Com o governo recém-eleito trabalhando no desmonte das políticas para o clima e boa parte da mídia “cética” quanto ao assunto, ambientalistas na Austrália vêm lançando mão de outras ferramentas para mobilizar a sociedade quanto às mudanças do clima. Entre elas, o desinvestimento em empresas e negócios que produzem, usam ou vendem combustíveis fósseis.
Como em outros países ricos, a Austrália tem sido alvo de uma campanha para incentivar pequenos e grandes poupadores a mudar o alvo de seus investimentos. Em vez de aplicar com vistas a maximizar os lucros ao investir em companhias que contribuem para a mudança do clima, a ideia é canalizar recursos para empresas e inovações que busquem solucionar a crise ambiental que se agiganta.
“Se é errado destruir o clima, então é errado lucrar com essa destruição”, diz o website da campanha Go Fossil Free. “Acreditamos que instituições educacionais e religiosas, governos municipais e estaduais, e outras instituições que servem ao bem comum devem desinvestir dos combustíveis fósseis”.
A campanha diz que cerca de 200 companhias de capital aberto detêm a maior parte das reservas provadas de carvão, petróleo e gás do mundo. Por meio do desinvestimento, os ativistas querem que tais empresas deixem de explorar novas reservas, parem de fazer lobby junto a governos para manter incentivos a seus produtos e atividades, e prometam manter a maior parte das atuais reservas debaixo do solo para sempre.
O outro lado da moeda é favorecer o investimento em energias limpas e formas de negócio cujo principal objetivo seja o desenvolvimento sustentável.
Os ativistas sabem que o estrago que podem fazer diante do gigantismo de algumas das empresas petróleo e carvão – e seu domínio do mercado financeiro – é pequeno. A estratégia é, então, obter o apoio de instituições como fundos de pensão, igrejas e universidades – que administram milhões em doações de ex-alunos – para começar a plantar a incerteza sobre a viabilidade do modelo de negócios das empresas que exploram combustíveis fósseis.
De fato, se o compromisso mundial de reduzir as emissões de gases de efeito estufa para limitar o aquecimento global a 2 graus fosse realizado, 80% das reservas de combustíveis fósseis que ainda estão debaixo da terra teriam de ficar por ali mesmo, como mostrou o Carbon Tracker Initiative no início do ano. Isso significa que os investimentos nas empresas que exploram tais recursos é um péssimo negócio para o aplicador.
Mais do que econômica, porém, a estratégia dos ativistas é política e moral. “Assim como a batalha pelos Direitos Civis nos EUA ou a luta para acabar com o Apartheid na África do Sul, quanto mais pudermos fazer da mudança climática um tema profundamente moral, mais conseguiremos fazer com que a sociedade aja”, diz o site da campanha Go Fossil Free .
Além da Austrália, os ativistas atuam nos EUA, Canadá, Reino Unido, Europa e Nova Zelândia. Segundo um estudo recente feito pela Universidade de Oxford, a campanha tem sido mais bem sucedida do que esforços passados pelo desinvestimento e representa um sério risco de reputação para as empresas do setor.
Na Austrália, os ativistas angariaram o apoio da Uniting Church of Australia, de alguns fundos de pensão de funcionários públicos, há dezenas de campanhas espalhadas pelas universidades e investidores individuais estão sendo incentivados a abandonar os quatro grandes bancos australianos em favor de instituições menores e voltadas para investimentos nas comunidades locais.
Maior exportador de carvão do mundo, a Austrália é importante para a campanha, operada pela 350.org, ONG encabeçada pelo escritor Bill McKibben. Ele lembra que empresas de carvão anunciaram intenções de triplicar sua produção na Austrália ao longo dos próximos anos, quando o mundo deveria estar agindo para limitar o aumento das temperaturas a 2 graus. Se tais planos forem em frente, diz McKibben, “a Austrália pode causar um terço desse aumento de temperatura”.