Nos Estados Unidos, a população das áreas centrais cresce mais que nas bordas. Segundo jornalista, os subúrbios tornaram-se irrelevantes para a geração do milênio
Os americanos estão trocando as mansões e gramados dos subúrbios pelos centros urbanos, revertendo uma tendência iniciada há mais de 100 anos, quando os automóveis permitiram a expansão de seus horizontes. A população das áreas centrais das cidades está crescendo a um ritmo maior do que a da periferia em 27 das 51 áreas metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes, segundo o censo dos Estados Unidos. É uma revolução demográfica que pode ter impactos ambientais positivos no futuro.
Um livro recém-lançado, The End of the Suburbs (O Fim dos Subúrbios), de Leigh Gallagher, tenta entender esse fenômeno. A autora, que é jornalista da revista Fortune, diz que os subúrbios dos EUA estão se tornando pobres e violentos, perdendo o glamour e a capacidade de reter jovens e empresas. (Mais em reportagem da revista Time.)
Desde 2006, ela escreve, praticamente nenhum shopping center foi construído em uma área suburbana. Dados da Brookings Institution, organização independente que estuda políticas públicas urbanas no país, vão na mesma direção, e mostram que hoje há mais pobres vivendo na periferia do que nas cidades e zonas rurais. A população abaixo da linha de pobreza que vive nos subúrbios cresceu 65% desde 2000.
Além disso, o país também estaria vivendo uma revolução demográfica, como o encolhimento das famílias e o desinteresse das novas gerações em casar, ter filhos e até mesmo dirigir. Segundo Leigh Gallagher, os subúrbios tornaram-se irrelevantes para a geração do milênio, jovens que nasceram após 1980 e chegaram ao mercado de trabalho a partir da virada do século.
“Vivi meus 47 anos em subúrbios, e achava completamente impensável sair dali”, diz Cathy Nguyen, que se mudou recentemente para a minha vizinhança em Portland, no estado do Oregon, por insistência do marido, que conseguiu um emprego na cidade. “Hoje, vejo que se paga um alto preço para viver no subúrbio”, ela diz, encantada com a possibilidade de andar até uma padaria ou biblioteca pública.
O filho mais velho, que está terminando a universidade na Califórnia, tem um carro que nunca tira da garagem. O segundo, na escola secundária, não tem o menor interesse em tirar carta. Para Cathy e sua família, o subúrbio já não faz qualquer sentido.
Qual a relevância dessa tendência de um ponto de vista ambiental? Enorme – quem mora na cidade dirige muito menos, tem residências menores (e, por conseguinte, utiliza menos energia com refrigeração, aquecimento e iluminação) e requer menos investimento em infraestrutura e insumos per capita. Não é à toa que as cidades têm uma pegada de carbono muito menor do que os subúrbios.
Estudos recentes indicam que todos os ganhos de escala das cidades americanas são cancelados pelo desperdício da expansão dos subúrbios. “A pegada de carbono média de uma família que vive no centro de uma metrópole densamente povoada é cerca de 50% inferior à média, enquanto a de uma família em subúrbios distantes é até duas vezes superior à média: uma diferença de quatro vezes entre os locais de menor e maior emissão (de gases estufa)”, escreve Daniel Kammen, do Laboratório de Energias Renováveis e Apropriadas de Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley na edição de fevereiro da revista National Geographic. Kammen, juntamente com Christopher Jones, do mesmo laboratório, acaba de divulgar um mapa que esmiúça as disparidades regionais da pegada de carbono doméstica dos EUA. Ele lembra que os principais responsáveis pela pegada de carbono são a renda doméstica (consumismo), a posse de um carro e o tamanho da casa, todos elementos consideravelmente maiores no subúrbio.
The End of Suburbs foi recebido com ceticismo por alguns urbanistas e jornalistas que acham que o anúncio da morte dos subúrbios foi precipitado. Eles lembram que nem todas as comunidades suburbanas são iguais. Algumas têm centros comerciais e economia vibrantes e continuam atraindo empresas e jovens.
Mas está cada vez mais claro que os subúrbios que negligenciam o transporte público e impõem longas horas ao volante têm pés de barro e estão fadados à decadência. Quem diria que a sociedade mais “carrocêntrica” e exuberante do planeta um dia aspiraria a uma vida mais simples, contida e sustentável.
*Jornalista especializada em meio ambiente, escreve para os blogs De Lá pra Cá e Deep Brazil[:en]Nos Estados Unidos, a população das áreas centrais cresce mais que nas bordas. Segundo jornalista, os subúrbios tornaram-se irrelevantes para a geração do milênio
Os americanos estão trocando as mansões e gramados dos subúrbios pelos centros urbanos, revertendo uma tendência iniciada há mais de 100 anos, quando os automóveis permitiram a expansão de seus horizontes. A população das áreas centrais das cidades está crescendo a um ritmo maior do que a da periferia em 27 das 51 áreas metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes, segundo o censo dos Estados Unidos. É uma revolução demográfica que pode ter impactos ambientais positivos no futuro.
Um livro recém-lançado, The End of the Suburbs (O Fim dos Subúrbios), de Leigh Gallagher, tenta entender esse fenômeno. A autora, que é jornalista da revista Fortune, diz que os subúrbios dos EUA estão se tornando pobres e violentos, perdendo o glamour e a capacidade de reter jovens e empresas. (Mais em reportagem da revista Time.)
Desde 2006, ela escreve, praticamente nenhum shopping center foi construído em uma área suburbana. Dados da Brookings Institution, organização independente que estuda políticas públicas urbanas no país, vão na mesma direção, e mostram que hoje há mais pobres vivendo na periferia do que nas cidades e zonas rurais. A população abaixo da linha de pobreza que vive nos subúrbios cresceu 65% desde 2000.
Além disso, o país também estaria vivendo uma revolução demográfica, como o encolhimento das famílias e o desinteresse das novas gerações em casar, ter filhos e até mesmo dirigir. Segundo Leigh Gallagher, os subúrbios tornaram-se irrelevantes para a geração do milênio, jovens que nasceram após 1980 e chegaram ao mercado de trabalho a partir da virada do século.
“Vivi meus 47 anos em subúrbios, e achava completamente impensável sair dali”, diz Cathy Nguyen, que se mudou recentemente para a minha vizinhança em Portland, no estado do Oregon, por insistência do marido, que conseguiu um emprego na cidade. “Hoje, vejo que se paga um alto preço para viver no subúrbio”, ela diz, encantada com a possibilidade de andar até uma padaria ou biblioteca pública.
O filho mais velho, que está terminando a universidade na Califórnia, tem um carro que nunca tira da garagem. O segundo, na escola secundária, não tem o menor interesse em tirar carta. Para Cathy e sua família, o subúrbio já não faz qualquer sentido.
Qual a relevância dessa tendência de um ponto de vista ambiental? Enorme – quem mora na cidade dirige muito menos, tem residências menores (e, por conseguinte, utiliza menos energia com refrigeração, aquecimento e iluminação) e requer menos investimento em infraestrutura e insumos per capita. Não é à toa que as cidades têm uma pegada de carbono muito menor do que os subúrbios.
Estudos recentes indicam que todos os ganhos de escala das cidades americanas são cancelados pelo desperdício da expansão dos subúrbios. “A pegada de carbono média de uma família que vive no centro de uma metrópole densamente povoada é cerca de 50% inferior à média, enquanto a de uma família em subúrbios distantes é até duas vezes superior à média: uma diferença de quatro vezes entre os locais de menor e maior emissão (de gases estufa)”, escreve Daniel Kammen, do Laboratório de Energias Renováveis e Apropriadas de Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley na edição de fevereiro da revista National Geographic. Kammen, juntamente com Christopher Jones, do mesmo laboratório, acaba de divulgar um mapa que esmiúça as disparidades regionais da pegada de carbono doméstica dos EUA. Ele lembra que os principais responsáveis pela pegada de carbono são a renda doméstica (consumismo), a posse de um carro e o tamanho da casa, todos elementos consideravelmente maiores no subúrbio.
The End of Suburbs foi recebido com ceticismo por alguns urbanistas e jornalistas que acham que o anúncio da morte dos subúrbios foi precipitado. Eles lembram que nem todas as comunidades suburbanas são iguais. Algumas têm centros comerciais e economia vibrantes e continuam atraindo empresas e jovens.
Mas está cada vez mais claro que os subúrbios que negligenciam o transporte público e impõem longas horas ao volante têm pés de barro e estão fadados à decadência. Quem diria que a sociedade mais “carrocêntrica” e exuberante do planeta um dia aspiraria a uma vida mais simples, contida e sustentável.
*Jornalista especializada em meio ambiente, escreve para os blogs De Lá pra Cá e Deep Brazil