Substâncias de difícil decomposição que ingerimos ou descartamos acabam contaminando o ambiente
Nunca se consumiram tantos medicamentos como hoje. E toda essa química que entra no organismo – para o bem ou para o mal da saúde – acaba no ambiente. Além disso, o descarte incorreto de remédios (no lixo doméstico, em vasos sanitários, pias), com substâncias de difícil decomposição, ameaça a qualidade da água, podendo contaminar o solo, a fauna e a flora, alerta o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Ney Maranhão.
O último balanço do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), com dados da consultoria IMS Health, mostra que, no acumulado em 12 meses até setembro, as vendas no Brasil, por meio de farmácias, somaram R$ 63,5 bilhões – o maior valor desde 2003 –, ante R$ 58 bilhões em 2013. A expectativa é que alcancem R$ 66,3 bilhões em 2014, acrescidos de outros R$ 15 bilhões de vendas para governos e hospitais.
Ao menos três fatores têm sustentado esse negócio lucrativo: o aumento do poder de compra, o envelhecimento da população e a forte expansão das redes de drogarias. O número de pessoas acima de 60 anos – principal grupo consumidor de medicamentos – passou de 14,2 milhões em 2000 para 22,1 milhões em 2013, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cujas projeções apontam para um contingente de 29,3 milhões de idosos em 2020 e de 66,5 milhões até 2050.
Segundo informações veiculadas na revista eletrônica Com Ciência, ligada à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o uso de antidepressivos e reguladores de humor está entre os cinco principais responsáveis pela alta no faturamento das companhias brasileiras (leia mais).
O consumo elevado de remédios decorre ainda de uma prática tão antiga quanto desaconselhável: a automedicação, ou seja, a venda e compra sem receita médica. Os motivos são de difícil mensuração. O fato é que as propagandas massivas de certos medicamentos destoam das tímidas campanhas voltadas para esclarecer os perigos do hábito desses “pacientes”, alerta a Associação Médica Brasileira.
“É preciso usar o medicamento na dose e no tempo certos. Em casos de insônia ou depressão, por exemplo, que se tome o menos possível, procurando melhorar os hábitos de vida, ao lado da família e dos amigos”, aconselha Anthony Wong, diretor-médico do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas (Ceatox) e assessor da Organização Mundial da Saúde em segurança de medicamentos.
O FATOR LOGÍSTICO
O descarte ambientalmente correto de tanta química é previsto pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei federal nº 12.305/10. O objetivo é garantir a destinação adequada de medicamentos e suas embalagens pós-consumo, por meio de um acordo setorial entre o poder público e o setor, tendo em vista a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida desses produtos. Mas a indústria farmacêutica ainda não concluiu um acordo com regras específicas para colocar esse procedimento em prática. O prazo para a entrega de propostas pelos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes expirou em abril de 2014.
O Grupo Pão de Açúcar e a Eurofarma mantêm desde 2011 o programa Descarte Correto de Medicamentos. Os itens coletados nas lojas seguem para o Departamento de Limpeza Urbana (Limpurb), que faz a destinação final ambientalmente correta das substâncias. Para saber mais,acesse.