Diversas doenças infecciosas que vinham declinando há cem anos, como o sarampo, a paralisia infantil e a tosse comprida, estão voltando a crescer. Um dos motivos principais é a vilanização das vacinas que está derrubado as taxas de imunização em vários países.
No sudoeste da Inglaterra e em algumas partes de Londres, as taxas caíram a 70% – epidemiologistas consideram 95% o mínimo necessário para se evitar a disseminação de doenças. Em consequência, foram confirmados 587 casos de sarampo no país no primeiro trimestre, três vezes mais do que no mesmo período do ano passado. Na tentativa de conter o surto, o governo britânico lançou em abril uma campanha de imunização dos adolescentes que não foram vacinados quando bebês porque seus pais se recusaram a fazê-lo.
O sarampo também está voltando a surgir nos Estados Unidos, a um ritmo um pouco mais contido. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças, que havia declarado a doença erradicada em 2000, registrou 54 casos no ano passado. As vítimas não tinham sido vacinadas e haviam visitado regiões onde o sarampo é endêmico – ou tiveram em contato com viajantes. Aqui em Portland, soube recentemente que houve um surto de tosse comprida entre crianças de uma escola Waldorf, onde o índice de vacinação era extremamente baixo.
Na Nigéria, a vacina contra a poliomielite tem sido boicotada por imãs que argumentam que elas seriam instrumento de um complô ocidental para tornar crianças muçulmanas inférteis ou para contaminá-las com o vírus HIV – e a paralisia infantil voltou a ocorrer em uma dezena de comunidades.
Mas poucos casos foram tão extremos como o da Ucrânia, onde centenas de milhares de famílias recusaram-se a permitir que seus filhos fossem vacinados depois que um adolescente morreu pouco depois de ser imunizado (embora os médicos tenham descartado uma correlação). Em 2009, as autoridades chegaram até a cancelar campanhas de vacinação promovidas pelas Nações Unidas e tiveram de coletar e incinerar 9 milhões de doses que perderam a validade. A situação ainda não foi normalizada. Desde o começo deste ano, o país registrou 2.309 casos de sarampo, segundo os dados atualizados da Organização Mundial da Saúde.
Vacinas sempre despertaram suspeitas em algumas comunidades, seja por motivos religiosos ou pseudo-científicos. Na Inglaterra, um dos principais responsáveis por essa onda de desconfiança foi o gastroenterologista Andrew Wakefield, que publicou em 1998 um estudo na respeitada revista médica The Lancet em que estabelecia uma ligação entre a vacina tríplice (que combate o sarampo, a rubéola e a caxumba) e o autismo. Nos anos seguintes, o estudo foi amplamente desacreditado por falta de apuro científico e a revista teve de se retratar, mas o estrago já estava feito. Os críticos das campanhas públicas de imunização viram aí um esforço da indústria farmacêutica para abafar o episódio.
O recrudescimento de moléstias facilmente preveníveis parece nascer da mesma rejeição à Ciência e das teorias conspiratórias que fomentam o negacionismo climático. É uma espécie de desatino intelectual fomentado pela abundância de pseud0-informação na web e pela nossa incapacidade de distinguir o que é fato do que é ruído.[:en]
Diversas doenças infecciosas que vinham declinando há cem anos, como o sarampo, a paralisia infantil e a tosse comprida, estão voltando a crescer. Um dos motivos principais é a vilanização das vacinas que está derrubado as taxas de imunização em vários países.
No sudoeste da Inglaterra e em algumas partes de Londres, as taxas caíram a 70% – epidemiologistas consideram 95% o mínimo necessário para se evitar a disseminação de doenças. Em consequência, foram confirmados 587 casos de sarampo no país no primeiro trimestre, três vezes mais do que no mesmo período do ano passado. Na tentativa de conter o surto, o governo britânico lançou em abril uma campanha de imunização dos adolescentes que não foram vacinados quando bebês porque seus pais se recusaram a fazê-lo.
O sarampo também está voltando a surgir nos Estados Unidos, a um ritmo um pouco mais contido. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças, que havia declarado a doença erradicada em 2000, registrou 54 casos no ano passado. As vítimas não tinham sido vacinadas e haviam visitado regiões onde o sarampo é endêmico – ou tiveram em contato com viajantes. Aqui em Portland, soube recentemente que houve um surto de tosse comprida entre crianças de uma escola Waldorf, onde o índice de vacinação era extremamente baixo.
Na Nigéria, a vacina contra a poliomielite tem sido boicotada por imãs que argumentam que elas seriam instrumento de um complô ocidental para tornar crianças muçulmanas inférteis ou para contaminá-las com o vírus HIV – e a paralisia infantil voltou a ocorrer em uma dezena de comunidades.
Mas poucos casos foram tão extremos como o da Ucrânia, onde centenas de milhares de famílias recusaram-se a permitir que seus filhos fossem vacinados depois que um adolescente morreu pouco depois de ser imunizado (embora os médicos tenham descartado uma correlação). Em 2009, as autoridades chegaram até a cancelar campanhas de vacinação promovidas pelas Nações Unidas e tiveram de coletar e incinerar 9 milhões de doses que perderam a validade. A situação ainda não foi normalizada. Desde o começo deste ano, o país registrou 2.309 casos de sarampo, segundo os dados atualizados da Organização Mundial da Saúde.
Vacinas sempre despertaram suspeitas em algumas comunidades, seja por motivos religiosos ou pseudo-científicos. Na Inglaterra, um dos principais responsáveis por essa onda de desconfiança foi o gastroenterologista Andrew Wakefield, que publicou em 1998 um estudo na respeitada revista médica The Lancet em que estabelecia uma ligação entre a vacina tríplice (que combate o sarampo, a rubéola e a caxumba) e o autismo. Nos anos seguintes, o estudo foi amplamente desacreditado por falta de apuro científico e a revista teve de se retratar, mas o estrago já estava feito. Os críticos das campanhas públicas de imunização viram aí um esforço da indústria farmacêutica para abafar o episódio.
O recrudescimento de moléstias facilmente preveníveis parece nascer da mesma rejeição à Ciência e das teorias conspiratórias que fomentam o negacionismo climático. É uma espécie de desatino intelectual fomentado pela abundância de pseud0-informação na web e pela nossa incapacidade de distinguir o que é fato do que é ruído.