Estimativas recentes apontam que as indústrias poderão economizar US$ 100 bilhões até 2020 graças à adoção de tecnologias de produção baseadas nos princípios da química verde
Durante décadas, o processo de fabricação do ibuprofeno, princípio ativo de analgésicos e anti-inflamatórios muito difundidos, era um desastre do ponto de vista ambiental. Incluía seis etapas e exigia a utilização de tetracloreto de carbono, um solvente tóxico que pode comprometer o fígado, os rins e o sistema nervoso. Além disso, a produção global de ibuprofeno, que na época ficava na faixa de 14 mil toneladas, gerava 18 mil toneladas de resíduos diversos. Isso ampliava muito os custos e riscos do processo industrial.
Mas esse ônus foi dramaticamente reduzido no início dos anos 1990, quando a BHC, empresa que hoje pertence à Basf, desenvolveu um modelo de síntese alternativo, muito mais simples e limpo. O número de etapas caiu à metade – e isso cortou o tempo e a energia necessários – , o solvente tóxico deixou de ser utilizado, e as fabricantes passaram a reaproveitar a quase totalidade dos subprodutos que antes iam para o aterro. Com isso, o desperdício de reagentes foi reduzido a menos de 10%.
O caso do ibuprofeno costuma ser usado para ilustrar os desafios e oportunidades da Química Verde, disciplina que visa desenvolver produtos e processos que reduzam ou eliminem a utilização ou a geração de substâncias perigosas. O conceito [1] começou a ganhar impulso nos últimos anos devido à pressão dos órgãos fiscalizadores e, sobretudo, às vantagens financeiras para as indústrias químicas e farmacêuticas.
[1] Conheça definições e princípios da química verde aqui
“Ao longo dos últimos 20 anos, a Química Verde vem demonstrando que você não precisa comprometer o desempenho [das sínteses]”, diz Paul Anastas, diretor do Centro de Química Verde e Engenharia Verde do Departamento de Química da Universidade Yale, em entrevista recente. Considerado o pai desse conceito, ele pondera que a obtenção de salvaguardas de que uma dada tecnologia é realmente segura não compromete uma performance excepcional.
Um estudo de 2011, da Pike Research, empresa americana de consultoria e pesquisa de mercado, corrobora a visão de Anastas. Ele estimou que as indústrias economizariam cerca de US$ 65,5 bilhões até 2020 graças à adoção de tecnologias de produção baseadas nos princípios da Química Verde. Os ganhos foram calculados com base na progressiva substituição do petróleo por princípios ativos extraídos de produtos agropecuários, com menor pegada ecológica, e nos riscos evitados. Recentemente, novos cálculos elevaram a estimativa de ganhos para US$ 100 bilhões (mais sobre negócios em química verde).
A BHC, que desenvolveu a via limpa de produção do ibuprofeno, foi uma das primeiras empresas a receber o Presidential Green Chemistry Challenge Award, prêmio concedido anualmente pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, a EPA, para aqueles que desenvolvem processos químicos capazes de reduzir a poluição na fonte. Ele destaca indústrias e cientistas dedicados, por exemplo, à substituição do petróleo como matéria-prima, à produção de embalagens biodegradáveis, ou ao uso de solventes de base aquosa.
A lista de contemplados da sua última edição, divulgada em outubro, mostra que essas práticas estão amplamente disseminadas em todo o espectro da indústria. Entre as companhias escolhidas este ano, destaca-se a Solazyme, empresa de biotecnologia que utiliza microalgas transgênicas e açúcar para produzir óleos e combustíveis limpos.
Esse mesmo filão é explorado pela vencedora da categoria de pequenas empresas, a californiana Amyris, que “engenheirou” um fermento capaz de produzir uma alternativa ao óleo diesel. Seus produtos podem ser usados em caminhões, ônibus e aviões e têm capacidade de reduzir em até 82% as emissões de gases-estufa desses veículos.
O prêmio também foi entregue à Solberg, que desenvolveu uma espuma concentrada para combate a incêndios que dispensa as substâncias persistentes, tóxicas e bioacumulativas utilizadas nos extintores convencionais; e à QD Vision, que concebeu um processo de produção de lâmpadas LED e telas de televisões e eletrônicos de baixo consumo de eletricidade.
A EPA estima que a adoção das 98 tecnologias contempladas ao longo de 19 anos do prêmio foi responsável pela redução da geração de mais de 375 mil toneladas de substâncias químicas tóxicas, o que representou uma economia de 79,5 milhões de metros cúbicos de água e a eliminação de 3,5 milhões de toneladas de equivalente de dióxido de carbono da atmosfera.
*Jornalista especializada em meio ambiente, escreve para o blog De Lá Pra Cá
[:en]
Estimativas recentes apontam que as indústrias poderão economizar US$ 100 bilhões até 2020 graças à adoção de tecnologias de produção baseadas nos princípios da química verde
Durante décadas, o processo de fabricação do ibuprofeno, princípio ativo de analgésicos e anti-inflamatórios muito difundidos, era um desastre do ponto de vista ambiental. Incluía seis etapas e exigia a utilização de tetracloreto de carbono, um solvente tóxico que pode comprometer o fígado, os rins e o sistema nervoso. Além disso, a produção global de ibuprofeno, que na época ficava na faixa de 14 mil toneladas, gerava 18 mil toneladas de resíduos diversos. Isso ampliava muito os custos e riscos do processo industrial.
Mas esse ônus foi dramaticamente reduzido no início dos anos 1990, quando a BHC, empresa que hoje pertence à Basf, desenvolveu um modelo de síntese alternativo, muito mais simples e limpo. O número de etapas caiu à metade – e isso cortou o tempo e a energia necessários – , o solvente tóxico deixou de ser utilizado, e as fabricantes passaram a reaproveitar a quase totalidade dos subprodutos que antes iam para o aterro. Com isso, o desperdício de reagentes foi reduzido a menos de 10%.
O caso do ibuprofeno costuma ser usado para ilustrar os desafios e oportunidades da Química Verde, disciplina que visa desenvolver produtos e processos que reduzam ou eliminem a utilização ou a geração de substâncias perigosas. O conceito [1] começou a ganhar impulso nos últimos anos devido à pressão dos órgãos fiscalizadores e, sobretudo, às vantagens financeiras para as indústrias químicas e farmacêuticas.
[1] Conheça definições e princípios da química verde aqui
“Ao longo dos últimos 20 anos, a Química Verde vem demonstrando que você não precisa comprometer o desempenho [das sínteses]”, diz Paul Anastas, diretor do Centro de Química Verde e Engenharia Verde do Departamento de Química da Universidade Yale, em entrevista recente. Considerado o pai desse conceito, ele pondera que a obtenção de salvaguardas de que uma dada tecnologia é realmente segura não compromete uma performance excepcional.
Um estudo de 2011, da Pike Research, empresa americana de consultoria e pesquisa de mercado, corrobora a visão de Anastas. Ele estimou que as indústrias economizariam cerca de US$ 65,5 bilhões até 2020 graças à adoção de tecnologias de produção baseadas nos princípios da Química Verde. Os ganhos foram calculados com base na progressiva substituição do petróleo por princípios ativos extraídos de produtos agropecuários, com menor pegada ecológica, e nos riscos evitados. Recentemente, novos cálculos elevaram a estimativa de ganhos para US$ 100 bilhões (mais sobre negócios em química verde).
A BHC, que desenvolveu a via limpa de produção do ibuprofeno, foi uma das primeiras empresas a receber o Presidential Green Chemistry Challenge Award, prêmio concedido anualmente pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, a EPA, para aqueles que desenvolvem processos químicos capazes de reduzir a poluição na fonte. Ele destaca indústrias e cientistas dedicados, por exemplo, à substituição do petróleo como matéria-prima, à produção de embalagens biodegradáveis, ou ao uso de solventes de base aquosa.
A lista de contemplados da sua última edição, divulgada em outubro, mostra que essas práticas estão amplamente disseminadas em todo o espectro da indústria. Entre as companhias escolhidas este ano, destaca-se a Solazyme, empresa de biotecnologia que utiliza microalgas transgênicas e açúcar para produzir óleos e combustíveis limpos.
Esse mesmo filão é explorado pela vencedora da categoria de pequenas empresas, a californiana Amyris, que “engenheirou” um fermento capaz de produzir uma alternativa ao óleo diesel. Seus produtos podem ser usados em caminhões, ônibus e aviões e têm capacidade de reduzir em até 82% as emissões de gases-estufa desses veículos.
O prêmio também foi entregue à Solberg, que desenvolveu uma espuma concentrada para combate a incêndios que dispensa as substâncias persistentes, tóxicas e bioacumulativas utilizadas nos extintores convencionais; e à QD Vision, que concebeu um processo de produção de lâmpadas LED e telas de televisões e eletrônicos de baixo consumo de eletricidade.
A EPA estima que a adoção das 98 tecnologias contempladas ao longo de 19 anos do prêmio foi responsável pela redução da geração de mais de 375 mil toneladas de substâncias químicas tóxicas, o que representou uma economia de 79,5 milhões de metros cúbicos de água e a eliminação de 3,5 milhões de toneladas de equivalente de dióxido de carbono da atmosfera.
*Jornalista especializada em meio ambiente, escreve para o blog De Lá Pra Cá