Em primeiro lugar, boa educação. Em segundo, um governo honesto e responsável. Em terceiro, melhores condições de saúde. As mensagens não estão apenas empunhadas em manifestações nas ruas, elas aparecem no topo do ranking brasileiro de uma ampla consulta digital.
São estas as três prioridades, até o momento em que postava neste blog, cotadas junto à plataforma brasileira da My World (Meu Mundo), uma iniciativa global das Nações Unidas destinada a captar o que querem as pessoas em todo o mundo, e compartilhável nas redes sociais (participe acessando aqui).
Em seguida, na lista, vêm proteção a florestas, rios e oceanos, proteção contra a violência, acesso a água limpa. Combate à discriminação, acesso a alimentos nutritivos, melhores oportunidades de emprego. Melhor transporte. Percebe-se nestas demandas um fio condutor: a busca por qualidade neste mundo de excessos e disparidades socioeconômicas.
Além disso, consultas nacionais e temáticas realizadas pela ONU mundo afora têm buscado decifrar quais são as prioridades da chamada agenda pós-2015, quando finda o prazo para atingir as Metas do Milênio e se inaugura um ciclo ainda mais desafiador, o dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). As consultas nacionais e temáticas começaram em setembro de 2012 e já alcançaram cerca de 200 mil pessoas em 83 países.
Um resultado preliminar acaba de ser divulgado, por meio do documento “Inicia a Conversação Global – Pontos de Vista Para Uma Nova Agenda de Desenvolvimento”. Segundo o estudo, o mundo está especialmente atento a questões relativas a emprego – é de se esperar, não só pela crise econômica mundial que se arrasta há anos, mas também pelo fato de que o sistema econômico não tem conseguido criar oportunidades mais equitativas e muito menos levado a um bem-estar.
Corrupção é outra fonte importante de preocupação, assim como mecanismos de proteção social.
No Brasil, onde a violência grassa especialmente entre a população jovem, a consulta detectou um enfoque em segurança pública. Houve recomendação para maior investimento em instituições para jovens infratores, mais delegacias com policiais mulheres e redução da impunidade para os crimes nas grandes cidades, subúrbios e pequenas comunidades.
A razão de ser de toda essa prospecção mundial é que essas informações sirvam para os governantes nacionais e locais basearem suas políticas, o que só funcionará se esses praticarem uma “escuta sensível” das vozes dos cidadãos – em vez de simplesmente reagirem com propostas intempestivas e midiáticas, “para povo ver”, apresentadas de cima pra baixo, sem uma construção efetivamente coletiva e participativa, construída no longo prazo.
Aqui, as consultas inclusive revelaram o desejo de jovens brasileiros de atuar de maneira mais próxima daqueles que estão lá para representá-los. Segundo a pesquisa, os jovens querem monitorar o orçamento local para assegurar que fundos sejam gastos de forma eficiente na educação e na saúde.
Parece que desponta aí o desejo latente de recuperar do poder público um poder que, resgatando o sentido óbvio, é público, e por este deve ser conduzido.
*Texto originalmente publicado no Terra Magazine