Planejamento e inovação no setor elétrico estão cada vez mais em pauta nas discussões do governo, academia e setor privado. As pautas permeiam desde questões relacionadas à matriz energética brasileira, passando por mudanças climáticas, até tecnologias para o setor. Neste contexto, o GVces acompanhou a Mesa Redonda do Fórum de Inovação da FGV- EAESP, com o tema Inovação e Competitividade para o Setor Elétrico Brasileiro, que ocorreu no início de junho.
A primeira apresentação do fórum contou com a participação do Dr. Máximo Luiz Pompermayer, Superintende de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficiência Energética da ANEEL. Máximo abordou sobre a falta de profissionais no setor elétrico brasileiro, em especial, na academia, o que está impactando negativamente no avanço tecnológico do setor. De acordo, com os dados apresentados por Máximo, cada um milhão de dólares investido em P&D no mundo gera um pedido de patente, no setor elétrico brasileiro são necessários dez milhões de dólares em P&D para cada pedido de patente. Além da expansão da pesquisa tecnológica no setor elétrico, Máximo ressaltou sobre a necessidade de maior integração entre a estratégia tecnológica com estratégia setorial.
As empresas de energia CPFL e EDP também participaram do evento. Vinicius Teixeira, gerente de inovação do grupo CPFL, palestrou sobre os temas de inovação definidos pela empresa, sendo estes: competitividade e sustentabilidade, mobilidade elétrica, cidades inteligentes e inovação corporativa. Smart city e smart grid tiveram destaques na apresentação, com uma visão de futuro bastante interessante: a gestão do serviço de eletricidade deve ser integrada aos demais serviços, como água e segurança, explorando assim as sinergias e simplificando a vida dos clientes.
João Brito Martins, Gestor Executivo de Inovabilidade, da EDP Brasil trouxe em sua apresentação as perspectivas da empresa em relação à expansão da energia solar. As expectativas é que este tipo de energia cresça ainda mais, sendo que o Brasil possui um nível de irradiação para geração e os equipamentos devem ter uma baixa no custo.
O ponto alto do fórum foi a participação da professora Goret Pereira Paulo, diretora do núcleo de energia da FGV Energia. Goret palestrou sobre as perspectivas e necessidades do setor da energia elétrica em 2020, a priorização das fontes de energias renováveis e novas tecnologias. Entre os pontos abordados o que mais chamou atenção foi à necessidade da expansão e modernização das linhas de transmissão. E de fato esta é uma questão que precisa de mais planejamento e destaque no setor, por exemplo, o leilão para transmissão da energia que será gerada em Belo Monte (PA) está atrasado, por uma demora no lançamento do edital. E, no Nordeste, cerca de 26 parques eólicos não entraram em operação, pois as linhas de transmissão para transporte da energia produzida não estão prontas. É importante informar que as linhas de transmissão não são de responsabilidades dos parques eólicos.
Além disso, foi apresentada a necessidade de investimento na tecnologia de transmissão de ultra alta tensão (UAT), que reduz as perdas de energia. Estudos apontam que cerca de 15% a 20% de energia é perdida na atual rede de transmissão brasileira. No final do evento houve um debate entre os palestrantes e participantes do fórum.
Desse modo, o Fórum de Inovação trouxe uma perspectiva abrangente sobre o contexto tecnológico do setor elétrico, uma dimensão fundamental para se entender a complexidade de como inovar neste setor, que passa por desafios adicionais como a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas e as relações entre desenvolvimento local e inserção dos grandes empreendimentos de geração de energia.
Betânia Villas Boas