Poucos cenários talvez sejam tão complexos para se pensar em sustentabilidade do que localidades e comunidades destruídas por guerras e por catástrofes naturais. Geralmente, a atenção humanitária a crises humanas foca basicamente nas necessidades imediatas das vítimas necessitadas e, num momento posterior, na reconstrução da vida social, econômica, cultural e políticas dessas pessoas. É nesse segundo momento que as agências humanitárias falham em não observar a importância de questões ambientais para uma solução planejada de longo prazo para essas crises.
Em estudo recente, o Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, sigla em inglês) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) deixaram evidente como a desatenção de atores humanitários ao meio ambiente pode comprometer sua própria missão fundamental: salvar vidas e restaurar o sustento dessas pessoas.
Neste caso, alguns episódios são singulares. A destruição de meios de subsistência e o desmatamento como resultado da produção de tijolos para operações humanitárias em Darfur, no Sudão. O esgotamento de poços artesanais devido ao excesso de perfuração por parte de organizações humanitárias no Afeganistão. A pesca excessiva decorrente da distribuição de barcos de pesca por parte de agências estrangeiras no Sri Lanka, que resultou no esgotamento da pesca no pós-tsunami de 2004. O não cumprimento de normas de tratamento de resíduos no Haiti, o que levou à contaminação da água e, consequentemente, ao maior surto de cólera da história recente.
Estes episódios reforçam um problema fundamental para o mundo humanitário moderno: o desafio da efetividade da ajuda humanitária. Em muitas situações, uma estratégia de ajuda que não leva em consideração as condições ambientais locais, mesmo durante o estágio inicial de emergência, pode comprometer o resultado final esperado. Ou seja, aquilo que deveria ajudar pode se transformar em algo nocivo àquelas pessoas.
O desafio da efetividade da ajuda não está nas mãos apenas das agências: os doadores, em particular os grandes financiadores, também são responsáveis por isso. No que diz respeito ao meio ambiente na ajuda humanitária, os doadores ainda não possuem considerações ambientais nas suas políticas de doação, muito menos critérios ambientais para a destinação de recursos de ajuda.
A conclusão do estudo é clara: a abordagem “business as usual” no planejamento e gerenciamento de questões ambientais em ação humanitária não é mais aceitável, particularmente num mundo que passa a enfrentar os efeitos negativos das mudanças do clima. Uma mudança estrutural, tanto na fundamentação e gestão como também na prática em campo, é necessária para que as organizações humanitárias – governamentais, intergovernamentais e não-governamentais – possam, de fato, ajudar às pessoas com necessidade crítica.
Confira a íntegra do estudo na biblioteca virtual do site do GVces.
Bruno Toledo