que dominamos
Setores da economia brasileira enxergam que os próximos sete anos serão decisivos para o País. Para eles, é o período em que o Brasil, segundo estudo do Banco Mundial intitulado Envelhecendo em um Brasil mais velho, contará com o valor máximo do chamado bônus demográfico, quando há mais pessoas trabalhando do que aposentadas.
A partir de 2020, essa relação começará a se inverter e, portanto, é imprescindível incrementar nosso desenvolvimento até lá, para dar conta de dispor dos recursos necessários ao atendimento da crescente população na terceira idade e das novas gerações.
Até Delfim Netto, czar da economia durante os anos de chumbo e uma opinião ainda hoje influente em estratos conservadores do País, ao falar do bônus demográfico, afirma que não iremos assegurar um padrão de vida decente para os 150 milhões de brasileiros que constituirão a população ativa do País em 2030, apoiado somente na força da agricultura ou com a exploração do petróleo.
É justamente esse tipo de debate que faz crescer a pressão sobre a exploração dos recursos naturais, em especial os localizados na Amazônia, âncora da expansão econômica brasileira vivida nos últimos anos. Entre 1998 e 2008, os produtos oriundos do uso intensivo de recursos naturais (mineração, madeira, petróleo) aumentaram sua participação de 46% para 54% do total do nosso comércio externo, enquanto a média mundial era de 26%.
Para aprofundar ainda mais o que vem sendo chamado de reprimarização da economia, investiremos, até 2020, R$ 749 bilhões na indústria de petróleo. Boa parte desses recursos é para viabilizar a exploração do pré-sal, no momento em que já não é mais possível prever que essa extração em águas tão profundas será feita a preços competitivos – tendo em vista a produção de petróleo e gás extraído do xisto e das areias betuminosas nos Estados Unidos e no Canadá, muito mais barata.
Não bastasse o risco econômico, com a exploração do pré-sal o Brasil despejará 197% a mais de CO2 na atmosfera até 2020. Iremos produzir 6,09 milhões de barris de petróleo por dia, o que representará 955,82 milhões de toneladas de carbono nas contas das emissões mundiais dos gases de efeito estufa.
ELEIÇÕES 2014
O debate sobre o desenvolvimento
do País nos próximos sete anos será impulsionado pela realização das próximas eleições presidenciais, pois caberá a
quem for eleito em 2014 assumir a responsabilidade de discutir com a sociedade, em um período tão crucial, as opções que terão de ser feitas para garantir um futuro digno para o povo brasileiro.
As organizações da sociedade civil, os movimentos e as redes sociais intensificarão a elaboração de propostas sobre a inserção da questão ambiental no planejamento do futuro do País. Para que as nossas propostas tenham incidência real no debate, é indispensável aprimorar o repertório de temas técnicos que dominamos, como a utilização de cenários econômicos e a elaboração de mapas de prospecção do que poderá ser o amanhã.
Teremos de apresentar propostas, por exemplo, que dialoguem com as necessidades e aspirações das novas faixas de renda que ascenderam com o crescimento da economia no governo Lula, quando foram gerados 20 milhões de postos de trabalho, 94% deles com ganhos de até 1,5 salário mínimo mensal. Formou-se um segmento que, na opinião do economista Marcio Pochmann, é politicamente conservador, fortemente mobilizado pelo consumismo e que será o fiel da balança nas eleições dos próximos anos.
Isso significa que a possibilidade de vitória nos embates sobre o meio ambiente implica criar meios que propiciem a mobilização dessas novas faixas de renda para a defesa do tema. O assunto é especialmente relevante no Congresso Nacional, onde existe uma ofensiva para modificar as leis ambientais, iniciada com o Código Florestal e que agora mira as Unidades de Conservação, com a existência de mais de 300 projetos propondo a extinção ou redução da extensão de diversas delas em todas as regiões.
O momento para elaborarmos as nossas propostas e provocarmos o debate é agora, em 2013, quando se dá o aquecimento para o jogo das eleições do ano que vem. A eleição de 2014 já começou e o que faremos agora determinará o futuro da sustentabilidade no Brasil.
*Sérgio Leitão é diretor de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil e sócio do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS)