O Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) divulgou o último censo do investimento social privado, que contou com 100 respondentes, sendo 13 empresas e 87 fundações ou institutos. Em relação ao censo de 2009, as áreas que mais perderam investimentos foram projetos de meio ambiente (de 59 para 43) e cultura e artes (de 61 para 53). Por outro lado, a área que apresentou crescimento mais significativo foi a de desenvolvimento comunitário (de 45 para 53).
Esse último tema, bem conhecido da área de responsabilidade corporativa, vem ganhando espaço na agenda do investimento social privado. Segunda Rafael Gioielli, gerente geral do Instituto Votorantim, empresas direcionam o investimento social a comunidades onde atuam, buscando obter a “licença social”. Esse conceito foi criado pelo cientista canadense Ian Thomson, segundo o qual uma empresa precisa da “autorização” da comunidade para se instalar e operar em um determinado local. Essa licença depende de fatores como a qualidade dos impactos sociais da sua atuação, reputação e relacionamento.
Outro aspecto positivo para a mantenedora desse tipo de investimento é o benefício para a própria empresa. “Se há um ambiente melhor desenvolvido nos indicadores sociais, ele é mais propício para o desenvolvimento do negócio”, defende Rafael. Esse jogo de vantagens suscita um questionamento sobre o caráter real desse tipo de investimento social – o objetivo é beneficiar a sociedade ou incrementar o negócio? (Leia mais na matéria “Terceiro ato”, da edição 73.) Dentre os respondentes do censo, 68% informaram ter alguma ação vinculada ao ramo de atividade da empresa ou mantenedora, sendo que 11% das organizações e 23% das empresas vinculam todas as suas ações aos negócios.
Ainda dentro da questão sobre o relacionamento com as comunidades, o censo traz respostas sobre os critérios usados para identificar as demandas de investimento social. Os indicadores sociais e econômicos (59%) e critérios de vulnerabilidade social (56%) estão no topo da lista, seguidos pelas demandas colocadas pelas localidades vizinhas às instalações e comunidades do entorno. Um dos maiores desafios é conseguir organizar os diferentes entendimentos que os membros das comunidades têm sobre o desenvolvimento desejável para a região.
A busca por melhorias nos indicadores sociais é uma constante na direção dos investimentos. Rafael afirma que as empresas e organizações têm condições de cooperar com o poder público para desenvolver as comunidades onde atuam, principalmente nos temas abrangidos pelos indicadores: “O Brasil evoluiu bastante nos Objetivos do Milênio, mas quando os indicadores são analisados na esfera local, principalmente em pequenas cidades, eles não são tão bons, porque há muita desigualdade”.