O movimento dos Indignados da Espanha, ou 15M, é uma boa amostra da configuração dos movimentos sociais do século XXI – articula-se em rede, tem organização horizontal e abusa das ferramentas digitais para se comunicar, internamente ou com o resto do mundo.
Outro destaque é a miscelânea de motivações que magnetiza as pessoas em direção às ruas. A insatisfação com o modelo de democracia foi um ponto central para a mobilização espanhola, mas a explosão do desemprego não pode ser ignorada como fator preponderante.
Além dessas razões fáceis de serem enumeradas e percebidas, manifestam-se nesse tipo de ação outros tipos de motivações: a de viver experiências novas ligadas às vontades, culturas e formas de relacionamento das pessoas que se identificam com o movimento (leia mais). Afinal, são as pessoas, com todas suas subjetividades, que moldam a “cara” de um movimento.
Para ilustrar a experiência vivida por ele, o ativista Fernando García cede algumas fotos do seu arquivo pessoal e descreve o seu dia-a-dia na construção coletiva da acampada de Puerta del Sol, em Madri:
“As primeiras fotos são de dentro da cozinha do acampamento. Eu trabalhava na comissão de ‘Alimentación’. Havia 3 cozinhas na acampada de (Puerta del) Sol e essa era a maior e principal. As fotos são do início do acampamento, quando havia muita gente e muita comida. Trabalhávamos demais fazendo sanduíches. Como é possível ver, havia até eletrodomésticos.”
“Aqui, os cozinheiros estão lendo as notícias diárias.”
“Esta foto é de um blog do diário Público. Estávamos servindo o café-da-manhã.”
“A foto seguinte foi tirada em frente ao Congresso dos Deputados. O detalhe importante é que nossa comissão distribuía a comida, inclusive para pessoas de fora do acampamento. Sempre que o movimento fazia manifestações ou afins, estávamos lá para fornecer água ou comida.”
“Isso é o que ficou do acampamento depois que foi decidido, em Assembleia Geral, que tínhamos que sair. Algumas pessoas decidiram ficar. Um mês depois, isso era o que restava da cozinha.”
“E este sou eu, com meu uniforme da cozinha.”
Colaborou: Júlia Lima
Leia mais:
Entrevista com Fernando García, do 15M, em “Não é preciso ser político para fazer política. Sou cidadão e isso basta
Entrevista com o mentor do Occupy Wall Street, em “Que se vayan todos“