Uma política de combate efetivo ao desmatamento na Amazônia só vai funcionar quando houver estímulos positivos para toda a cadeia. Segundo o cientista Antônio Donato Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é preciso aproveitar a experiência de projetos bem-sucedidos, como o Y Ikatu Xingu e o Cultivando Água Boa, para criar uma estratégia que funcione por capilaridade e que inclua reflorestamento. Soluções ele garante que há.
O mérito dos projetos citados acima é envolver vários atores, trabalhar conscientização ambiental e proporcionar ganhos financeiros efetivos por meio dos recursos florestais. Articulando parcerias, o Y Ikatu Xingu consegue proteger a bacia do Rio Xingu e ao mesmo tempo gerar renda para agricultores familiares e comunidades indígenas. Já o Cultivando Água Boa conta com 2 mil parceiros de variadas instâncias para proteger a biodiversidade e a Bacia Hidrográfica do Paraná.
Segundo Nobre, uma das frentes de ação seria ajudar os pecuaristas a serem mais produtivos com menos terras, abrindo espaço para áreas de restauração florestal. Isso implicaria em tecnologias de uso inteligente da paisagem, semelhantes à agricultura de precisão, porém mais acessíveis e com diagnósticos exibidos no Google Earth.
Paulo Groke, diretor de sustentabilidade do Instituto Ecofuturo – que desenvolve projetos de manejo e recuperação da fauna e flora em regiões da mata atlântica e da floreta amazônica – chama atenção para as oportunidades de aproveitamento das Unidades de Conservação no País, hoje bastante abandonadas, mas que poderiam trazer ganhos para proprietários e comunidades. Há áreas de reserva legal que permitem aliar o plantio do bioma local a outro que gere rendimentos financeiros, com a comercialização da madeira ou de frutas, o que abateria os custos do produtor com a conservação e os incentivaria a conservar.
Outro fator que estimularia a adesão aos projetos de revegetação é mostrar que em muitos casos a recuperação pode ser mais barata e simples do que se imagina, se contar com a resposta da própria natureza. “É um erro achar que 100% das terras desmatadas têm de ser replantadas por um método mais intensivo. Às vezes, proteger a área com a simples colocação de cercas e a ausência de gado já é suficiente”, afirma.
Por que aumentar os esforços atuais
De fato, a natureza é habilidosa em compensar os impactos externos para manter o equilíbrio entre vegetação e clima, mas desde que a floresta esteja em pé. Nos últimos 40 anos, o desmatamento por corte raso atingiu 20% da cobertura florestal. Projetando-se o mesmo desempenho para os próximos 40 anos, chegaríamos num limiar que preocupa os cientistas.
Estudos indicam que a remoção de aproximadamente 40% da floresta pode mudar seu ponto de equilíbrio, levando a um cenário mais seco que acabaria liquidando até mesmo as florestas que não tenham sido desmatadas. Isso sem contar os efeitos da degradação ambiental, a qual se estima já ter afetado 20% da cobertura original, o que fatalmente vai acelerar o processo. “Estamos na UTI climática”, disse Nobre, ao apresentar o estudo Futuro Climático da Amazônia”, em novembro, desenvolvido após a análise de mais de 200 estudos científicos sobre o clima.
No documento, Nobre conclui que para reverter o prognóstico é urgente adotar ações mais efetivas de combate ao desmatamento e de estímulo ao reflorestamento, e lamenta a demora no financiamento de projetos alternativos, a desatenção à soluções inovadoras de valorização econômica da floresta, entre outros entraves (veja a íntegra do estudo no site do Inpe).
Em outra ponta, Fabiola Zerbini, diretora-executiva da Forest Stewardship Council (FSC) ressalta a necessidade de estímulo do governo ao mercado legal. “A madeira manejada da região precisa de um mercado que a valorize. Hoje, ele não existe”, diz.
Segundo ela, apenas 1,3 milhão de hectares de floresta amazônica têm madeira certificada, isso corresponde a apenas 16 empresas que valorizam os recursos locais (fauna, flora, mão de obra e desenvolvimento local). Mas os custos desses cuidados elevam o preço da madeira, afastando compradores e, por consequência, novos interessados no manejo, criando um círculo vicioso. “Enquanto a certificação é crescente nas florestas plantadas (66% delas são certificadas), na tropical o processo é estacionado, para não dizer involutivo”, lamenta a diretora.
No que diz respeito à conscientização, antes de chegar ao consumidor final, passa pelas grandes compradoras ̶ empresas da construção civil e do setor moveleiro ̶ , na avaliação de Fabíola. Elas teriam um grande papel indutor de mudança e poderiam assumi-lo estabelecendo uma política rigorosa de rastreamento da origem da madeira.
MUNDO AFORA
Oceano sem plástico
Boyan Slat tinha 16 anos quando viu plásticos no mar durante um mergulho e pensou “Por que não podemos mudar isso?” A partir daí, desenvolveu uma tecnologia mais rápida e barata que as convencionais, aprovada por cientistas e engenheiros em 2014. Ele conta essa história no TEDx. Para apoiar financeiramente o projeto, acesse.
Urbe selvagem
Quando for inaugurado, em 2018, o Zaryadye Park será o novo marco de Moscou. Desenvolvido sob o conceito de Wild Urbanism, no qual pessoas e plantas compartilham o espaço tendo igual importância, o parque recriará quatro ecossistemas russos usando tecnologias que regulam a temperatura, controlam ventos e simulam a luz natural. Veja o vídeo do projeto.
VALE O CLICK
DEU NA TELHA
Telhados de casas no Complexo do Alemão serviram de suporte para obras de arte do projeto Deu na Telha, da Kibon. Workshops mobilizaram a comunidade para debates enquanto as telas eram pintadas. O resultado foi uma exposição vista do teleférico que atravessa o Complexo e um documentário de 20 minutos que retrata a experiência. Assista.
MEU MUNICÍPIO
O meumunicipio.org.br é um site criado para facilitar o acesso de gestores públicos e de todo e qualquer cidadão interessado em pesquisar as receitas e despesas dos municípios brasileiros. Gastos com educação, IPTU, endividamento, a capacidade do município de poupar e outras informações estão disponíveis para busca rápida e gratuita. Também dá para fazer comparações e cruzamento de dados.
GENTILEZAS URBANAS
Por meio deste projeto, empresas e pessoas interessadas em fazer gentilezas identificam os lugares da cidade que precisam de melhorias e escolhem um deles para adotar. Pode ser cuidar de uma árvore, de um viaduto, apoiar a criação de um parklet ou uma peça de teatro no local. A iniciativa é do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP). Escolha a sua gentileza em gentilezasurbanas.org.br.[:en]
Uma política de combate efetivo ao desmatamento na Amazônia só vai funcionar quando houver estímulos positivos para toda a cadeia. Segundo o cientista Antônio Donato Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é preciso aproveitar a experiência de projetos bem-sucedidos, como o Y Ikatu Xingu e o Cultivando Água Boa, para criar uma estratégia que funcione por capilaridade e que inclua reflorestamento. Soluções ele garante que há.
O mérito dos projetos citados acima é envolver vários atores, trabalhar conscientização ambiental e proporcionar ganhos financeiros efetivos por meio dos recursos florestais. Articulando parcerias, o Y Ikatu Xingu consegue proteger a bacia do Rio Xingu e ao mesmo tempo gerar renda para agricultores familiares e comunidades indígenas. Já o Cultivando Água Boa conta com 2 mil parceiros de variadas instâncias para proteger a biodiversidade e a Bacia Hidrográfica do Paraná.
Segundo Nobre, uma das frentes de ação seria ajudar os pecuaristas a serem mais produtivos com menos terras, abrindo espaço para áreas de restauração florestal. Isso implicaria em tecnologias de uso inteligente da paisagem, semelhantes à agricultura de precisão, porém mais acessíveis e com diagnósticos exibidos no Google Earth.
Paulo Groke, diretor de sustentabilidade do Instituto Ecofuturo – que desenvolve projetos de manejo e recuperação da fauna e flora em regiões da mata atlântica e da floreta amazônica – chama atenção para as oportunidades de aproveitamento das Unidades de Conservação no País, hoje bastante abandonadas, mas que poderiam trazer ganhos para proprietários e comunidades. Há áreas de reserva legal que permitem aliar o plantio do bioma local a outro que gere rendimentos financeiros, com a comercialização da madeira ou de frutas, o que abateria os custos do produtor com a conservação e os incentivaria a conservar.
Outro fator que estimularia a adesão aos projetos de revegetação é mostrar que em muitos casos a recuperação pode ser mais barata e simples do que se imagina, se contar com a resposta da própria natureza. “É um erro achar que 100% das terras desmatadas têm de ser replantadas por um método mais intensivo. Às vezes, proteger a área com a simples colocação de cercas e a ausência de gado já é suficiente”, afirma.
Por que aumentar os esforços atuais
De fato, a natureza é habilidosa em compensar os impactos externos para manter o equilíbrio entre vegetação e clima, mas desde que a floresta esteja em pé. Nos últimos 40 anos, o desmatamento por corte raso atingiu 20% da cobertura florestal. Projetando-se o mesmo desempenho para os próximos 40 anos, chegaríamos num limiar que preocupa os cientistas.
Estudos indicam que a remoção de aproximadamente 40% da floresta pode mudar seu ponto de equilíbrio, levando a um cenário mais seco que acabaria liquidando até mesmo as florestas que não tenham sido desmatadas. Isso sem contar os efeitos da degradação ambiental, a qual se estima já ter afetado 20% da cobertura original, o que fatalmente vai acelerar o processo. “Estamos na UTI climática”, disse Nobre, ao apresentar o estudo Futuro Climático da Amazônia”, em novembro, desenvolvido após a análise de mais de 200 estudos científicos sobre o clima.
No documento, Nobre conclui que para reverter o prognóstico é urgente adotar ações mais efetivas de combate ao desmatamento e de estímulo ao reflorestamento, e lamenta a demora no financiamento de projetos alternativos, a desatenção à soluções inovadoras de valorização econômica da floresta, entre outros entraves (veja a íntegra do estudo no site do Inpe).
Em outra ponta, Fabiola Zerbini, diretora-executiva da Forest Stewardship Council (FSC) ressalta a necessidade de estímulo do governo ao mercado legal. “A madeira manejada da região precisa de um mercado que a valorize. Hoje, ele não existe”, diz.
Segundo ela, apenas 1,3 milhão de hectares de floresta amazônica têm madeira certificada, isso corresponde a apenas 16 empresas que valorizam os recursos locais (fauna, flora, mão de obra e desenvolvimento local). Mas os custos desses cuidados elevam o preço da madeira, afastando compradores e, por consequência, novos interessados no manejo, criando um círculo vicioso. “Enquanto a certificação é crescente nas florestas plantadas (66% delas são certificadas), na tropical o processo é estacionado, para não dizer involutivo”, lamenta a diretora.
No que diz respeito à conscientização, antes de chegar ao consumidor final, passa pelas grandes compradoras ̶ empresas da construção civil e do setor moveleiro ̶ , na avaliação de Fabíola. Elas teriam um grande papel indutor de mudança e poderiam assumi-lo estabelecendo uma política rigorosa de rastreamento da origem da madeira.
MUNDO AFORA
Oceano sem plástico
Boyan Slat tinha 16 anos quando viu plásticos no mar durante um mergulho e pensou “Por que não podemos mudar isso?” A partir daí, desenvolveu uma tecnologia mais rápida e barata que as convencionais, aprovada por cientistas e engenheiros em 2014. Ele conta essa história no TEDx. Para apoiar financeiramente o projeto, acesse.
Urbe selvagem
Quando for inaugurado, em 2018, o Zaryadye Park será o novo marco de Moscou. Desenvolvido sob o conceito de Wild Urbanism, no qual pessoas e plantas compartilham o espaço tendo igual importância, o parque recriará quatro ecossistemas russos usando tecnologias que regulam a temperatura, controlam ventos e simulam a luz natural. Veja o vídeo do projeto.
VALE O CLICK
DEU NA TELHA
Telhados de casas no Complexo do Alemão serviram de suporte para obras de arte do projeto Deu na Telha, da Kibon. Workshops mobilizaram a comunidade para debates enquanto as telas eram pintadas. O resultado foi uma exposição vista do teleférico que atravessa o Complexo e um documentário de 20 minutos que retrata a experiência. Assista.
MEU MUNICÍPIO
O meumunicipio.org.br é um site criado para facilitar o acesso de gestores públicos e de todo e qualquer cidadão interessado em pesquisar as receitas e despesas dos municípios brasileiros. Gastos com educação, IPTU, endividamento, a capacidade do município de poupar e outras informações estão disponíveis para busca rápida e gratuita. Também dá para fazer comparações e cruzamento de dados.
GENTILEZAS URBANAS
Por meio deste projeto, empresas e pessoas interessadas em fazer gentilezas identificam os lugares da cidade que precisam de melhorias e escolhem um deles para adotar. Pode ser cuidar de uma árvore, de um viaduto, apoiar a criação de um parklet ou uma peça de teatro no local. A iniciativa é do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP). Escolha a sua gentileza em gentilezasurbanas.org.br.