Buscar o reequilíbrio com o ambiente e suas formas de vida é importante, porque isso se traduz em um cenário mais favorável e seguro para o desenvolvimento e a produção econômica, gerando benefícios para a sociedade. Certo? A afirmação, que parece correta e constitui a base do pensamento dominante da sustentabilidade, reflete a forte visão antropocêntrica que nós, humanos, ainda carregamos acerca da vida na Terra.
Desde a chamada Idade da Razão, que iluminou o conhecimento científico e combateu com objetividade o obscurantismo religioso, o que ficou no lugar das sociedades teocêntricas do mundo ocidental foi o ser humano, precisamente no centro das atenções.René Descartes e outros pensadores modernos contribuíram para organizar o conhecimento em partes e separar sujeito de objeto, sendo o primeiro, o Homem, e o segundo, todo o resto. A natureza, segregada da cultura humana, ficou a serviço das pessoas.
Hoje, o movimento pela sustentabilidade registra importantes avanços em busca do reequilíbrio perdido desde a vigência dessa cultura de dominação. Mas é preciso repactuar o propósito central dessa busca. Será de caráter meramente utilitário (a natureza reequilibrada me traz benefícios), ou a evolução civilizatória implica rejeitar a hierarquia, com o ser humano acima de tudo, e adotar uma visão em rede, baseada na cooperação e respeito entre todos os participantes de uma só teia?
Ao mostrar nesta edição a forma como ainda tratamos outras espécies animais, o recado é que a humanidade – e o próprio movimento sustentabilista – ainda tem um longo caminho a trilhar nessa evolução.
Boa leitura!