O americano LeBron James é um dos melhores jogadores de basquete da atualidade. Nascido em Ohio, jogou suas sete primeiras temporadas no time da NBA daquele estado, o Cleveland Cavaliers. Para inaugurar essa nova era, o time chegou a mudar as cores de sua camiseta, e sua principal estrela foi apelidada de “King James” (Rei James). Em 2010, com seu passe livre, LeBron James anunciou sua ida para o Miami Heat. Apesar de continuar jogando maravilhosamente bem, os torcedores de Ohio não mais pareciam admirar seu filho prodígio. No famoso seriado homônimo dos anos 1990, Seinfeld corretamente observava: torcemos para camisetas.
Diferentemente das imensas colônias de alguns insetos, humanos parecem programados para operar em grupos menores (evolutivamente falando, grandes aglomerações urbanas são um fenômeno recente). Experimentos conseguem gerar identidade social em grupos criados de forma completamente arbitrária, como os separados pelo “cara ou coroa” de uma moeda. No fim dos anos 1960, uma professora mostrou os efeitos da discriminação separando sua classe em “olhos claros” e “olhos escuros” (vídeo). A filiação quase tribal que temos com nossos times favoritos ultrapassa os limites esportivos, influenciando nosso comportamento em outras áreas.
Por limitações de espaço, na coluna Olha isso! da edição 68 (“Pequenos delitos”), ao descrever um experimento de Dan Ariely no qual um ator contratado trapaceava descaradamente, levando os voluntários do experimento a também trapacear, não contei toda a história: a reação dos demais dependia, na verdade, da camiseta que o ator vestia.
Quando ele vestia uma camiseta básica, os voluntários supunham que o ator pertencia à mesma universidade que eles (Carnegie Mellon), onde o experimento estava sendo conduzido. Isso se mostrou suficiente para induzir ao efeito de conformidade descrito na coluna da edição 73 (“Ações exemplares”), e as taxas de trapaça atingiam 24,3%. Porém, se o ator estivesse vestindo uma camiseta da rival Universidade de Pittsburgh, a trapaça caía para apenas 3,6%. É como se, ao não trapacear, os voluntários estivessem querendo passar a seguinte mensagem: “Trapaça é coisa de gente da Pitt, aqui na CMU nós somos honestos”.
Em experimento publicado em 2005, um ator vestindo a camiseta de um time se fazia passar por um torcedor ferido. No mundo real, o efeito de groupthink (algo como “mentalidade de grupo”) poderia ter tido efeitos trágicos: torcedores do mesmo time eram mais propensos a ajudar o estranho ferido do que torcedores do time rival (veja o estudo). Aqui, o imperativo moral de oferecer ajuda era submetido antes a uma análise de “pertence” ou “não pertence ao meu grupo”.
Nos grandes eventos esportivos que o Brasil sediará nos próximos anos, temos muito pelo que torcer (de preferência, não passivamente). Particularmente, torcerei, antes, para que a corrupção e a visão de curto prazo passem ao largo das obras de infraestrutura desses eventos; durante, para que o “joga bonito” prevaleça nos estádios e ginásios; e, depois, para que saibamos aproveitar da melhor maneira possível o legado desses eventos. E que os jogos possam resultar em maior união entre as nações, em vez de reforçar nossas rivalidades.