A cidade americana de Detroit divulgou recentemente que pretende leiloar Van Goghs, Matisses e outras obras importantes do acervo do prestigioso Detroit Institute of Arts para levantar fundos, dado que o antigo pólo automotivo apresentou pedido de falência em meados de julho. A Espanha segue pelo mesmo caminho e terá de se desfazer das jóias da família para enfrentar um déficit público que agora em julho beira os 40 bilhões de euros.
O governo espanhol está decidido a vender um quarto do patrimônio público (link parcialmente acessível para quem não assina o Le Monde). Dentre os 15 mil bens colocados à venda, há áreas de importância menor, como terrenos à beira de estradas e ferrovias, mas também imóveis do patrimônio histórico de Madrid e unidades de conservação. Uma das mais vistosas é La Almoraima, uma gleba de 14 mil hectares na Andaluzia, no sul do país, que deverá ser oferecida por 108 milhões de euros. Quase 90% da propriedade faz parte do Parque Natural de los Alcornocales. Esta unidade de conservação, com área total de 170 mil hectares, tem um valor ecológico ímpar. É uma das últimas florestas mediterrâneas primárias, com presença de oliveiras, palmeiras-anãs e loureiros selvagens, além de grandes populações de javalis, cabritos, veados e lontras. É das poucas áreas preservadas de porte da Europa e a maior reserva ibérica de sobreiros – árvores da família do carvalho, de onde se retira a cortiça.
O Ministério do Meio Ambiente apresentou um plano que vislumbra a construção de um aeroporto particular, dois campos de golfe, um hotel cinco estrelas e uma fábrica de cortiça em La Almoraima. Ele contemplaria as limitações de exploração comercial e construção civil dentro da área protegida. Talvez em parte por isso, a sociedade anônima que administra a propriedade para o governo (que detém a integralidade das ações) divulgou que será difícil encontrar um comprador na própria Espanha. Dada as possibilidades de se promover o turismo de caça e a proximidade de Marbella, um dos balneários favoritos da alta sociedade, a expectativa é que a área seja comprada por um milionário do Oriente Médio ou do Leste Europeu. Também está sendo cogitada a possibilidade de se desmembrá-la para facilitar a venda.
Governos regionais da Espanha também estão tentando reduzir o rombo no orçamento se desfazendo de unidades de conservação – em algum casos, driblando a legislação que impede a venda de montanhas consideradas de utilidade pública e que, pela legislação espanhola, não podem ser privatizadas. O caso mais notório é o da comunidade autônoma de Castilla-La Mancha, que estaria tentando mudar a chamada Ley de Montes para que isto seja possível.[:en]
A cidade americana de Detroit divulgou recentemente que pretende leiloar Van Goghs, Matisses e outras obras importantes do acervo do prestigioso Detroit Institute of Arts para levantar fundos, dado que o antigo pólo automotivo apresentou pedido de falência em meados de julho. A Espanha segue pelo mesmo caminho e terá de se desfazer das jóias da família para enfrentar um déficit público que agora em julho beira os 40 bilhões de euros.
O governo espanhol está decidido a vender um quarto do patrimônio público (link parcialmente acessível para quem não assina o Le Monde). Dentre os 15 mil bens colocados à venda, há áreas de importância menor, como terrenos à beira de estradas e ferrovias, mas também imóveis do patrimônio histórico de Madrid e unidades de conservação. Uma das mais vistosas é La Almoraima, uma gleba de 14 mil hectares na Andaluzia, no sul do país, que deverá ser oferecida por 108 milhões de euros. Quase 90% da propriedade faz parte do Parque Natural de los Alcornocales. Esta unidade de conservação, com área total de 170 mil hectares, tem um valor ecológico ímpar. É uma das últimas florestas mediterrâneas primárias, com presença de oliveiras, palmeiras-anãs e loureiros selvagens, além de grandes populações de javalis, cabritos, veados e lontras. É das poucas áreas preservadas de porte da Europa e a maior reserva ibérica de sobreiros – árvores da família do carvalho, de onde se retira a cortiça.
O Ministério do Meio Ambiente apresentou um plano que vislumbra a construção de um aeroporto particular, dois campos de golfe, um hotel cinco estrelas e uma fábrica de cortiça em La Almoraima. Ele contemplaria as limitações de exploração comercial e construção civil dentro da área protegida. Talvez em parte por isso, a sociedade anônima que administra a propriedade para o governo (que detém a integralidade das ações) divulgou que será difícil encontrar um comprador na própria Espanha. Dada as possibilidades de se promover o turismo de caça e a proximidade de Marbella, um dos balneários favoritos da alta sociedade, a expectativa é que a área seja comprada por um milionário do Oriente Médio ou do Leste Europeu. Também está sendo cogitada a possibilidade de se desmembrá-la para facilitar a venda.
Governos regionais da Espanha também estão tentando reduzir o rombo no orçamento se desfazendo de unidades de conservação – em algum casos, driblando a legislação que impede a venda de montanhas consideradas de utilidade pública e que, pela legislação espanhola, não podem ser privatizadas. O caso mais notório é o da comunidade autônoma de Castilla-La Mancha, que estaria tentando mudar a chamada Ley de Montes para que isto seja possível.