Os seres humanos estão transformando o planeta de formas que podem prejudicar os ganhos em termos de desenvolvimento obtidos nas últimas décadas.
A avaliação é de um grupo de dez cientistas, liderados pelo australiano David Grigg, que recentemente sugeriu um modelo unificado para lidar com questões ambientais e de pobreza, amparado em seis objetivos e uma nova definição de desenvolvimento sustentável.
“Desenvolvimento que atende às necessidades do presente ao mesmo tempo em que protege o sistema que permite a vida na Terra, do qual depende o bem-estar das gerações presentes e futuras”.
Tal definição, segundo os cientistas, poderia embasar um novo modelo que substitui o tripé economia-sociedade-meio ambiente por um conceito de ninho em que a economia global serve à sociedade que, por sua vez, existe dentro do sistema planetário que permite a vida.
“A extraordinariamente estável época do Holoceno que permitiu que nossos antepassados desenvolvessem a agricultura e as sociedades modernas ao longo dos últimos 10 mil anos é um ponto de referência científico”, escreveram os pesquisadores em um comentário publicado na revista Nature. “De fato, essas são as únicas condições conhecidas que podem sustentar a vida moderna”.
As transformações que vêm ocorrendo devido a atividades humanas, entretanto, alteram a face do planeta de tal forma que vários cientistas acreditam que tenhamos deixado o Holoceno e estreado uma nova época geológica, o Antropoceno.
Em 2009 cientistas apontaram nove limites planetários – mudança do clima, perda de biodiversidade, interferência nos ciclos de nitrogênio e fósforo, redução do ozônio estratosférico, acidificação dos oceanos, sobre-uso de recursos hídricos, mudança no uso da terra, poluição química e acumulo de aerossóis atmosféricos – que, se ultrapassados, podem colocar o sistema todo em risco.
Os autores do comentário na Nature usaram a pesquisa sobre os limites planetários, assim como outras evidências científicas e processos internacionais sob as Nações Unidas, para elaborar uma lista de elementos obrigatórios do ponto de vista ambiental para que haja desenvolvimento. O segundo passo foi integrar tal lista aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio para produzir seis Objetivos de Desenvolvimento Sustentável:
- Vidas e meios de subsistência prósperos: Buscar o fim da pobreza e o aumento do bem-estar por meio de acesso à educação, emprego e informação, melhoria de saúde e moradia, e redução da desigualdade ao abraçar modos sustentáveis de produção e consumo.
- Segurança alimentar sustentável: Buscar o fim da fome e a segurança alimentar de longo prazo, incluindo melhor nutrição, por meio de sistemas sustentáveis de produção, distribuição e consumo.
- Segurança hídrica sustentável: Almejar o acesso universal à água limpa e ao saneamento básico, e garantir a alocação eficiente por meio da gestão integrada de recursos hídricos.
- Energia limpa para todos: Almejar o acesso universal e barato à energia limpa que minimiza a poluição local e os impactos à saúde, e mitiga o aquecimento global.
- Ecossistemas saudáveis e produtivos: Sustentar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos por meio de melhor gestão, valoração, medição, conservação e restauração.
- Governança para sociedades sustentáveis: Transformar a governança e as instituições em todos os níveis para avançar nos outros cinco objetivos de desenvolvimento sustentável.
“Nada disso é possível sem mudanças no campo econômico”, alertam os pesquisadores. “As políticas nacionais deveriam, assim como faz o imposto sobre o carbono, dar valor ao capital natural e um custo a ações insustentáveis”.
Na Rio+20, 192 países concordaram em criar um conjunto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para dar sequência aos Ojetivos de Desenvolvimento do Milênio, que expiram em 2015. A ONU está discutindo novos objetivos para integrar à agenda de desenvolvimento pós-2015.
Um dos autores do comentário, Owen Gaffney, diz que a maneira como definimos um problema mostra o caminho para a solução.
“Pelos últimos 26 anos, uma única definição de desenvolvimento sustentável dominou: ‘desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de futuras gerações de atender a suas próprias necessidades’. E um único conceito moldou a política internacional: os três pilares do desenvolvimento sustentável – econômico, social e ambiental”.
No Antropoceno, diz ele, temos que abandonar velhas formas de pensar.