Desigualdade social não para de crescer no mundo e se mostra um desafio comparável à mudança climática
A ampliação da desigualdade social é uma dos problemas globais mais urgentes a serem enfrentados, sob pena de aumentar as tensões sociais e políticas dentro e entre os países. É o que aponta o relatório da Oxfam Working for the Few – Political capture and economic inequality, lançado pela organização não-governamental às vésperas do Fórum Econômico Mundial.
O relatório alerta para uma tendência alarmante: a desigualdade social está crescendo na maioria dos países, inclusive nos mais desenvolvidos. Brasil, México e Argentina são as poucas exceções de nações que vêm reduzindo os níveis de desigualdade.
Uma comparação numérica ilustra bem essas distorções. A riqueza do mundo pode ser dividida em duas. Quase metade pertence a 1% da população, no topo da pirâmide social. A outra metade está distribuída (desigualmente) entre os 99% restante.
Além de chamar a atenção para os dados, a Oxfam nomeia a “captura política” como fator decisivo para a ampliação das disparidades. A influência crescente do poder econômico sobre os governos e a formulação de políticas cria um ciclo vicioso de favorecimento das elites e mina os processos democráticos.
A opinião pública aparenta estar a par desse jogo de poder – de acordo com pesquisa conduzida no Brasil, Índia, África do Sul, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos), a maioria da população acredita que as leis se seus países são enviesadas em favor das elites.
Desafio econômico
A expansão da desigualdade de renda foi considerada pelo Fórum Econômico Mundial como um dos maiores riscos ao progresso do mundo, desafio a ser enfrentado nos próximos dois anos. O documento Outlook on the Global Agenda 2014, do fórum, afirma que “a desigualdade impacta a estabilidade social nos países e ameaça a segurança em escala global”. Por esse motivo, o documento convoca empresas a também integrar os esforços pela redução da concentração de renda.
“Sem um esforço articulado para combater a desigualdade, a cascata de privilégios e desvantagens continuará ao longo das gerações. Em breve, viveremos em um mundo onde a equidade de oportunidades será apenas um sonho”, defende Winnie Byanyima, Diretor Executivo da Oxfam.
A organização critica duramente empresas que utilizam artifícios como paraísos fiscais e sonegação de impostos para não cumprirem suas obrigações fiscais, além daquelas que usam o poder econômico para pressionar governos a tomar decisões que as favoreçam em detrimento das necessidades dos cidadãos. O documento também traz um conjunto de recomendações de políticas que promovam a regulação do mercado para a promoção do crescimento sustentável e equitativo.
A urgência da questão torna oportuna a inclusão de metas para a redução da desigualdade social na agenda de objetivos de desenvolvimento sustentável pós-2015. Vale ressaltar que essas disparidades são motores de outras distorções, como a insegurança alimentar, a inequidade de gênero e a superexploração de recursos naturais.