Na Alemanha, os cidadãos estão arregaçando as mangas para tentar trazer a rede elétrica de volta ao controle público. Enquanto grupos juntam assinaturas necessárias para a realização de consultas populares sobre a propriedade da rede elétrica em Berlim e Hamburgo, um coletivo em Berlim levanta recursos para comprar a concessão da rede de distribuição da cidade em 2014.
Não é o primeiro caso: nos anos 90, um grupo de cidadãos formou uma cooperativa e conseguiu arrematar a concessão elétrica da pequena cidade de Shönau, no sul da Alemanha. Hoje a empresa local fornece energia renovável para a região e vende participação na forma de ações para investidores-cidadãos.
A batalha pelas redes nas maiores cidades alemãs, entretanto, promete ser intensa. À frente está o grupo BürgerEnergie Berlin, iniciado por duas jovens residentes de Berlim que viram na renovação da concessão oportunidade para revolucionar a operação da rede na capital alemã.
A Alemanha encerrou seu programa de energia nuclear depois do acidente nuclear em Fukushima. O país está comprometido com a transição para a energia renovável e almeja chegar a 2050 com 80% da eletricidade produzida vindo de fontes renováveis – em 2012, essa proporção atingiu 25%.
Em Berlim, entretanto, o grosso da eletricidade ainda vem da queima de carvão, o mais sujo dos combustíveis fósseis. A empresa que opera a rede da cidade é a sueca Vattenfall, criticada por fazer o mínimo necessário em termos de conservação de energia e transição para renováveis.
Cooperativa com mais de mil integrantes e 5 milhões de euros no banco, a BürgerEnergie Berlin ainda tem muito a caminhar – o preço estimado para a concessão está em torno de 800 milhões de euros. Espera-se que além da Vattenfall outros seis grupos disputem a licitação. Se vencer, o grupo terá a licença de 2015 a 2035 e pretende operar na forma de uma parceria público-privada, priorizando a integração de fontes renováveis à rede.
Isso se, por meio de um referendo, a rede não mudar de mãos antes. O grupo Berlin Energietisch reuniu mais do que as 200 mil assinaturas necessárias para pedir a realização de uma consulta popular. A intenção do grupo é que a rede de distribuição de energia de Berlin seja comprada de volta pela prefeitura da cidade e assuma o compromisso de atingir 100% de eletricidade vinda de fontes renováveis.
Uma decisão quanto à realização ou não do referendo é esperada para 22 de setembro. Mesmo que a consulta não saia e que a BürgerEnergie não vença a concessão, parece que a distribuição de energia se tornou assunto para o cidadão comum em Berlim.