Uma campanha global que usou tanto recursos modernos como tradicionais de militância levou o governo da Tanzânia a desistir de banir a comunidade Masai de uma área prometida à família real de Dubai, que pretende criar ali uma reserva de caça de luxo. Cerca de 40 mil Masai, pastores nômades, tribais, que vivem há milênios às margens do Parque Nacional do Serengueti, seriam proibidos de levar seu gado para pastar na área de 1.500 quilômetros quadrados que foi negociada pelo governo com empreendedores dos Emirados Árabes. Além disso, moradores de seis aldeias teriam de deixar suas casas.
A empresa favorecida, a Ortello Business Corporation, já vinha operando na região de Loliondo havia 20 anos, trazendo grupos de clientes milionários, que descem num aeroporto privado, saem em expedições de caça e praticamente não deixam recursos no local. Um artigo de março deste ano, no diário britânico The Guardian, descreve o clima de crescente pressão sobre os Masai, não só por parte dos empreendedores mas também da polícia.
A decisão do governo foi revertida após 18 meses de ativismo em que vários grupos saíram em defesa dos Masai, sob a coordenação do site de militância online Avaaz. Eles organizaram protestos, coletaram mais de 1,7 milhões de assinaturas de apoio à comunidade tradicional, dispararam emails e twitters, e organizaram uma visita de líderes do governo e do primeiro-ministro Mizengo Pinda à área, para que ouvissem dos próprios Masai como a criação do corredor de caça comprometeria sua subsistência. Os militantes também pressionaram os bancos internacionais envolvidos na operação.
Os Masai do distrito de Loliondo ganharam uma batalha – mas não a guerra. Como indica o The Guardian, essa não é a primeira vez que o website Avaaz conseguiu retardar os planos do governo quanto ao afastamento da comunidade. Vitória semelhante foi registrada no ano passado. A novela ainda pode ter novas reviravoltas. E este nem é o único projeto polêmico na mesa do governo da Tanzânia envolvendo o Serengueti. Post que eu publiquei aqui, há dois anos e meio, discutia uma estrada que o presidente Jakaya Kikwete pretendia (e ainda pretende) construir, cortando o país e o parque nacional ao meio, perturbando uma área que é palco de uma gigantesca migração anual de animais.
Daria para tocar um grande empreendimento turístico e construir uma estrada sem detonar com comunidades tradicionais e ecossistemas? Talvez desse – mas é claro que o governo da Tanzânia não está muito preocupado em gastar a massa cinzenta pensando em modelos de mitigação e vias alternativas.[:en]
Uma campanha global que usou tanto recursos modernos como tradicionais de militância levou o governo da Tanzânia a desistir de banir a comunidade Masai de uma área prometida à família real de Dubai, que pretende criar ali uma reserva de caça de luxo. Cerca de 40 mil Masai, pastores nômades, tribais, que vivem há milênios às margens do Parque Nacional do Serengueti, seriam proibidos de levar seu gado para pastar na área de 1.500 quilômetros quadrados que foi negociada pelo governo com empreendedores dos Emirados Árabes. Além disso, moradores de seis aldeias teriam de deixar suas casas.
A empresa favorecida, a Ortello Business Corporation, já vinha operando na região de Loliondo havia 20 anos, trazendo grupos de clientes milionários, que descem num aeroporto privado, saem em expedições de caça e praticamente não deixam recursos no local. Um artigo de março deste ano, no diário britânico The Guardian, descreve o clima de crescente pressão sobre os Masai, não só por parte dos empreendedores mas também da polícia.
A decisão do governo foi revertida após 18 meses de ativismo em que vários grupos saíram em defesa dos Masai, sob a coordenação do site de militância online Avaaz. Eles organizaram protestos, coletaram mais de 1,7 milhões de assinaturas de apoio à comunidade tradicional, dispararam emails e twitters, e organizaram uma visita de líderes do governo e do primeiro-ministro Mizengo Pinda à área, para que ouvissem dos próprios Masai como a criação do corredor de caça comprometeria sua subsistência. Os militantes também pressionaram os bancos internacionais envolvidos na operação.
Os Masai do distrito de Loliondo ganharam uma batalha – mas não a guerra. Como indica o The Guardian, essa não é a primeira vez que o website Avaaz conseguiu retardar os planos do governo quanto ao afastamento da comunidade. Vitória semelhante foi registrada no ano passado. A novela ainda pode ter novas reviravoltas. E este nem é o único projeto polêmico na mesa do governo da Tanzânia envolvendo o Serengueti. Post que eu publiquei aqui, há dois anos e meio, discutia uma estrada que o presidente Jakaya Kikwete pretendia (e ainda pretende) construir, cortando o país e o parque nacional ao meio, perturbando uma área que é palco de uma gigantesca migração anual de animais.
Daria para tocar um grande empreendimento turístico e construir uma estrada sem detonar com comunidades tradicionais e ecossistemas? Talvez desse – mas é claro que o governo da Tanzânia não está muito preocupado em gastar a massa cinzenta pensando em modelos de mitigação e vias alternativas.