Empresas de reciclagem em países desenvolvidos estão transbordando em plástico desde que a China decidiu, no início do ano, fazer valer suas regras para a importação de materiais para reciclagem. É a chamada “Operação Cerca Verde”, um esforço para inspecionar o lixo importado e garantir sua integridade ambiental.
De acordo com uma empresa de reciclagem canadense, os chineses estão mandando de volta materiais que tenham sido usados e contenham líquido ou outras substâncias que possam carregar microrganismos.
Com o acesso ao enorme mercado chinês dificultado, as companhias de reciclagem em países como Canadá, Estados Unidos e Inglaterra estão penando para dar conta de tanto lixo.
Na última década, a China teve apetite quase insaciável por recursos como rejeitos de papel, plástico e metais não ferrosos, que são reciclados e usados para manufatura de produtos de menor qualidade. A China é o maior mercado consumidor da sucata americana, que por sua vez é o principal produto da pauta de exportação dos EUA em termos de volume.
Estimativas dão conta de que a China importou 833 milhões de toneladas de sucata em 2011 – cerca de 40% do plástico reciclado pelos chineses é importado. Em geral, o material vai de volta nos contêineres que levaram produtos chineses para os mercados dos países desenvolvidos.
Até recentemente, os chineses aceitavam materiais de qualquer qualidade, tanta era a demanda e a capacidade de reciclar, graças à mão de obra barata. Ambos os fatores parecem estar, lentamente, mudando – com o aumento do custo da mão de obra chinesa nos últimos anos, muitas plantas de reciclagem têm relocado para outros países da Ásia.
Nos países desenvolvidos, a pressão para reciclar é grande – os europeus, por exemplo, têm metas a cumprir –, mas o custo é alto. A solução encontrada é, com frequência, enviar o lixo para países em desenvolvimento onde o custo é mais baixo. As nações ricas, entretanto, deixam de ter qualquer controle sobre o que acontece com os materiais uma vez que são exportados.
E o consumidor nos países desenvolvidos que separa o lixo para reciclagem em geral não tem ideia de que seus rejeitos vão cruzar o mundo para ser reciclados na Ásia.
Patty Moore, presidente da empresa americana Moore Recycling, visitou a China várias vezes de 2008 a 2010 para avaliar o estado da indústria de reciclagem local.
“Em grande medida, boa parte da responsabilidade ambiental é nossa”, escreveu Patty em um relatório de 2010, referindo-se à baixa qualidade dos materiais enviados à China. “A forte demanda (chinesa) e a falta de inspeção do nosso lado, aliadas ao despreparo de muitos fornecedores, causam problemas”.
Ela previu a modernização do sistema, com maior fiscalização – justamente o que a China vem fazendo nos últimos meses. O investimento da China em processos mais sustentáveis – devido ao crescimento de sua população, aos limitados recursos naturais de que dispõe e os esforços do governo para encorajar a “economia circular” – vai render frutos no futuro próximo, acredita Patty.
“Por essas razões, os EUA não devem depender da China como mercado futuro para sucata”, escreveu ela. “Além do mais, ao exportar nossos materiais plásticos, estamos exportando benefícios como empregos, economia de energia e custo mais baixo para matérias primas”.