A verba para manter em operação uma entidade que se destina a popularizar a ciência sobre a mudança climática na Austrália deixou de vir do governo e passou a vir de cidadãos. Cerca de 20 mil australianos doaram uma média de 50 dólares nas últimas semanas para o recém-formado Climate Council.
A entidade, criada em meados de setembro, previa arrecadar 1 milhão de dólares australianos (pouco mais de dois milhões de reais) no primeiro ano de atuação, mas acabou levantando a soma em questão de dias. Com isso, o que era a Climate Commission, um órgão do governo australiano, se transformou no Climate Council, entidade sem fins lucrativos “que será ardentemente independente e apolítica”.
Originalmente criada pelo governo Trabalhista da primeira ministra Julia Gillard em fevereiro de 2011 com o objetivo de gerar informações confiáveis sobre a mudança do clima na Austrália, a Climate Commision foi extinta pelo recém-eleito governo conservador da Austrália.
Com um orçamento de 5,4 milhões de dólares para quatro anos e chefiada pelo paleontólogo Tim Flannery, nos últimos dois anos a comissão organizou seminários públicos e programas para ajudar cientistas a lidar com a mídia – fator muito importante em um país onde a mídia é dominada por Rupert Murdoch e suas publicações “céticas” quanto à mudança climática.
Alguns dos 27 relatórios publicados pela comissão tiveram impacto nacional e atraíram a atenção da mídia para a necessidade de descarbonizar a economia e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A Austrália é um dos maiores emissores per capita do mundo.
Em 7 de setembro, entretanto, os australianos elegeram um governo conservador, chefiado por Tony Abbott, cujas primeiras ações como primeiro ministro incluíram a extinção da Climate Commission. A razão alegada não foi a convicção de Abbott de que a ciência da mudança climática é “bobagem”, mas o corte de custos.
Flannery e outros cientistas participantes da comissão se apressaram em organizar uma entidade independente e sem fins lucrativos ara continuar o trabalho. Anunciaram que trabalhariam voluntariamente e pediram, por meio do website do Climate Council, doações de pessoas físicas.
Críticos dizem que se trata de mais um grupo de pressão e não de uma entidade independente, uma vez que o Climate Council busca financiamento de pessoas preocupadas com a mudança do clima para gerar informações sobre o assunto. Mas Flannery garante que a intenção é devolver o dinheiro aos doadores que pressionem o Council sobre questões de conteúdo. Segundo ele, a entidade espera viver de doações do público, mas dependendo de como as coisas se desenvolverem talvez tenha que “inventar um novo método”. “Ninguém fez o que estamos fazendo antes”, disse.
Enquanto os cidadãos preocupados com a mudança do clima comemoram a continuidade do trabalho da comissão, o novo governo australiano também considera o fato uma vitória, pois “confirma que a comissão não precisava ser um órgão financiado pelo contribuinte”.
O desafio para o Climate Council, além de garantir financiamento e independência a longo prazo, é assegurar que a mensagem sobre a mudança do clima chegue não apenas àqueles familiarizados e preocupados com o assunto, mas à grande maioria dos australianos.