Pequenas fortunas estão sendo investidas pelas grandes metrópoles de países ricos na tentativa de frear as consequências das mudanças climáticas (inundação de áreas urbanas, comprometimento do suprimento de água doce e da habitação, sobretudo). Nova York, por exemplo, deverá gastar US$ 2o bilhões; Veneza, 4 bilhões de euros. Nos países mais pobres – onde o risco é maior e a infraestrutura, inadequada – os investimentos também estão ocorrendo, dentro dos orçamentos locais, mais acanhados.
Um esforço de reportagem muito bom, de Karl Ritter e outros repórteres, publicado pela Associated Press no domingo, no encerramento de duas semanas de negociações sobre os rumos das negociações climáticas globais, em Bonn, na Alemanha, esmiuça as estratégias de adaptação de metrópoles de várias latitudes.
Entre as líderes nesse esforço estão, obviamente, as cidades holandesas. Dois terços da população dos Países Baixos vivem abaixo do nível do mar e o governo investe tradicionalmente cerca de 1% de seu orçamento anual na manutenção dos diques e polders multi-centenários. Desde 2003. o país reserva recursos com a finalidade específica de enfrentar as mudanças climáticas. Entretanto, os holandeses chegaram a conclusão que não dá para construir diques cada vez mais altos e tapar o sol com a peneira. Inundações serão inevitáveis e a população terá de aprender a conviver com elas. Por isso, o governo optou por inteconectar milhares de hidrovias que ajudarão a absorver e escoar o excedente de água. Algumas áreas foram definidas como zonas de inundação (e não poderão ser construídas) e casas flutuantes estão ganhando popularidade. Além disso, informa a Associated Press, enormes bancos de areia estão sendo instalados no mar, em localizações estratégicas, para que se desenvolvam naturalmente em recifes artificiais que amorteçam as ondas.
Veneza, extremamente vulnerável por ocupar uma série de ilhotas conectadas por canais numa laguna, está construindo um sistema caríssimo de barreiras submarinas que podem ser elevadas caso o oceano suba mais de 110 centímetros (80 cm são suficientes para inundar a Praça de São Marcos). A cidade já começou a implementar o investimento de 4 bilhões de euros, um tanto controvertido pelo valor e as dúvidas sobre sua real eficácia.
Londres também é bastante vulnerável, pelo menos em teoria, porque chuvas torrenciais costumam arrastar água do mar até a capital britânica pelo curso do rio Tâmisa. A cidade instalou em 1982 dez enormes comportas de aço da altura de edifícios de cinco andares e a agência ambiental britânica tem argumentado que o sistema deverá ser suficiente até 2070.
Entre os países ricos, o maior investimento está sendo feito em Nova York. O prefeito Michael Bloomberg anunciou na semana passada US$ 20 bilhões para a construção de muros de contenção, diques e outras barreiras que contenham a elevação do nível do Atlântico. A cidade ainda tem fresca na memória as imagens de destruição causada pelo furacão Sandy, oito meses atrás – não foi difícil convencer a população da necessidade deste investimento.
A reportagem da Associated Press deixa claro que embora os países mais pobres e populosos estejam arregaçando as mangas, seus investimentos em barreiras físicas são muitíssimo mais modestos. Tome-se o caso de Bangladesh. Ao longo das últimas décadas, o país investiu US$ 10 bilhões em sistemas nacionais de alerta e abrigos anti-ciclone (menos da metade do que está sendo gasto no momento em Nova York). Mais recentemente, o país decidiu investir US$ 470 milhões no plantio de florestas na zona costeira e na construção de abrigos de vários andares para receber desabrigados. Parte desse dinheiro, US$ 170 milhões, foi doada por países desenvolvidos. É quase nada dado o tamanho da tragédia anunciada. Segundo o Banco Mundial, 14,6 milhões de bengalis que moram junto à costa correm hoje risco real de perderem suas casas devido a ciclones e o número de desabrigados pode subir a 18,5 milhões até 2050, mesmo que os efeitos do aquecimento global sejam apenas moderados. Esse número é quase um sétimo da população local.[:en]
Pequenas fortunas estão sendo investidas pelas grandes metrópoles de países ricos na tentativa de frear as consequências das mudanças climáticas (inundação de áreas urbanas, comprometimento do suprimento de água doce e da habitação, sobretudo). Nova York, por exemplo, deverá gastar US$ 2o bilhões; Veneza, 4 bilhões de euros. Nos países mais pobres – onde o risco é maior e a infraestrutura, inadequada – os investimentos também estão ocorrendo, dentro dos orçamentos locais, mais acanhados.
Um esforço de reportagem muito bom, de Karl Ritter e outros repórteres, publicado pela Associated Press no domingo, no encerramento de duas semanas de negociações sobre os rumos das negociações climáticas globais, em Bonn, na Alemanha, esmiuça as estratégias de adaptação de metrópoles de várias latitudes.
Entre as líderes nesse esforço estão, obviamente, as cidades holandesas. Dois terços da população dos Países Baixos vivem abaixo do nível do mar e o governo investe tradicionalmente cerca de 1% de seu orçamento anual na manutenção dos diques e polders multi-centenários. Desde 2003. o país reserva recursos com a finalidade específica de enfrentar as mudanças climáticas. Entretanto, os holandeses chegaram a conclusão que não dá para construir diques cada vez mais altos e tapar o sol com a peneira. Inundações serão inevitáveis e a população terá de aprender a conviver com elas. Por isso, o governo optou por inteconectar milhares de hidrovias que ajudarão a absorver e escoar o excedente de água. Algumas áreas foram definidas como zonas de inundação (e não poderão ser construídas) e casas flutuantes estão ganhando popularidade. Além disso, informa a Associated Press, enormes bancos de areia estão sendo instalados no mar, em localizações estratégicas, para que se desenvolvam naturalmente em recifes artificiais que amorteçam as ondas.
Veneza, extremamente vulnerável por ocupar uma série de ilhotas conectadas por canais numa laguna, está construindo um sistema caríssimo de barreiras submarinas que podem ser elevadas caso o oceano suba mais de 110 centímetros (80 cm são suficientes para inundar a Praça de São Marcos). A cidade já começou a implementar o investimento de 4 bilhões de euros, um tanto controvertido pelo valor e as dúvidas sobre sua real eficácia.
Londres também é bastante vulnerável, pelo menos em teoria, porque chuvas torrenciais costumam arrastar água do mar até a capital britânica pelo curso do rio Tâmisa. A cidade instalou em 1982 dez enormes comportas de aço da altura de edifícios de cinco andares e a agência ambiental britânica tem argumentado que o sistema deverá ser suficiente até 2070.
Entre os países ricos, o maior investimento está sendo feito em Nova York. O prefeito Michael Bloomberg anunciou na semana passada US$ 20 bilhões para a construção de muros de contenção, diques e outras barreiras que contenham a elevação do nível do Atlântico. A cidade ainda tem fresca na memória as imagens de destruição causada pelo furacão Sandy, oito meses atrás – não foi difícil convencer a população da necessidade deste investimento.
A reportagem da Associated Press deixa claro que embora os países mais pobres e populosos estejam arregaçando as mangas, seus investimentos em barreiras físicas são muitíssimo mais modestos. Tome-se o caso de Bangladesh. Ao longo das últimas décadas, o país investiu US$ 10 bilhões em sistemas nacionais de alerta e abrigos anti-ciclone (menos da metade do que está sendo gasto no momento em Nova York). Mais recentemente, o país decidiu investir US$ 470 milhões no plantio de florestas na zona costeira e na construção de abrigos de vários andares para receber desabrigados. Parte desse dinheiro, US$ 170 milhões, foi doada por países desenvolvidos. É quase nada dado o tamanho da tragédia anunciada. Segundo o Banco Mundial, 14,6 milhões de bengalis que moram junto à costa correm hoje risco real de perderem suas casas devido a ciclones e o número de desabrigados pode subir a 18,5 milhões até 2050, mesmo que os efeitos do aquecimento global sejam apenas moderados. Esse número é quase um sétimo da população local.