Iniciativa do Hospital das Clínicas quer mapear e conhecer o perfil do ciclista de São Paulo para sugerir políticas públicas que protejam o ciclista e incentivem o transporte sobre duas rodas
Menos de dois dias depois do lançamento do Projeto Pedal, que ocorreu na segunda-feira (01.09), cerca de 600 ciclistas já estavam cadastrados no site criado pela instituição. A ideia do programa, a longo e médio prazos, é suprir a demanda por informações científicas que possam balizar políticas públicas em saúde e em mobilidade urbana, voltadas para a promoção do ciclismo e para a segurança das pessoas que se utilizam desse meio de transporte (tanto para locomoção ou lazer, quanto como forma de praticar atividade física).
“Conhecendo perfil desse ciclista, pretendemos sugerir pesquisas aqui para o Incor, para conhecer os benefícios da atividade. Por exemplo: será que pedalar melhora doenças como diabetes e asma, ou piora? A poluição tem efeito inflamatório. Sabemos atividade esportiva, em dosagem adequada, tem efeito anti-inflamatório. Acontece que pedalar pode ser bom para um sujeito que não tenha problemas crônicos, mas ruim para o asmático, por exemplo”, exemplifica o pneumologista Ubiratan de Paula Santos, coordenador do programa. “Essas informações podem nos ajudar a modular o exercício: pode ser que exista, por exemplo, um horário menos nocivo para o asmático pedalar.”
Nesse primeiro momento, os ciclistas estão sendo incentivados a cadastrar seus dados no site do Programa. No questionário, o ciclista deve responder, por exemplo, em que tipo de via ele mais trafega de bicicleta e se já teve algum “evento adverso” (cardiovascular ou respiratório) ao pedalar pela cidade.
As perguntas fazem sentido já que, em 2012, segundo a Organização Mundial de Saúde, a poluição do ar causou a morte de 7 milhões de pessoas em todo o mundo.
Santos afirma que há uma política crescente de incentivo do uso da bicicleta como modal de transporte, inclusive no Brasil, e isso certamente vai aumentar o número de ciclistas nas ruas.
“Hoje temos 100 km de ciclovias, mas o prefeito Fernando Haddad fala em implantar 400 km. Isso significa que mais gente vai usar a bicicleta como meio de locomoção. Hoje em dia, a cidade é muito desfavorável ao uso da bicicleta. Até porque, aqueles que menos poluem, que são os pedestres e os ciclistas, são os que mais sofrem com a poluição”, afirma Santos.
“A média de material particulado medida pela Cetesb em São Paulo fica em 20 microgramas por metro cúbico de ar. Mas fizemos um estudo com taxistas e funcionários da CET (amarelinhos) e descobrimos que eles estavam expostos diariamente a 70 microgramas por metro cúbico”, exemplifica Santos. Ele afirma que as informações colhidas pelo site serão úteis para adequar o uso do exercício numa cidade adversa como São Paulo.
“Até agora, os inscritos são na maioria pessoas que usam a bicicleta por lazer ou para praticar atividade física. Mas queremos atingir pessoas que estão em bairros mais distantes e usam a bicicleta como meio de locomoção”, afirma o pneumologista.