Faltando menos de duas semanas para a tão esperada Cúpula do Clima, convocada por Ban Ki-Moon para acelerar os esforços de negociação do novo acordo climático global, ainda persistem dúvidas quanto ao que podemos esperar de resultados desse encontro.
O secretário-geral da ONU tem vocalizado a demanda da sociedade civil por mais ações efetivas no enfrentamento das mudanças climáticas. Nesse sentido, a principal expectativa para a Cúpula tem sido o anúncio de medidas mais ambiciosas na redução das emissões de gases de efeito estufa por parte dos líderes que participarão do encontro em Nova York. A pressão da ONU e da sociedade civil mobilizada em Nova York e em todo o mundo durante a Cúpula é para que os chefes de Estado façam esse anúncio, mas isso depende de um passo anterior: quem irá participar desse encontro. Por exemplo, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, ainda não confirmou sua presença na Cúpula. Sem presenças relevantes, os resultados da Cúpula podem ser inócuos, independente do tipo de anúncio feito.
Além de debater ações governamentais, a Cúpula também destacará iniciativas realizadas por empresas e sociedade civil, como uma forma de mostrar que a luta contra a mudança do clima não depende apenas da ação dos Estados, mas também de seus cidadãos e do setor privado. Porém, a participação de representantes desses setores será limitada durante a Cúpula, tendo em vista as restrições de espaço, agenda e o perfil dos dignatários presentes. Assim, a voz não-governamental deve soar mais forte fora do que dentro do plenário da Assembleia Geral, com a realização da marcha em Manhattan e de mais de 1.500 eventos ao redor do mundo.
No entanto, mesmo considerando os esforços de Ban Ki-Moon e a pressão da sociedade civil, o desafio da ambição deve persistir nas negociações de compromissos e metas para depois de 2020. Mesmo com anúncios recentes de medidas importantes por Estados Unidos e China, muitos governos ainda ressaltam a questão do custo da ação efetiva como um obstáculo para aumentar a ambição dos futuros compromissos no curto e médio prazos. Contrastando com essa visão, cientistas e sociedade civil apontarão para a necessidade de se agir agora para que possamos conter o aquecimento médio do planeta dentro do limite de 2ºC ainda neste século, necessidade reafirmada pelo mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
Bruno Toledo (post originalmente publicado no Blog do Observatório do Clima)