Com a morte da ex-primeira ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher, há alguns dias, a mídia internacional tem examinado seu legado, inclusive sua contribuição, nos anos 80, para colocar a questão climática na agenda internacional.
Formada em Química pela Universidade de Oxford e integrante da Royal Society – a academia nacional de ciência inglesa –, Thatcher compreendeu os sinais que os cientistas começavam a lançar sobre a mudança do clima.
Ela é lembrada por um discurso nas Nações Unidas, em 1989, em que defendeu a formação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC); por inaugurar o Hadley Centre, principal centro de pesquisa climática da Inglaterra; e por ter agido – depois de muita relutância – para reduzir emissões de dióxido de enxofre e controlar o problema da chuva ácida.
Além da ciência, Thatcher compreendeu muito bem o apelo político da questão ambiental.
Com uma política de desregulamentação e privatização, a questão ambiental estava longe de ser prioridade para o governo Thatcher. Isso começou a mudar em 1988 quando a questão climática foi apontada a mais importante da agenda ambiental do governo e integrada à política externa.
“Os conservadores tinham várias razões para buscar uma posição de liderança na questão do clima”, escreveu a cientista política Loren R. Carr no livro As Falhas da Política Climática Americana e Europeia. “Era um assunto novo e ‘sexy’. Oferecia uma oportunidade para adotar um perfil de liderança que poderia ajudar a melhorar as credenciais verdes do governo. E também tinha custos de curto prazo muito baixos, uma vez que as negociações provavelmente seriam um processo muito longo”.
Em relação ao clima, o Reino Unido agiu para que o fórum das negociações fossem as Nações Unidas, evitando assim que a Comunidade Europeia adotasse diretrizes mais severas. Na ONU, lembra Carr, os EUA estariam presentes e contrabalançariam a influência de outros países europeus.
O ex-diretor da ONG Friends of the Earth, Jonathon Porritt, diz que a atenção de Thatcher a questões como o clima e a chuva ácida ampliou o alcance da mensagem ambiental. “Muita gente que dizia que esses assuntos eram para pessoas meio doidas que gostavam de abraçar árvores passou a pensar ‘oh, é Margareth Thatcher dizendo isso, então deve ser sério’”.
Entretanto, como lembrou o The Guardian, o maior legado ambiental de Thatcher perdura até hoje. “A política econômica de mercado livre de seu governo mudou dramaticamente a face verde da Grã-Bretanha”, escreveu o editor John Vidal. Com tal política vieram a expansão urbana, o investimento em transporte privado, a desregulamentação e a privatização de serviços de água e coleta de lixo.
Thatcher promoveu o livre mercado – e seus efeitos ambientais – não só no Reino Unido mas, por meio de instituições internacionais como o Banco Mundial, o FMI e a Organização Mundial do Comércio, também em países em desenvolvimento como o Brasil.
Nos 11 anos em que Thatcher esteve no poder, lembra Vidal, o meio ambiente no Reino Unido e no mundo sofreu uma profunda transformação, cujos efeitos serão sentidos por gerações.