Que o povo rebole contra o bullying, as bolas perdidas, os trens-bola, a obesidade e os pobres mortos de fome
A bola disse que vai fazer greve. Se não nesta Copa, em breve. Todos os jogos vão terminar empatados. Azar o seu, nada vai tirar essa ziquizira: tudo zero a zero. Nas redes, nas cestas, ela não entra. No fundo da quadra de tênis, de vôlei. A bola não vai mais pro buraco, nos campos de golfe, nas mesas de sinuca. A bola não está nem aí, não vai dar a menor bola. A bola não se abala, nem se embola. Se ela não pega no embalo, não rola.
Não tem remédio nem bula. A bola já avisou que quando entrar de greve não vai ter firula. Milhares de bolas se reuniram ontem no sindicato. Estavam boladas. Bolas de couro, meia, gude, papel, neve, sabão, meleca. Precisam arrecadar fundos pro movimento. Vão dar um baile, cobrar entrada, o baile da bola, com o cordão do bola preta. A bola gira, corre de efeito, dança, estufa no peito. Vai ter samba, simbora?
A bola cansou de tomar pancada de chuteira, sentir o cheiro da sola do pé. levar uma tacada, cair pelas tabelas, rolar pelas beiradas, estourar com vento forte, derreter nos dias quentes, ser a prima pobre da lua. Ela quer fugir da rotina, ganhar a liberdade na rua.
A bola cansou de ser uma circunferência, a bola, meus amigos, perdeu a paciência. Quer ser um triângulo retângulo, uma asa-delta, um estalo de beijo, uma lupa pra enxergar o mundo maior ainda do que ele é. Carambolas, ela quer ser o tempero da baiana, o Neymar e a banana, o homem e a mulher. Em gomos homos, sei. A bola quer ser gay.
Ai, meu Deus, se a bola fizer greve é grave, este país para. Mas a bola não quer saber. Que o povo rebole, disse o líder do movimento rebelde, com bule cheio de café em uma das mãos, bolo na outra, bolachas, na hora do lanche, o jornalista gravando. Contra o bullying, as bolas perdidas, os trens-bola, a obesidade e os pobres mortos de fome.
A realidade não é bela pra quem é bola. A bola está na marca do pênalti, com a corda no pescoço. Tem bola rolando a ribanceira, caindo no fundo do poço. E, com tanto desemprego, as coitadas no osso, tem bola dentro de abacate fingindo que é caroço. Em algumas religiões, tamanho o desespero e o descontentamento, ela virou personagem do Antigo Testamento. Abel escapou da degola, Caim matou a bola.
A bola saiu fula da vida com o gandula, que trocou as bolas. A bola queria ser uma abelha ou uma bolha e sair voando a cruzar oceanos, terras, céus, sem cair por causa da força da gravidade. A bola não quer que pensem que existe uma bola debaixo do vestido da mulher grávida. A bola tem pressa, quer correr ávida, bater as asas. Desvendar os mistérios, quicar impávida.
O líder do movimento entrou no curso de oratória. Deseja preparar um discurso e liderar as massas pra fazer história, pois, quando o assunto é a bola, além do destino final, conta a trajetória.
A bola é explorada. A culpa é de quem gosta de ver a bola em jogo, no ginásio, na várzea, no estádio, em casa, na quadra do condomínio, no circo pegando fogo. São os verdadeiros culpados por tudo que aí está. Ser bola é uma barra, um berro que corta o couro, o plástico, a borracha, o material do corpo da esfera. A bola não ganha nada pra se tornar a alegria da galera.
A bola quer ter filhos, estourar a bolsa dentro de uma balsa, em mar aberto. um parto ao zarpar do porto. Gerar bolinhas, bolas, bolões de todos os tipos e cores. A bola quer tudo isso e mais um pouco, ora bolas. Deixar um legado às próximas gerações. A bola não quer ser confundida com tudo que de perto ou longe parece bola. Melão, melancia, limão, planeta, gota, floco de algodão, pedaço de isopor, remédio, gato encolhido, umbigo. Quer ter identidade própria.
A bola conectada, de antena parabólica ligada no que acontece na Europa ou no Japão, planeja levar o movimento pra internet e pra televisão. Botar pra quebrar a vidraça, encontrar a graça, escrever um manifesto em nome da classe. Correr ao domínio do craque, escapar da canela do perna de pau. Atravessar por cima do muro, perder-se no fundo do quintal. E pra buscar o melhor no futuro quer ser bola de cristal.
Por isso vai fazer greve. Se não nesta Copa, em breve. Podem esperar todos vocês, porque a bola é a bola da vez.[:en]Que o povo rebole contra o bullying, as bolas perdidas, os trens-bola, a obesidade e os pobres mortos de fome
A bola disse que vai fazer greve. Se não nesta Copa, em breve. Todos os jogos vão terminar empatados. Azar o seu, nada vai tirar essa ziquizira: tudo zero a zero. Nas redes, nas cestas, ela não entra. No fundo da quadra de tênis, de vôlei. A bola não vai mais pro buraco, nos campos de golfe, nas mesas de sinuca. A bola não está nem aí, não vai dar a menor bola. A bola não se abala, nem se embola. Se ela não pega no embalo, não rola.
Não tem remédio nem bula. A bola já avisou que quando entrar de greve não vai ter firula. Milhares de bolas se reuniram ontem no sindicato. Estavam boladas. Bolas de couro, meia, gude, papel, neve, sabão, meleca. Precisam arrecadar fundos pro movimento. Vão dar um baile, cobrar entrada, o baile da bola, com o cordão do bola preta. A bola gira, corre de efeito, dança, estufa no peito. Vai ter samba, simbora?
A bola cansou de tomar pancada de chuteira, sentir o cheiro da sola do pé. levar uma tacada, cair pelas tabelas, rolar pelas beiradas, estourar com vento forte, derreter nos dias quentes, ser a prima pobre da lua. Ela quer fugir da rotina, ganhar a liberdade na rua.
A bola cansou de ser uma circunferência, a bola, meus amigos, perdeu a paciência. Quer ser um triângulo retângulo, uma asa-delta, um estalo de beijo, uma lupa pra enxergar o mundo maior ainda do que ele é. Carambolas, ela quer ser o tempero da baiana, o Neymar e a banana, o homem e a mulher. Em gomos homos, sei. A bola quer ser gay.
Ai, meu Deus, se a bola fizer greve é grave, este país para. Mas a bola não quer saber. Que o povo rebole, disse o líder do movimento rebelde, com bule cheio de café em uma das mãos, bolo na outra, bolachas, na hora do lanche, o jornalista gravando. Contra o bullying, as bolas perdidas, os trens-bola, a obesidade e os pobres mortos de fome.
A realidade não é bela pra quem é bola. A bola está na marca do pênalti, com a corda no pescoço. Tem bola rolando a ribanceira, caindo no fundo do poço. E, com tanto desemprego, as coitadas no osso, tem bola dentro de abacate fingindo que é caroço. Em algumas religiões, tamanho o desespero e o descontentamento, ela virou personagem do Antigo Testamento. Abel escapou da degola, Caim matou a bola.
A bola saiu fula da vida com o gandula, que trocou as bolas. A bola queria ser uma abelha ou uma bolha e sair voando a cruzar oceanos, terras, céus, sem cair por causa da força da gravidade. A bola não quer que pensem que existe uma bola debaixo do vestido da mulher grávida. A bola tem pressa, quer correr ávida, bater as asas. Desvendar os mistérios, quicar impávida.
O líder do movimento entrou no curso de oratória. Deseja preparar um discurso e liderar as massas pra fazer história, pois, quando o assunto é a bola, além do destino final, conta a trajetória.
A bola é explorada. A culpa é de quem gosta de ver a bola em jogo, no ginásio, na várzea, no estádio, em casa, na quadra do condomínio, no circo pegando fogo. São os verdadeiros culpados por tudo que aí está. Ser bola é uma barra, um berro que corta o couro, o plástico, a borracha, o material do corpo da esfera. A bola não ganha nada pra se tornar a alegria da galera.
A bola quer ter filhos, estourar a bolsa dentro de uma balsa, em mar aberto. um parto ao zarpar do porto. Gerar bolinhas, bolas, bolões de todos os tipos e cores. A bola quer tudo isso e mais um pouco, ora bolas. Deixar um legado às próximas gerações. A bola não quer ser confundida com tudo que de perto ou longe parece bola. Melão, melancia, limão, planeta, gota, floco de algodão, pedaço de isopor, remédio, gato encolhido, umbigo. Quer ter identidade própria.
A bola conectada, de antena parabólica ligada no que acontece na Europa ou no Japão, planeja levar o movimento pra internet e pra televisão. Botar pra quebrar a vidraça, encontrar a graça, escrever um manifesto em nome da classe. Correr ao domínio do craque, escapar da canela do perna de pau. Atravessar por cima do muro, perder-se no fundo do quintal. E pra buscar o melhor no futuro quer ser bola de cristal.
Por isso vai fazer greve. Se não nesta Copa, em breve. Podem esperar todos vocês, porque a bola é a bola da vez.