A Cidade do México está mais segura desde que um homem mascarado saiu às ruas para combater os motoristas desrespeitosos com quem vai a pé. Mas ele não luta, usa apenas o bom humor
Ele não voa, nem tem superpoderes. Usa máscara, mas não esconde sua identidade. Mesmo assim, é o super-herói da Cidade do México com a missão de combater os motoristas que não respeitam quem anda pelas ruas. Falamos de Peatónito, personagem criado por Jorge Cáñez, cientista político de 26 anos.
Todos os dias Cáñez veste uma máscara da luta livre mexicana e sai às ruas para educar condutores. No lugar da força física, conta com a potência do bom humor. Se um carro fica no meio da faixa de pedestres, ele se põe na frente do veículo e finge fazer força para colocá-lo em uma posição que dê passagem a quem segue desmotorizado. Também pinta faixas de pedestre onde não há e convence camelôs a deixar parte das calçadas desobistruídas.
A ideia de Cáñez nasceu de seu descontentamento com a situação “caótica” do tráfego local, como ele descreve. “É uma cidade dominada pelas quatro rodas”, diz em entrevista por e-mail a PÁGINA22. Há, em média, uma morte por atropelamento a cada dia.
Parte do problema mexicano tem origem na falta de educação no trânsito. Para combater a corrupção, há três anos, a prefeitura da Cidade do México aboliu as aulas e provas para a obtenção da licença de motorista. Ao cidadão, cabe apenas pagar uma taxa e sair guiando.
Cáñez acredita ser preciso uma ampliação efetiva das leis de trânsito para conter a onda de maus condutores. “Aqui, os policiais sequer advertem quem para o veículo na faixa de pedestres e nas calçadas”, conta. Esse é, então, um trabalho mesmo para super-heróis, como Peatónito.
MÁSCARADO
Para ganhar a simpatia das pessoas, Peatónito escolheu como uniforme a máscara típica de luta livre mexicana. Foi também uma forma de resgatar os valores da cultura popular do país. As cores preto e branco são uma referência às faixas de pedestre.
Apesar da máscara, ele não é de briga. Foi sua simpatia conquistou as ruas do México. Peatónito conta que todos os pedestres agradecem sua iniciativa e a grande maioria (ele fala em 90%) dos motoristas acabam dando risada e admitem o erro. Desde que Peatónito saiu às ruas, pelo menos 5 grupos de civis se formaram para defender os pedestres.
E a criatividade de Cáñez vai além da criação de um super-herói. Ele colocou Peatónito sob a licença Creative Commons. Qualquer pessoa pode ir às ruas com as roupas de lutador e combater os maus condutores. Cáñez conta que já aparecem alguns em outras cidades. Será, nas palavras dele, uma “grande luta livre pelo direito de caminhar”.
Diante da repercussão, o governo mexicano está tentando cooptá-lo para campanhas oficiais. E desde fevereiro Cáñez participa de reuniões com outros cidadãos e os governantes para planejar uma ação de seguridade conjunta. Mas até abril, nada havia sido resolvido. Também está em contato com uma deputada que quer defender os pedestres. “Mas eu insisto que sou apartidário. Vou aprovar o que ela fizer de positivo. Se não, não apoio”, afirma convicto. Como todo bom super-herói, Peatónio se sente mais confortável agindo pelas brechas.